Correio da Bahia

Símbolos permanecem na Catedral Basílica

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Se a Escola do Bem Morrer desaparece­u junto com os jesuítas, os símbolos da morte ficaram espalhados pela Catedral, a igreja mãe de todas as outras de Salvador, inaugurada em 1672. A exaltação à morte surge na fachada da Basílica. “Olhe para cima”, provoca Luciana Onety. Lá está: São Francisco Borja com uma caveira na mão. “É o primeiro vestígio da morte na igreja? O que significa?”, pergunta a reportagem. “É um desafio, ele desafia a olhar a morte”, explica Luciana. Os turistas passeiam sem levantar os olhos para os sinais, sem seguir o desafio.

É o próprio São Francisco de Borja o grande guardião das palavras sobre a morte. Percebeu, numa experiênci­a catártica, a força da morte diante da arrogância dos vivos. Responsáve­l pelo transporte do cadáver da Rainha Isabel de Portugal desde Toledo, na Espanha, até Granada, percebeu como a morte estava acima de todas as coisas.

Quando viu a rainha, uma das mais belas do reino, completame­nte deformada, concluiu: “Não servirei ninguém mais senão a Deus.

Não servirei ninguém que possa ser levado pela morte”.

Mas São Francisco Borja está longe de ser o único símbolo da morte por ali. A entrada na Catedral é logo seguida por outras referência­s à reta final da vida. Dos lados esquerdo e direito, há dois altares colaterais que trazem 30 mártires da Igreja – 15 mulheres de um lado, 15 homens do outro. As relíquias são os pedaços da morte.

Pouco mais à frente, o altar colateral de São Borja também relembra a morte. Novamente, ele segura uma caveira. Dessa vez, sobre um livro. “Pode ser tanto um livro de ensinament­os sobre a morte ou a Bíblia”, explica Luciana. Na sacristia, o rosto em madeira e o busto em prata de São Francisco Xavier, o padroeiro de Salvador, traz no peito uma gota de seu próprio sangue.

“Talvez nem esteja mais aí. Mas é outro sinal de como estamos cercados de referência­s à finitude da vida", afirma.

Os guias convidam os turistas a conhecerem a igreja sem qualquer menção à morte exibida nos corredores, nos altares, nos santos. A Catedral Basílica tem uma parte de sua história ignorada pelo desconheci­mento.

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Dois altares colaterais que trazem 30 mártires da Igreja

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