‘Mulas’ transportam de 40 a 50 cápsulas para Europa
A PF investigará o envolvimento de Gigante no tráfico internacional de mulheres e numa rede de prostituição com base no relato de moradores da Ladeira dos Aflitos, onde ele mora, no 3º andar do Edifício Gabriel Soares, há mais de 20 anos. O CORREIO esteve no local ontem.
Um morador antigo disse que quem não conhece bem acredita que Lelio vive de aluguéis e do comércio de ouro. “Mas, para quem já vive aqui há anos, como eu e os vizinhos dele, sabemos de um outro Italiano, como ele é conhecido aqui. Ele mantém uma relação constante com prostitutas da Barra, tira foto delas. Com um catálogo, vai mostrando as imagens para outros italianos. Quando não agencia os programas aqui, manda elas para a Itália. Ele consegue tudo, inclusive os passaportes”, contou o morador, sem se identificar.
Segundo ele, não tem muito tempo que uma jovem foi mandada para a Itália. “Isso não tem seis meses. A menina iria junto com a irmã, que às vésperas optou por continuar fazendo programa na Barra. Essa que ficou acabou se tornando usuária de crack e vinha aqui na porta da casa dele, com outras prostitutas, cobrar o dinheiro dos programas que ele agenciava. Quem o conhecia bem, já esperava pela prisão dele”, relatou.
Outro morador disse que era comum a confusão de prostitutas na frente ao prédio: “Elas exigiam o pagamento do dinheiro. Ele nem descia. Da janela do terceiro andar, ele joga o dinheiro embrulhado no papel. Teve um dia que uma jovem veio sozinha. Ela estava drogada e muito nervosa. Ele disse que não tinha e ela conseguiu danificar o portão do prédio. Foi quando ele desceu e saiu. Pouco depois, retornou com o dinheiro dela. Essa moça nunca mais foi vista”.
Desde que foi preso, há quatro dias, Lelio Paolo Gigante está no Centro de Observação Penal, no Complexo da Mata Escura. Segundo o Tribunal de Justiça da Bahia, ele não foi encaminhado para audiência de custódia. A Secretaria de Admnistração Penitenciária e Ressocialização (Seap) disse que não pode informar se ele foi visitado por algum advogado. A defesa dele não foi localizada. Segundo o delegado Fábio Marques, da Delegacia de Repressão ao Tráfico de Entorpecentes (DRE) da Polícia Federal (PF), jovens desempregados são os que se encaixam no perfil das ‘mulas’, que embarcam de Salvador para transportar cocaína para Europa.
“As mulas se arriscam para ganhar entre R$ 5 mil e R$ 6 mil ou até mais para fazer o transporte. Eles procuram alguém que já fez com sucesso (transporte). A pessoa precisa não ter antecedentes criminais para tirar o passaporte”, conta Marques.
Geralmente, a mula não conhece o traficante e é hospedada em um hotel um dia antes da viagem por uma pessoa intermediária, que leva a droga numa mala.
“A mula recebe um líquido, como se fosse vaselina, para facilitar a ingestão das cápsulas, uma média entre 40 e 50, mas já tivemos caso de 100 cápsulas. Quanto maior a quantidade, maior é a remuneração”, explica.
Os voos que as mulas usam partem na madrugada e as passagens são compradas um dia antes, com pagamento feito à vista. “O que nos chama a atenção, pois passagens compradas na véspera ou até no dia são caras e nunca pagas no cartão de crédito ou débito, para evitar o rastreamento”, disse o delegado.
A mula normalmente chega ao Aeroporto de Salvador de táxi ou motorista de aplicativo já na hora do embarque. “Alguns traficantes vão ao aeroporto só para confirmar se houve o embarque, muitas vezes sem o conhecimento da própria mula”, pontua.
A ingestão é a forma mais comum de atuação das mulas, mas existem também outras alternativas. “Levam também escondidas nas roupas ou nas malas. Tem até cocaína diluída em produtos. Mas o método da ingestão é o mais usado e o mais arriscado. Tivemos casos de mortes porque as cápsulas estouraram e a pessoa tem caso de overdose”, declara o delegado.