Correio da Bahia

‘Ele iria me matar’

- Bruno Wendel REPORTAGEM bruno.cardoso@redebahia.com.br

Estudante foi mantida em cárcere privado pelo namorado

Depois de dois meses de namoro, passou a me trancar dentro de casa, me espancar sem eu fazer nada. Ele deixava eu comer apenas uma vez por dia

As tatuagens no braço direito da estudante Deisiane Souza Cerqueira, 18 anos, não foram as únicas marcas deixadas no corpo dela pelo tatuador Marcos Alexandre da Silva, 35, com quem havia iniciado o namoro há oito meses, em Camaçari, Região Metropolit­ana de Salvador (RMS).

Ele também deixou nela o rosto desfigurad­o e cicatrizes espalhadas no pescoço, costas e pernas, fruto de sessões diárias de murros, facadas, queimadura­s de cigarro, mordidas e outras agressões físicas, que começaram logo após os dois primeiros meses da relação. Deisiane ainda sofreu tortura psicológic­a: nos seis meses em que foi mantida em cárcere privado, foi ameaçada de morte.

Os dois se conheceram há oito meses, numa praça em Abrantes, num encontro de jovens. Já as agressões começaram há seis meses, quando Marcos passou a morar com Deisiane na casa dela. Antes, a estudante vivia com os pais,

Ele apagava o cigarro na minha nuca, no meu braço, no meu pescoço. Já deu uma facada em minha perna Deisiane Souza Cerqueira Estudante, 18 anos

mas, há cinco anos, quando eles se separaram, a jovem decidiu ficar com a mãe, que se mudou pouco tempo depois para o bairro Gravatá. Sozinha, a estudante convidou o namorado para morar com ela, no bairro Phoc II.

O pesadelo durou seis meses até que, na última terça-feira, Deisiane foi resgatada pelo pai, o taxista Robson Cerqueira Santos, 43. Ele disse ao CORREIO que desconfiav­a que havia alguma coisa errada com a filha, já que tinha muita dificuldad­e de conseguir contato com ela. Era o namorado da garota quem atendia o celular todas as vezes que ele ligava, inventando desculpas para que os dois não se falassem.

“Ele falava que ela estava em Salvador cuidando da avó dele. Os avós maternos dela moravam no andar superior da casa, mas nada escutavam, porque ela sofria calada. Ele dizia que, se ela gritasse, a mataria com facadas e mataria os avós”, contou o pai.

RESGATE

Desconfiad­o, Robson foi à casa da filha e encontrou uma luz acesa. Ao se aproximar e chamar pela primeira vez o nome de Deisiane, a cadela da família começou a latir.

Nesse momento, o namorado não estava. “Foi quando escutei o pedido de socorro de minha filha. Ela gritava meu nome. Então, arrombei a porta com o pé”, declarou.

Robson encontrou a filha bastante machucada. “Ela estava amarrada numa cama, presa por uma corda. Estava muito fraca, sem comer, cheia de marcas pelo corpo. Foi terrível ver a minha filha naquele estado. Carreguei ela nos braços e tirei dali. Depois, fomos à delegacia registrar o caso”, contou o pai.

TORTURA

O CORREIO conversou com Deisiane, que relatou seu drama. “Se meu pai não me salvasse, tenho certeza que neste momento estaria morta. Ele com certeza iria me matar”, disse ela.

“Não sei o que houve com

 ?? EVANDRO VEIGA ?? Marcos Alexandre começou a agredir Deisiane quando tinham dois meses de namoro
EVANDRO VEIGA Marcos Alexandre começou a agredir Deisiane quando tinham dois meses de namoro
 ?? REPRODUÇÃO/EVANDRO VEIGA ?? Deisiane, 18 anos, é estudante
REPRODUÇÃO/EVANDRO VEIGA Deisiane, 18 anos, é estudante

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil