Correio da Bahia

Trump. Macron e May no rabo da cobra

- JOLIVALDO FREITAS É ESCRITOR E JORNALISTA. JOLIVALDO. FREITAS@YAHOO.COM.BR

Aqui da Europa, onde me encontro batendo pernas entre Londres e Paris, a temperatur­a constante sempre baixa não esconde a fervura que caracteriz­a estes tempos na política francesa e inglesa, sob o manto dos Estados Unidos, e que vai refletir no encontro de Cúpula do G20 que está acontecend­o em Buenos Aires. A questão das tarifas alfandegár­ias tem se caracteriz­ado como uma nova “guerra mundial” e, por enquanto, quem está ganhando é a China que ainda não perdeu mercados e dificilmen­te vai perder. Além da questão tarifária de produtos e reserva de mercado, o clima é outro assunto que marca o G20.

Mas os países representa­dos entram nesse conclave numa situação tensa e nervosa, pois estão enfrentand­o graves problemas dentro das suas fronteiras e, dificilmen­te, conseguirã­o impor uma agenda positiva. Macron, na França, antes de seguir para Buenos Aires, se esquivou dos “Coletes Amarelos” que são os manifestan­tes que têm parado principalm­ente Paris, protestand­o contra o aumento nos preços dos combustíve­is. Todos os dias tem protesto e o governo de Emmanuel Macron começou a ser questionad­o. A escorregar para o Sena. O governo não reconhece a ação grevista e garante que é uma minoria agitadora. Não é o que o parisiense acha nem o ex-presidente François Hollande, que apoia os amarelinho­s.

Já a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, está na luta para não cair. Vários ministros do seu primeiro escalão renunciara­m e ela está nas mãos do Parlamento, uma vez que seu esboço de acordo para a separação britânica da União Europeia só conseguiu desagradar até quem votou na saída. É um motim. Fazem mais de dois anos que o Reino Unido votou por sair da EU e até agora ninguém sabe por aqui como é que vai ser feito. E a data para decidir a saída se aproxima: 29 de março de 2019. Temos de lembrar que May assumiu o cargo depois de forte tumulto em consequênc­ia do referendo do Brexit em 2016. Enquanto a política ferve na Europa, a economia cai que nem a temperatur­a com a libra esterlina sendo derrubada continuame­nte. May já não tem liderança e não se sabe o que vai fazer no G20.

Já Donald Trump deve dominar o cenário em Buenos Aires e sua primeira medida foi cancelar um encontro que tinha com Putin, escanteand­o a Rússia. Ele divide os holofotes com Xi Jinping. Os dois são hoje responsáve­is pela crise econômica global por causa da escalada de retaliação entre Estados Unidos e China. O mundo está estagnado por causa deles. O que se espera é que cada um jogue uma “ogiva” na cabeça do outro, pois o confronto é necessário ou, como se diz no Brasil, ou vai ou racha. Embora todos os outros países queiram e necessitem de um cessar fogo o quanto antes. Mas Trump garante que não vai recuar.

O mundo todo vive uma guerra comercial sem fim e isso é que se trata a essência da reunião do G20. Se não sair uma solução serão mais meses de quedas na economia, de conflitos políticos e muita inseguranç­a. Nas ruas, pubs e brasseries do velho continente não se fala de outra coisa. E para este dezembro já estão marcadas greves e mais greves. O pessoal do G20 que tome tenência. A Europa está fria, mas o europeu anda com o diabo no corpo.

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