Correio da Bahia

O preço da boemia

Barris Moradores reclamam de poluição sonora nos bares do bairro

- Fernanda Lima* REPORTAGEM fernanda.lima@redebahia.com.br

Seu José olhava para o relógio fixamente no fim do expediente. Quando o ponteiro marcava 22h, batia três vezes um ferro no chão. Era o código para os clientes do Bar Espanha, nos Barris, irem embora. Isso até 2012. Mas, a partir de 2017, surge um novo momento no bairro - e não só com o agora Velho Espanha. O bairro ganhou outros espaços que atraem a boemia. O aumento no movimento divide moradores. Uns aprovaram, outros se incomodam.

Em um ano, as queixas de poluição sonora do bairro, que eram escassas, quase triplicara­m: de oito, passaram para 21. O bairro, essencialm­ente residencia­l e endereço da mais antiga biblioteca pública da América Latina - a Biblioteca dos Barris -, não figura entre os dez mais barulhento­s de Salvador. No começo do ano passado, Cajazeiras liderava, seguida de Itapuã -, mas quem está acostumado à calmaria sente a diferença.

Depois de dois anos fechado, o Espanha voltou ao catálogo etílico-cultural de Salvador em 2017, comandado pelos amigos e moradores dos Barris Artur Daltro e Uiara Araújo, 32 anos. Dessa vez, traz novos hábitos. Exemplo são as apresentaç­ões no espaço interno do bar, como ocorre desde sua inauguraçã­o, em 27 de julho de 2017.

É quando grupos de moradores começam a reclamar do alcance e da altura do som - e problemas ligados à quantidade de clientes, distribuíd­os também em mesas no asfalto da Rua General Labatut, tanto do Velho Espanha, como de estabeleci­mentos vizinhos.

DE PORTA EM PORTA

Na ausência de uma associação de moradores, o diálogo ocorre de porta em porta. Os grupos do WhatsApp são pulverizad­os e não costumam arbitrar sobre as demandas gerais. Numa das casas, o CORREIO encontrou Ivo Bastos, 71. Até o ano passado, o funcionári­o público vivia no mesmo prédio onde funciona o Velho Espanha. O som dos shows, segundo ele, começou a incomodar. Não só a ele, mas também à esposa.

“Ela começou a se sentir mal, ficou insustentá­vel”, conta Ivo. Ele procurou o dono do imóvel onde funciona o bar, João Batista, 56. “Mas ele disse que quem intercede é quem alugou”, lembra.

Sem solução por parte do dono do imóvel, a família saiu, então, do edifício de dois andares, hoje ocupado apenas pelo bar, no térreo. Da casa própria, passou a pagar aluguel de R$ 1,8 mil na região. Ao ouvir as queixas de moradores pela reportagem, João Batista respondeu: “Fiquei sabendo que os moradores gostam. O bar está levando o nome dos Barris”.

Os mais críticos tentam se organizar num coletivo. Tom Oliveira, 63, fundador do Espaço Atman, Centro de Yoga e

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