Otto Perrone
No último dezembro Otto Perrone morreu. Nenhum aviso fúnebre, nenhuma notícia na mídia, nenhum sino dobrou para marcar a sua despedida. Apenas uma nota da ACB, frias coroas de flores da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic) e de algumas indústrias na sua cremação no Rio de Janeiro.
Silêncio no Polo Petroquímico, no governo do estado que teve os seus chefes recentes daí emergidos e na prefeitura de Camaçari enriquecida à custa da sua instalação.
Perrone foi o responsável pela coordenação industrial da instalação do Polo Petroquímico. Tudo girava em torno dele. Toda ação do governo federal, da Petrobras e dos empresários, de uma forma ou outra, passava pelas suas mãos.
Mineiro, fez pela Bahia o que poucos baianos fizeram. Como disse a seus filhos na cremação, receava que a Bahia não soubesse lhe agradecer à altura. Decisões como a do Polo, que envolve o emprego de bilhões de dólares, necessariamente têm no campo político os seus responsáveis principais. Mas de nada adianta decisões que não encontram quem lhes implemente com competência. Ele contou com o apoio de um sem números de executivos e técnicos, mas a cabeça planejadora e realizadora era a dele. Com humildade e habilidade.
Não prometeu o céu a ninguém, mas o Polo mudou a vida de muitos aqui na terra mesmo. Até início dos anos setenta, a economia baiana era conduzida pelos componentes agrícolas. Hoje ela é liderada pela petroquímica, que oferece milhares de empregos bem remunerados sendo a principal responsável pela relativa afluência da classe média metropolitana.
O Polo é projeto único no mundo. Sob sua coordenação no tempo e na hora o complexo industrial operou. Para uma comparação, cite-se o convite do governo argentino - que aliás deveria ter sido dirigido a ele - para lhes explicar como o feito foi conseguido. É que eles só conseguiram colocar o conjunto em operação em Baia Blanca dois anos após a conclusão da sua unidade central.
Em feito de menor escala geriu a transferência da CQR de Lobato, onde um vazamento de cloro atingiu milhares de pessoas, para Camaçari a um custo econômico e social mínimo. É incomum a transferência de indústrias químicas de processamento contínuo.
Foi presidente da Copene, que vem a ser a atual Braskem, da Norquisa, da Abiquim e do IBP e ainda consultor da delegação brasileira na Convenção sobre Armas Químicas que visava deter a sua fabricação.
Quando for escrita a atual história do desenvolvimento industrial do estado ele terá um lugar de destaque. A Bahia haverá de prestar-lhe as justas homenagens.
Perrone foi o responsável pela coordenação industrial da instalação do Polo Petroquímico. Tudo girava em torno dele