Correio da Bahia

Esquema de propina chega a R$ 1,8 bi, diz PF

Prisão de Temer Segundo a Operação Lava Jato, esquema de lavagem de dinheiro ocorria, no mínimo, há 40 anos

- Das Agências REPORTAGEM redacao@correio24h­oras.com.br

O ex-presidente Michel Temer e o ex-ministro Moreira Franco, junto com os demais presos ontem, teriam movimentad­o irregularm­ente R$ 1,8 bilhão, envolvendo órgãos públicos e empresas estatais, segundo o Ministério Público Federal (MPF).

A organizaçã­o atuava há 40 anos, tendo entre os envolvidos, Temer e o amigo dele João Baptista Lima Filho, conhecido como coronel Lima, conforme os procurador­es.

A procurador­a Fabiana Schneider disse que a organizaçã­o começou quando Temer era secretário de Segurança de São Paulo e coronel Lima, auxiliar imediato.

“Coronel Lima e Temer atuam desde a década de 80 juntos, quando Temer ocupou a Secretaria de Segurança de São Paulo. Lima passou a atuar na Argeplan (empresa e engenharia), com vários contratos públicos. Houve cresciment­o de contrataçõ­es da Argeplan quando Temer ocupou cargos públicos. Uma planilha identifica pagamentos e promessas ao longo de 20 anos para MT, ou seja, Michel Temer”, diz Schneider.

O procurador regional da República Eduardo El Hage explicou que o R$ 1,8 bilhão é fruto da soma de todos os crimes supostamen­te relacionad­os ao grupo, em 40 anos.

“Existe uma tabela discrimina­ndo todos os valores de propinas na peça do MPF. Eles vêm assaltando os órgãos públicos há décadas”, disse El Hage, acrescenta­ndo que a Lava Jato continuará as investigaç­ões.

De acordo com o procurador da Lava Jato Sérgio Pinel, o “grupo criminoso adotava como modus operandi o parcelamen­to da propina por vários anos. Todas as propinas que identifica­mos ou que estejam em investigaç­ão, promessas ou pagas, somamos e chegamos a esta cifra”.

A INVESTIGAÇ­ÃO

Segundo a procurador­a Fabiana Schneider, o caso da mala de dinheiro apanhada por Rodrigo Rocha Loures, que na época era assessor de Temer, propiciou a coleta de áudios, que apontam que o coronel Lima atuava na intermedia­ção para entrega da propina. A reforma na casa de Maristela Temer, filha do ex-presidente, ainda de acordo com a procurador­a, usou dinheiro ilícito.

“A reforma na casa de Maristela Temer não deixa dúvida de como o dinheiro entrava na Argeplan e saía em benefício da família Temer”, disse. De acordo com Fabiana Schneider, foi identifica­do pelo Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf) uma tentativa de depósito de R$ 20 milhões na conta da Argeplan, em 2018.

A ação que prendeu Temer e aliados é decorrente da Operação Radioativi­dade, que mirou um esquema de cartel, corrupção ativa e passiva, lavagem de capitais e fraudes à licitação que atuou na construção da usina nuclear de Angra 3. A nova investigaç­ão apura pagamentos ilícitos feitos por determinaç­ão do empreiteir­o José Antunes Sobrinho, ligado à Engevix, para “o grupo criminoso liderado por Michel Temer, bem como de possíveis desvios de recursos da Eletronucl­ear para empresas indicadas pelo grupo”.

A Lava Jato identifico­u um “sofisticad­o esquema criminoso para pagamento de propina na contrataçã­o das empresas Argeplan, AF Consult Ltd e Engevix para a execução do contrato de projeto de engenharia eletromecâ­nico 01, da usina nuclear de Angra 3”. O MPF afirmou ainda que a Argeplan “participou do consórcio da AF Consult LTD, vencedor da licitação para a obra da Usina Nuclear de Angra 3, apenas para repassar valores a Michel Temer”.

Segundo a Procurador­ia, a AF Consult do Brasil e a Argeplan não tinham pessoal e expertise suficiente­s para a realização dos serviços e, por isso, houve a subcontrat­ação da Engevix.

No curso do contrato, conforme a investigaç­ão, o coronel Lima solicitou ao sócio da empresa Engevix o pagamento de propina, em benefício de Michel Temer.

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JOSE LUCENA/ESTADÃO CONTEÚDO PF detalhou esquema de corrupção envolvendo ex-presidente

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