Correios: sede Pituba fecha
Na década de 1980, avançava pelas capitais brasileiras o plano do Ministério das Comunicações de construir agências dos Correios sob um mesmo molde, as agênciasmodelo. Chegada a hora de Salvador, em 1983, o prédio inaugurado na Pituba era um decalque de agências como a de Porto Alegre (RS).
Os engenheiros envolvidos na obra mal podiam acreditar. Conta-se que começaram a prever o futuro do prédio: “Não vai longe”. Os problemas vieram e se acumularam. Ontem, a maior e mais conhecida agência da cidade abriu pela última vez. Até março de 2019, o edifício será totalmente desativado.
O anúncio do último dia dos Correios da Pituba estava fixado na entrada da agência, inaugurada em 16 de julho de 1983 e que também é conhecida por abrigar obras de arte, como esculturas de Mário Cravo Jr. (leia abaixo). Coube aos funcionários o comunicado da despedida, por avisos diretos ou pela emoção.
Atrás de um dos balcões, Lúcio, um dos 38 funcionários, brincava: “Bora equipe, honrar esse último dia”. Ao que José Carvalho respondeu, incrédulo: “Como é? Sem sacanagem”. Mas o aposentado já desconfiava de problemas que poderiam indicar o fim, como ausência de móveis e estrutura precária.
“Vi que tinha algo de erra- do. Cheguei a comentar na época. Mas, de qualquer jeito, foi um susto... uma agência dessa fechar...”, diz. A falta reparada por ele era um dos sinais dos problemas alastrados pelo prédio de 17 andares, dos quais apenas nove estavam funcionando.
A estrutura do edifício começou a apresentar risco a colaboradores e clientes. Em novembro de 2014, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) notificou a estatal a apresentar relatório ou o laudo de vistoria técnica do imóvel. Dois anos depois, fez a interdição administrativa pela falta de recuperação de falhas elétricas e hidráulicas.
Na última visita, em 26 de setembro, técnicos da pasta identificaram que nenhuma mudança estava sendo executada. Foi quando a empresa anunciou que, até março, o prédio seria desocupado.
A decisão do fechamento, no entanto, só começou a ser anunciada oficialmente aos funcionários em outubro, conta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos do Estado da Bahia (Sincotelba), Josué Canto: “É claro que a gente fala de condições de trabalho, porque precisam ser melhores. Mas, agora, a gente nem sabe direito para onde os funcionários vão”.
As primeiras especulações de que a agência seria fechada começaram em 2016, quando parte da sede da Pituba foi transferida para um novo prédio na Via Parafuso. Mas os Correios fazem questão de frisar: os funcionários serão remanejados para outros postos, sem comprometimento trabalhista; a agência não será transferida para a Via Parafuso; e os serviços da sede poderão ser feitos nas agências da Nossa Senhora da Luz, Amaralina e Sumaré.
O fechamento da sede a partir de hoje, justificam os Correios, integra um processo de remodelagem da rede de atendimento, com substituição gradativa de unidades “deficitárias” por modelos diferenciados e mais adequados às necessidades.
No Brasil, já foram 41 agências fechadas. Na Bahia, quatro, sendo três em Salvador as outras foram na Baixa dos Sapateiros e no Aeroporto - e uma em Ilhéus. A capital passa a ter 47 agências. Agora, não há outra solução aos funcionários, senão aceitar e esperar o remanejamento.
No caso de Lúcio*, o destino já está definido: ele voltará à sede do Rio Vermelho, onde trabalhou por quatro anos, até que pediu transferência para a Pituba, mais perto de casa. “Fui diagnosticado com síndrome do pânico e me sinto mais seguro aqui”, comentou. Mas ainda há quem não saiba o destino.
Amaralina Av. Amaralina, nº 908, próximo ao Largo das Baianas. O atendimento é das 9h às 17h (com Banco Postal). Tel: (71) 3346-2298/2299
Sumaré Av. Tancredo Neves, nº 1.506, Lj. 110, Shopping Sumaré. Atendimento das 9h às 17h (com Banco Postal). Tel: (71) 3346-2317/2318
Nossa Senhora da Luz
Rua Mato Grosso, nº 8, Ed. Geo Center. Atendimento das 9h às 17h (sábado, 8h às 12h). Tel: (71) 3248-5008/3240-2366
Enquanto isso, teve cliente aproveitando para se despedir. Denivaldo Silva dos Santos, 60, saiu de Periperi e pegou dois ônibus para chegar a tempo. “Eu tinha que resolver esses problemas, por que não vir aqui? Aproveito para fazer a despedida e dar um passeio”, brinca. A rigor, não costuma ir à Pituba: “Na verdade, é a segunda vez na minha vida que eu venho aqui, eu acho...”.