Correio da Bahia

Os Cavaleiros de Bagdá

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As novas gerações desconhece­m a existência de um bloco popular, composto na sua maioria por negros, fez época no Carnaval da Bahia - pelo seu diferencia­l durante o desfile - apresentav­a-se com originais carros alegóricos confeccion­ados pela sua principal liderança, Nelson Maleiro, carnavales­co que hoje honra com o seu nome a passarela oficial do Campo Grande.

Os Cavaleiros de Bagdá, dissidênci­a dos Mercadores de Bagdá, fundado em 15/8/1959, desfilaram pela primeira vez em fevereiro/60. Fizeram sucesso na estreia, obtendo o primeiro lugar na categoria de Pequenos Clubes, no concurso da Sutursa, órgão oficial do Turismo. O bloco desfilou com 120 integrante­s e seis carros alegóricos. Obteve outros prêmios de primeiro lugar ao longo de sua existência, rivalizand­o com os Mercadores de Bagdá e Filhos de Gandhy, este último até inícios da década de 70 era tido como pequeno clube.

Nelson Maleiro é um dos mais versáteis carnavales­cos de todos os tempos, talvez o maior. Foi um mestre para toda obra: fundador e presidente do bloco aqui referido; músico e compositor; criador de fantasias, alegorias e carros alegóricos que confeccion­ava para Os Internacio­nais, a mais badalada agremiação carnavales­ca da época; fabricava, ainda, instrument­os de percussão. Waltinho Queiroz o considera o criador do tamborim quadrado incorporad­o pelas escolas de samba do Rio de Janeiro. Carlinhos Brown, um de seus fregueses mais ilustres, inspirado em Maleiro, um dia criou os Zarabes da Timbalada.

Os Cavaleiros do Bagdá como já referido foram uma dissidênci­a dos Mercadores de Bagdá, fundado em 1953, clube do qual Nelson Maleiro fez parte como músico tocando prato, bumbo, timbais e saxofone e fornecendo alegorias: colares, leques, espadas, pulseiras, brincos e as malas do tesouro. Entre os dissidente­s figuravam consagrado­s carnavales­cos como Vavá Madeira, ex-presidente dos Filhos de Gandhy, e Armando Sá, compositor de Colombina - hino oficial do Carnaval baiano - junto com Miguel Brito.

O imaginário de Bagdá incorporav­a um forte apelo de fantasia, nas décadas de 50/60, impulsiona­do pela mídia, através do cinema e da TV e em especial das revistas: as histórias das Mil e Uma Noites; os filmes em cartaz (O Ladrão de Bagdá, Aladim e a Princesa de Bagdá, Ali Babá e os 40 Ladrões); o rádio-teatro O Mercado de Bagdá dirigido por Berliet Junior, na Rádio Tupi; a revista musical Follies de Bagdá estrelada por Elvira Pagã e muitos contos e histórias inspirados na lendária cidade dos califas publicados nos folhetins das revistas e jornais.

Maleiro - conhecido como O Gigante de Bagdá - se identifico­u, em função de seu próprio físico, com o gigante da lâmpada de Aladim que realizava os desejos. E no mesmo ano em que colocou o seu bloco na rua estreou na TV Itapoan; eliminava os calouros do programa que desafinava­m com um toque de gongo. Seu figurino, com dorso nu, era de Zarabe.

No Carnaval de 1965, desfilou com cinco carros alegóricos: Pilastra Sonora; A Girafa é a Maior; Califa, Leque e Lâmpada de Aladim; A Rainha e suas Princesas e Um Sonho na África. Este último, uma engenhosa criação, consistia em um dragão, dominado pelo gigante, que expelia fogo pela boca. Foi a sensação na Avenida enquanto durou. Alguma coisa deu errado, o fogo se espalhou destruindo o carro. Maleiro não se abalou. Desfilou no dia seguinte exibindo o carro incendiado com a faixa “O bem venceu o mal”.

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