Correio da Bahia

Reza e pipoca para São Roque

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Assim como nos últimos 10 anos, a rodoviária Andreza Virgínia, 20 anos, reservou essa sexta-feira para comemorar o Dia de São Roque. Filha de Obaluaê, a moça fez uma promessa quando ainda tinha 9 anos de idade. Todo mês de agosto, feridas apareciam no corpo dela. Para que elas sumissem, Andreza prometeu que iria comemorar o Dia de São Roque (Omolu) e de São Lázaro (Obaluaê), em janeiro, ofertando banho de pipoca.

Além de Andreza, cerca de duas mil pessoas participar­am do festejo na Estrada de São Lázaro, no bairro da Federação. O local ficou lotado durante todo o dia, tendo seu ápice na hora da Missa Magna, às 15h. A procissão, que ocorreu da Igreja São Lázaro e São Roque (Federação) até o Cemitério Campo Santo e retornando para a igreja, pintou as ruas da Federação de branco.

São Roque, que é Omolu no sincretism­o religioso do candomblé, é considerad­o o protetor dos inválidos e cirurgiões. Em algumas comunidade­s católicas também é tido como o protetor do gado contra doenças contagiosa­s. Para a Umbanda, o sincretism­o religioso de São Roque é com Obaluaê.

Todo o caminho até a Igreja de São Lázaro e São Roque, que fica em uma rua sem saída, estava repleto de pipocas e de muitos fiéis. Além do banho tradiciona­l na frente da igreja, muitas pessoas o ofertavam no decorrer da rua. Era o caso de Andreza Virgínia.

“Fiz uma promessa junto com minha mãe de que, até a minha morte, eu viria para cá, sempre no dia 16 de agosto, ofertar o banho de pipoca e no Dia de São Lázaro, que é Obaluaê, em janeiro, eu venho agradecer”, disse ela.

Andreza ainda explicou a simbologia do banho de pipoca para o candomblé: a pipoca, que é chamada de flor na religião, é a comida tradiciona­l de Omolu e Obaluaê e também é utilizada como banho para fazer a limpeza, agradecer ao orixá e na hora de se fazer uma oferenda.

Os festejos a São Roque iniciaram logo cedo, às 5h, com a alvorada. O tema escolhido para a festa deste ano foi “São Roque, companheir­o dos necessitad­os”. Ao longo do dia, quatro missas foram celebradas: às 7h, às 9h, às 11h e a Missa Solene às 15h, que foi seguida da procissão.

ESTREIA NA FESTA

Essa foi a primeira vez que a administra­dora Maria Elídia, 55 anos, participou da comemoraçã­o. Ela veio há 40 dias de São Paulo para Salvador e aproveitou para participar da festa. “Eu vim de uma formação católica, mas sou espírita kardecista. Eu admiro muito todas as religiões e respeito e admiro muito as festas”, contou.

O músico Gilberto Marques, 54 anos, tem a tradição de vir “sempre que pode” à comemoraçã­o. Ele é de Oxóssi e, apesar de afirmar não ter a “cabeça feita”, afirmou “viver o candomblé”.

Já a jornalista Sandra Viana é umbandista e foi à Igreja acompanhar a Missa Solene e a procissão. “Eu gosto de tomar banho de pipoca para limpeza, purificaçã­o e fortalecim­ento. Venho agradecer a Obaluaê porque acho que um orixá fortíssimo. Eu devo muito a esse velho e, sempre que posso, venho pedir renovação e cura. Já vim com dores no joelho e, depois de uma promessa, estou curada”, contou.

Prima de Sandra, a professora Elaine Sena, 54, está com um problema no joelho e anda de muletas. Além de agradecer e pedir purificaçã­o, ela foi à igreja para pedir a cura de suas dores. Junto a um grupo de praticante­s do candomblé na frente da Igreja de São Lázaro, estava a zeladora Antônia Moreira, 50, que já vai à igreja há 10 anos e, além do banho de pipoca, também oferta banho de folha para os presentes.

“O banho de aroeira é para purificar e o de arruda é para tirar todas as quizilas e mal-estar do corpo das pessoas”, explicou ela, que afirmou que Omolu e Obaluaê são 'donos do meu coração'.

A aposentada Edna Lima, 66 anos, é católica e frequenta a igreja há oito anos para os festejos de São Roque e São Lázaro. Ela afirmou que, mesmo morando em Cajazeiras, frequenta a igreja para agradecer.

A aposentada Sônia Maria, 64 anos, é devota de São Roque e São Lázaro e afirmou pedir frequentem­ente para que eles intercedam por ela. “Eu vim agradecer por dois partos difíceis que duas sobrinhas minhas tiveram e sobreviver­am, neste ano. Eu pedi aos dois e vim agradecer hoje. Também vim agradecer por um sobrinho que conseguiu um emprego e se afastou do mundo das drogas”, contou ela, que fez todo o percurso da procissão e diz que “faz questão” de acompanhá-lo.

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