O preço da boemia
Barris Moradores reclamam de poluição sonora nos bares do bairro
Seu José olhava para o relógio fixamente no fim do expediente. Quando o ponteiro marcava 22h, batia três vezes um ferro no chão. Era o código para os clientes do Bar Espanha, nos Barris, irem embora. Isso até 2012. Mas, a partir de 2017, surge um novo momento no bairro - e não só com o agora Velho Espanha. O bairro ganhou outros espaços que atraem a boemia. O aumento no movimento divide moradores. Uns aprovaram, outros se incomodam.
Em um ano, as queixas de poluição sonora do bairro, que eram escassas, quase triplicaram: de oito, passaram para 21. O bairro, essencialmente residencial e endereço da mais antiga biblioteca pública da América Latina - a Biblioteca dos Barris -, não figura entre os dez mais barulhentos de Salvador. No começo do ano passado, Cajazeiras liderava, seguida de Itapuã -, mas quem está acostumado à calmaria sente a diferença.
Depois de dois anos fechado, o Espanha voltou ao catálogo etílico-cultural de Salvador em 2017, comandado pelos amigos e moradores dos Barris Artur Daltro e Uiara Araújo, 32 anos. Dessa vez, traz novos hábitos. Exemplo são as apresentações no espaço interno do bar, como ocorre desde sua inauguração, em 27 de julho de 2017.
É quando grupos de moradores começam a reclamar do alcance e da altura do som - e problemas ligados à quantidade de clientes, distribuídos também em mesas no asfalto da Rua General Labatut, tanto do Velho Espanha, como de estabelecimentos vizinhos.
DE PORTA EM PORTA
Na ausência de uma associação de moradores, o diálogo ocorre de porta em porta. Os grupos do WhatsApp são pulverizados e não costumam arbitrar sobre as demandas gerais. Numa das casas, o CORREIO encontrou Ivo Bastos, 71. Até o ano passado, o funcionário público vivia no mesmo prédio onde funciona o Velho Espanha. O som dos shows, segundo ele, começou a incomodar. Não só a ele, mas também à esposa.
“Ela começou a se sentir mal, ficou insustentável”, conta Ivo. Ele procurou o dono do imóvel onde funciona o bar, João Batista, 56. “Mas ele disse que quem intercede é quem alugou”, lembra.
Sem solução por parte do dono do imóvel, a família saiu, então, do edifício de dois andares, hoje ocupado apenas pelo bar, no térreo. Da casa própria, passou a pagar aluguel de R$ 1,8 mil na região. Ao ouvir as queixas de moradores pela reportagem, João Batista respondeu: “Fiquei sabendo que os moradores gostam. O bar está levando o nome dos Barris”.
Os mais críticos tentam se organizar num coletivo. Tom Oliveira, 63, fundador do Espaço Atman, Centro de Yoga e