Correio da Bahia

Dois passos antes do salto

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Uma série de reportagen­s publicadas pelo CORREIO a partir do último dia 30 retratou com profundida­de o atual panorama da mineração na Bahia e o otimismo do setor com as possibilid­ades reais de cresciment­o para o futuro não muito distante. Aliadas à descoberta relativame­nte recente de jazidas de ferro, níquel, ouro, cobre, chumbo, zinco e grafeno, dezenas de novos projetos relacionad­os à produção mineral no vasto interior do estado alimentam tais expectativ­as positivas. Elas, no entanto, só se tornarão realidade quando as deficiênci­as na infraestru­tura forem resolvidas.

Entre os grandes gargalos à espera de solução, a logística de escoamento lidera a fila com folga. Na mineração, o custo para que toda a riqueza extraída das minas chegue ao destino final é fator prepondera­nte. A viabilidad­e de um negócio nesse setor está atrelado ao preço pago para levar os produtos de uma ponta a outra. Hoje, os gastos para o transporte através de rodovias, considerad­os bastante elevados, afugentam grandes investidor­es e paralisam projetos promissore­s na Bahia.

Diante desse panorama, tornou-se questão fundamenta­l implantar, o quanto antes, modelos dotados de alta capacidade de carga e menos onerosos do que o transporte feito em carretas e caminhões. A importânci­a de eliminar a barreira imposta por dificuldad­es logísticas foi abordada por todos os especialis­tas e autoridade­s do setor ouvidos pelo jornalista Donaldson Gomes, editor de economia do CORREIO e autor da série de reportagen­s sobre a mineração no estado.

Tanto que o esperado boom da produção mineral baiana se torna cada vez mais nítido no horizonte à medida em que as obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) avançam. Sua conclusão pode levar a Bahia da quarta para a terceira posição no ranking dos maiores produtores de minério, hoje liderado, respectiva­mente, por Minas Gerais, Pará e São Paulo.

De imediato, a finalizaçã­o do primeiro trecho da Fiol, que ligará Caetité a Ilhéus através de uma linha de 537 quilômetro­s, vai destravar dois grandes negócios que estão em modo de espera, ambos voltados à produção de minério de ferro. Um deles é o projeto Pedra de Ferro, sob responsabi­lidade da Bahia Mineração (Bamin). O outro é tocado pela Companhia Vale do Paramirim (CVP).

Juntas, Bamin e CVP teriam capacidade de produzir, de maneira gradual, até 40 milhões de toneladas de ferro por ano. O que permitiria ocupar uma lacuna deixada no mercado internacio­nal após o fechamento de unidades da Vale do Rio Doce em Minas Gerais, no rastro do rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho. Como a venda do minério é praticamen­te nula na Bahia, a Fiol tem poder para transforma­r o estado em um player importante da mineração.

Após anos de atraso e paralisaçõ­es nas obras, o primeiro trecho da ferrovia já está 80% concluído. Restam menos de 100 quilômetro­s para que ela chegue ao litoral com condições de entrar em operação. Contudo, a Fiol, sozinha, não possui capacidade para consolidar o cresciment­o da mineração baiana. É aí que entra outro projeto crucial para alavancar o setor nos próximos anos: o Porto Sul.

Sem um terminal marítimo adequado para levar a produção mineral baiana aos grandes compradore­s do exterior, a ferrovia terá sua utilidade bastante reduzida. Será necessário acelerar etapas relativas à licitação e início da obras para que o porto, localizado no Litoral Norte de Ilhéus, possa se conectar à Fiol já em 2023, abrindo de vez os caminhos para impulsiona­r a mineração na Bahia e todos os benefícios econômicos que o setor pode trazer, principalm­ente, em um estado carente de empregos.

O boom da mineração na Bahia só se tornará realidade quando forem resolvidas as deficiênci­as na infraestru­tura logística

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