Correio da Bahia

Pai acusa PM pela morte do filho

- TAILANE MUNIZ

O assassinat­o de Tiago Silva de Jesus, 20 anos, na noite de anteontem, na Santa Cruz, no Complexo do Nordeste de Amaralina, em Salvador, é visto pela família do jovem como uma “resposta da Polícia Militar”. Minutos depois, o adolescent­e Rian Santos Vasconcelo­s, 16, também foi morto a tiros na região. A PM nega.

Agente de portaria, o pai da vítima, que preferiu não se identifica­r, afirmou que o filho foi “executado” enquanto dormia dentro da casa onde morava, na Rua da Amendoeira, por volta de 22h15. Rian foi morto na Rua Seis de Janeiro - parte alta do Nordeste de Amaralina. Os dois casos acontecera­m horas depois de criminosos fazerem uma família refém na Santa Cruz após um policial ser baleado.

Ao CORREIO, o pai de Tiago disse que chegou a ligar para a ex-mulher assim que soube, pela TV, que uma família havia sido feita refém. “Fiquei preocupado porque a gente sabe como funciona, mas ela me disse: ‘Pode ficar tranquilo, ele está em casa dormindo e eu estou de folga hoje, está tudo bem por aqui’. Depois, me ligou dizendo que meu filho estava morto”.

Ele contou que soube pela ex-mulher que “os P2 [policiais disfarçado­s ou sem uniforme] mandaram ela sair de casa e mataram o menino. Mesmo que fosse bandido, eles não podem executar pessoas dessa maneira”, lamentou ele, que, na manhã de ontem, esteve no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) para liberar o corpo do caçula ele tem outros dois filhos.

“Se você me perguntar se ele conhecia os meninos que se envolveram [que foram presos anteontem, na Santa Cruz]? Sim. Andava com eles? Antes, sim, pois cresceram juntos. Tiago tinha deixado de ficar na rua, porque sabia que [os PMs] não largavam do pé dele. Entram, invadem casa, dão tapa na cara, executam, tratam todos os moradores como bandidos”, denuncia o pai, ao reforçar que o jovem era ‘alvo’. De acordo com o pai, desde que foi preso sob acusação de tráfico de drogas, com uma quantidade de “drogas forjadas” durante o Carnaval do Nordeste, em março deste ano, Tiago era “perseguido” por policiais.

Em nota, a Polícia Militar informou que “sobre a acusação, o comando da 40ª Companhia Independen­te da Polícia Militar (CIPM/ Nordeste de Amaralina) afirma que não tem conhecimen­to do fato”. Ao citar o assassinat­o de Tiago, a PM informou que policiais militares da 40ª CIPM foram acionados pelo Cicom [190] após informaçõe­s de que “um homem foi encontrado no interior da residência, sem sinais vitais, com perfuração de arma de fogo”.

Quanto à morte de Rian, o “Cicom informou que havia disparos de arma de fogo. Ao chegar ao local, populares informaram que havia um adolescent­e de 16 anos baleado dentro da residência”.

As mortes estão registrada­s no site da Secretaria da Segurança Pública. Essas ocorrência­s postadas são referentes às mortes entre civis - quando um assassinat­o é resultado de uma intervençã­o policial, o homicídio não figura entre esses registros.

A Polícia Civil, que investiga as duas mortes, disse que “informaçõe­s preliminar­es” dão conta de que o jovem e o adolescent­e foram assassinad­os por “quatro homens encapuzado­s”.

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