Em menos de 15 dias, capital tem 1,6 mil queixas
do bar começam, geralmente, às 20h, e terminam às 22h. O horário faz parte de um acordo firmado entre o próprio Tom e administração do Velho Espanha.
“Tem que ver o outro lado. Há quatro meses, coloquei o apartamento à venda porque, mesmo na sala [cômodo virado para o lado inverso ao do bar] é essa agoniação”, compartilha a oficial de Justiça Deusimari Bessa, 52.
Antes da abertura, os proprietários Artur e Uiara garantem: conversaram com os moradores sobre como tornar o bar sustentável para os Barris, onde moram desde 1997. Nos primeiros meses, fizeram um projeto de isolamento acústico nas janelas do fundo e participaram de ao menos cinco reuniões com a comunidade. Mas, parece ter faltado adesão - os encontros foram quase sempre vazios.
“Tudo é feito legalmente. O Espanha é muito mais bem visto do que malvisto. Trazemos músicos do bairro para cá, um som mais orgânico. Movimentamos o lugar. No dia da inauguração, esgotamos as cervejas de todos os bares da rua”, conta Artur.
VIZINHANÇA
As queixas de incômodo do som não se resumem apenas ao bar centenário, que foi reestruturado há dois anos. Ao lado do Espanha, o Bar do Everaldo é o outro grande aglutinador de público na General Labatut.
Quando a cerveja faz efeito, a rua começa a ser feita de banheiro a céu aberto. O fedor de urina paira no ar, como percebeu a reportagem numa visita ao bairro numa sexta-feira, antes do pico da movimentação, entre 19h e 23h.
“É uma coisa que não podemos controlar. Colocamos um funcionário na rua do lado, pedimos banheiros químicos em eventos maiores...”, defende Artur.
Os responsáveis pelo Espanha citam, inclusive, o espaço vizinho. “Eu já até varri lixo dele na manhã seguinte. Mas a gente não consegue tomar conta da vizinhaça”, diz Uiara. Procurado, Everaldo não atendeu às chamadas. Como o fedor e a sujeira não esperam, seja quem for o responsável, Edson Balbino, o Caju, 62, dono de um sebo em frente à Biblioteca Central há 25 anos, decidiu proteger, por conta própria, seus livros.
“Acho que gasto R$ 50 por semana para limpar. Isso só vai melhorar quando as coisas começarem a ser organizadas. Todo dia eu vejo a agonia que fica”, calcula. A Limpurb diz lavar, varrer e recolher lixo do local diariamente, entre 22h e 23h. A busca pelo silêncio orbita em diversos bairros de Salvador. Nos 13 primeiros dias do ano, o disque-denúncia de Semop tocou mais de 128 vezes por dia – foram 1.671 denúncias durante o período, diz o órgão - duas nos Barris.
De 2016 a 2018, a Semop até verificou uma redução na quantidade de queixas: as 60,9 mil denúncias caíram para 41 mil. De 166 por dia foram para 112. No Parque do Abaeté, em Itapuã, bairro mais barulhento de Salvador por dois anos seguidos, o barulho não dá trégua de sexta a domingo.
“Conversar não existe. Um ‘tum, tum’ que não para. A gente ainda fica doida”, repete Luciana de Santos, 38. Os agentes da Semop são acompanhados pela polícia em ações. Existe um limite legal para o volume do som: das 22h às 7h, o máximo é de 60 decibéis. Caso não seja cumprido, a multa varia de R$ 1 mil a R$ 173 mil, conforme a infração. Pode haver embargo e interdição.
“Quem tem que investir no isolamento é o bar, a boate. Ouve quem quer ouvir. É um respeito e mesmo um dever, porque o silêncio é um direito”, diz Débora Barretto, especialista em acústica.