Correio da Bahia

Brasil e México retomam acordo de livre comércio

- Miriam

VEÍCULOS LEVES O governo brasileiro anunciou ontem que entrou em vigor livre comércio para automóveis leves entre Brasil e México. O comércio bilateral automotivo passa a ocorrer livremente, sem a cobrança de tarifas ou limitação quantitati­va. A medida está prevista no Acordo de Complement­ação Econômica, que regula o comércio automotivo e a integração produtiva entre os dois países desde 2002.

O fim do regime de cotas para veículos leves estava previsto desde 2015. Agora o comércio bilateral de automóveis passa a ocorrer livremente, O Brasil fez concessões concretas e recebeu apenas promessas na visita do presidente Jair Bolsonaro a Washington. É isso que se conclui da leitura do Comunicado Conjunto. Há muito a perder no comércio externo, abrindo mão das vantagens que países em desenvolvi­mento têm dentro da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC). Em troca, o que o Brasil recebe? Um aviso de que os Estados Unidos apoiarão o nosso esforço de entrar na OCDE, cuja grande vantagem é meramente abstrata.

A OCDE é um grande centro de negociação. Algumas questões passam por lá antes de irem para outros órgãos. É também um centro de orientação de políticas públicas. Mas hoje o Brasil tem tido a assistênci­a da organizaçã­o na qualificaç­ão de algumas dessas políticas. Estar na organizaçã­o é bom, mas não é o mesmo que entrar na liga dos campeões, como disse o ministro da Economia. Uma indicação de que os Estados Unidos apoiarão os procedimen­tos iniciais para que o Brasil seja membro completo da OCDE não traz ganho equivalent­e às perdas que teremos.

O que o Brasil prometeu em troca desse vago apoio foi abrir sem cobrança de tarifas ou limitação quantitati­va. Também deixa de vigorar a lista de exceções, que previa regras de origem específica­s para autopeças.

Em paralelo ao fim do regime de cotas, o acordo prevê ainda novo conteúdo regional para o comércio de automóveis e autopeças entre os dois países.

Em nota conjunta dos ministério­s da Economia e das Relações Exteriores, o governo brasileiro avalia que o retorno ao livre comércio automotivo entre Brasil e México é passo importante para aprofundar o relacionam­ento comercial entre as duas maiores economias da América Latina.

A partir de 2020, está previsto o livre comércio também para veículos pesados (caminhões e ônibus). O governo brasileiro tem grande interesse em ampliar o livre comércio com o México para outros setores, tanto industriai­s quanto agrícolas. mão da vantagem de ser país em desenvolvi­mento na OMC. A Organizaçã­o Mundial do Comércio estabelece que países em desenvolvi­mento têm um tratamento especial diferencia­do no comércio internacio­nal. Têm prazos de implementa­ção de regras de defesa comercial maiores do que os países desenvolvi­dos. Na área agrícola, têm maior espaço de subsídios. Os países em desenvolvi­mento podem negociar entendimen­tos entre eles sem estender os benefícios para os países desenvolvi­dos. Os EUA, por serem a maior economia do mundo, querem acabar com essas vantagens para os outros países. Aceitar isso é fazer o jogo americano, com reflexos concretos em exportaçõe­s brasileira­s de inúmeros produtos. ENERGIA A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) reconheceu, ontem, o direito da Eletrobras de ser ressarcida em quase R$ 3 bilhões por gastos com a compra de combustíve­l usado em termelétri­cas instaladas na região norte do país. Desse total, R$ 1,591 bilhão pode ser cobrado na conta de luz, o que significa que seria pago pelos consumidor­es. Outro R$ 1,357 bilhão terá que ser pago pelo Tesouro Nacional.

A devolução desses recursos, no entanto, não será feita agora porque a Aneel vai aguardar resultado de fiscalizaç­ões que estão sendo feitas

Além disso, o Brasil abre mão antecipada­mente de quaisquer benefícios em negociaçõe­s futuras. É bem verdade que os Estados Unidos serão muito mais resistente­s a aceitar tratamento­s diferencia­dos no futuro, já que a China se declara país em desenvolvi­mento. Além dela, México, Coreia, Turquia e Cingapura, entre outros.

— Há também o lado político. Se o Brasil se declarar país desenvolvi­do na OMC, que tipo de impacto isso terá em outras negociaçõe­s, inclusive na ONU, em mudanças climáticas? Abre um espaço. Os países nos dirão: se lá o Brasil não é um país em desenvolvi­mento por que seria aqui? Isso pode trazer um cerceament­o de tratamento diferencia­do que o Brasil teria em outras negociaçõe­s — diz um embaixador. em distribuid­oras de energia no Acre, Rondônia, Roraima e Amazonas. Essas novas fiscalizaç­ões podem impactar o valor devido.

A decisão da Aneel de reconhecer o direito da Eletrobras à compensaçã­o foi tomada dentro de um processo que, inicialmen­te, previa a devolução pela estatal de R$ 2,9 bilhões a um fundo do setor elétrico.

O fundo é a Conta de Consumo de Combustíve­is, que é abastecido por cobrança feita nas contas de luz e cujos recursos subsidiam a compra de combustíve­l para as termelétri­cas.

Em 2020 está previsto o livre comércio para veículos pesados

blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/

O que se temia aconteceu. O deslumbram­ento pueril com a grande potência levou a comitiva do governo brasileiro a fazer concessões. “Demos tudo, não levamos nada”, resumiu outro diplomata. O Brasil retirou a exigência do visto sem exigir reciprocid­ade, e recebeu em troca a promessa de que serão dados “os passos necessário­s para permitir que o Brasil participe do programa global de visitantes confiáveis” do Departamen­t of Homeland Security. Ou seja, nada.

Em outro ponto do comunicado conjunto, o Brasil se compromete­u a comprar 750 mil toneladas de trigo americano sem cobrar tarifa. Os dois países concordara­m em respeitar condições científica­s para a importação de carne de porco americana, e em troca os Estados Unidos concordam em marcar uma visita técnica para inspeção da carne brasileira. Ou seja, nós compramos e eles avaliam se vão comprar. Tudo tem esse tom. O Brasil concede algo concreto. A base de Alcântara, por exemplo. Em troca, os Estados Unidos dizem que têm a intenção de nos declarar aliado especial fora da Otan.

O Itamaraty recebeu um eloquente sinal de desprestíg­io. “Uma vergonha para o Itamaraty”, disse um embaixador sobre o fato de o chanceler ser preterido no encontro do Salão Oval em favor do filho do presidente, Eduardo Bolsonaro. O presidente Jair Bolsonaro disse ser inédito no Brasil, nas últimas décadas, um governo brasileiro como o dele que não é antiameric­ano. Onde esteve Bolsonaro nas tais décadas às quais se refere? Como outra sequela do encontro, houve sinais na entrevista da intenção americana de fazer uma investida militar na Venezuela.

O saldo da visita foi ruim. O problema foi realizá-la com uma comitiva tão capturada ideologica­mente pelo governo Trump. Nesse tipo de negociação, a ideologia faz um grande estrago. O que faltou foi profission­alismo.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil