O negócio é empreender
O artista plástico Gilton Gomes, 44 anos, não tinha noção de que os seus trabalhos poderiam atravessar fronteiras. Foi preciso um empurrão para que ele se enxergasse como um empreendedor em potencial e, acima de tudo, social.
O mesmo aconteceu com o artesão Orni Barros, 30, e com a artista plástica Vanessa Freitas, 27. Além do empreendedorismo, há outro fator que liga os três: ambos são do Complexo de Amaralina, onde o Parque Social desenvolveu, em 2018, o Programa Comunidade Empreende (PCE). Todos também receberam capacitação do programa para gerir seus negócios e impulsioná-los.
Na manhã de ontem, os três tiveram a chance de expor seus trabalhos durante o XI Fórum Internacional RedEAmérica (FIR 2019), no Hotel Wish, evento que reúne, até hoje, 18 expositores e oito moderadores de 14 países da América Latina e Caribe, para discutir diversidade de gênero e acesso à educação, cultura e emprego por mulheres, negros e indígenas.
O programa desenvolvido pelo Parque fez um estudo no Complexo do Nordeste de Amaralina para identificar, junto com os moradores, pessoas que já desenvolviam um trabalho social com potencial para negócio. Foi assim que os artistas passaram a receber capacitação por um ano, ao lado de 23 outros moradores.
Todos tiveram aulas de finanças, plano de negócio e liderança empreendedora. Gilton, por exemplo, já comercializava os seus quadros e, em paralelo, ministrava aulas de pintura para garotos da comunidade. Ele também produz puffs feitos com pneus descartados em borracharias do bairro da Santa Cruz.
Durante a capacitação do Parque Social, ele teve a chance de levar a sua arte para mais pessoas. Foi assim que uma de suas obras foi parar nos EUA. O preço dos quadros pode variar entre R$ 20 e R$ 400.
“O PCE me ajudou na parte administrativa, financeira, de divulgação e melhoria do visual da minha marca. Nós temos muitos moradores criativos e isso faz com que a nossa arte fique conhecida no Brasil”, descreveu.
Vanessa, por sua vez, achava que o que produzia era hobbie. Mas ela tinha nas mãos, além da facilidade para confeccionar mandalas, fotos bordadas e colagens, um projeto com potencial empreendedor.
“O Parque, junto com suas parcerias, foi importante para fundamentar o que eu fazia como negócio”, contou.
Hoje, ela mantém, ao lado de Orni, uma ‘colab’ – produção feita de forma colaborativa. As mandalas variam de R$ 20 a R$ 200. Já Orni trabalha na produção de pranchas de standup feitas com garrafas pet.
O programa já buscou empreendedores sociais no Centro da cidade e no Bairro da Paz. No momento, o Parque busca parceiros para estender a ação. “O Parque Social acredita nas comunidades. Foi uma tecnologia criada para que pudéssemos contribuir com a sustentabilidade e as comunidades carentes de Salvador”, explicou a diretora geral, Sandra Paranhos. A presidente de honra da entidade é Rosário Magalhães.
O grupo Camargo Corrêa foi o principal apoiador do PCE. Kalil Antônio Farran, diretor executivo do Instituto, explica que o grupo promove o desenvolvimento sociocultural já existente nas comunidades, alavancando projetos que já existem ou que sejam embrionários.