Uma vida inteira de lições de Makota Valdina
“Nós somos como o Sol. Todo ser humano nasce a cada dia, se expande como o Sol e cai no horizonte para renascer. Estamos no mundo para brilhar, para ser feliz e cada um que pegue seu raio de sol e brilhe o mais intensamente que possa brilhar”. Essa foi uma das maiores lições de Makota Valdina, a educadora, líder religiosa, militante da causa negra, que morreu ontem, aos 75 anos, em decorrência de uma parada cardiorrespiratória.
E foi para ensinar cada um a encontrar seu próprio brilho que Makota Valdina Pinto tornou-se professora e líder religiosa. Em sala de aula e no terreiro de candomblé Nzo Onimboyá, no Engenho Velho da Federação, ela espalhou seus conhecimentos e ensinou a lutar contra o racismo e a intolerância.
Professora aposentada da rede pública municipal de Salvador, ela foi membro do Conselho Estadual de Cultura da Bahia. Nasceu e cresceu no Engenho Velho da Federação. “Tenho orgulho de ser do Engenho Velho. Meu umbigo está, literalmente, enterrado aqui”, disse, em entrevista ao CORREIO, em 2013.
Makota é o cargo religioso ocupado por ela no Nzo Onimboyá, de Nação Angola, espécie de conselheira da mãe de santo e responsável por cuidar da casa. “Makota é porque eu resolvi, conscientemente, empunhar a bandeira da militância, não como educadora que eu era, mas como religiosa do candomblé”, afirmou, naquela época, ao CORREIO.
Esta militância pelos negros é uma das marcas mais lembradas por quem conviveu com ela, como lembra Vilma Reis, Iaô de Xangô do Terreiro do Cobre e Ouvidora-Geral da Defensoria Pública do Estado.
“Ela sempre dizia: ‘não quero ser tolerada; quero ser respeitada’. Defendia que nós, negros, tínhamos que nos afirmar com orgulho a grandiosidade do nosso povo”, recorda.
Vilma lembra dos encontros de que Makota participava na Biblioteca dos Barris no anos 1970/80, onde se encontrava com jovens negros e destacava ali a importância da afirmação da cultura negra e, especialmente, do candomblé. Para Vilma, Makota era um griô, uma mulher mais velha que carregava o conhecimento e o transmitia para os outros.
Outro depoimento em homenagem a Makota, escrito pela jornalista Cleidiana Ramos e publicado no site Flor de Dendê, resgata uma frase que circula entre o povo de santo e revela esse espírito da religiosa: “A cada mais velho que se vai, uma biblioteca parte com ele”. “Esta máxima é perfeita para defini-la”, afirma Cleidiana.
Cleidiana, que é também doutora em Antropologia, destaca a facilidade que a líder tinha em se relacionar com os jovens: “Outra marca da trajetória de Makota Valdina sempre despertou a minha atenção: sua facilidade em conectar-se com a juventude. Meninas e meninos negros que participaram de variados projetos, como os do
Líder religiosa e educadora morre aos 75 anos em Salvador
Instituto Steve Biko, dos encontros, das marchas seja contra o racismo ou de combate à intolerância religiosa, tinham uma referência em Makota Valdina”.
“Se ela estava em uma roda de conversa, em um seminário ou numa solenidade mais formal, a juventude era uma parte considerável da plateia. Baixinha e franzina, tornava-se uma gigante ao ganhar um microfone. Sem alterar o tom de voz, sabia dosar indignação com a tranquilidade que é necessária para traçar estratégia em combates difíceis”, acrescenta.
UM JEITO NEGRO
A vida da religiosa foi registrada no documentário Makota Valdina - Um Jeito Negro de Ser e Viver, que recebeu o primeiro Prêmio Palmares de Comunicação, da Fundação Cultural Palmares, na categoria Programas de Rádio e Vídeo. Em 2013, Makota Valdina publicou o livro de memórias intitulado Meu Caminhar, Meu Viver.
Em sua trajetória, a líder religiosa recebeu muitas homenagens. Entre elas, os prê-