Correio da Bahia

Autoridade posta em dúvida

Bolsonaro evita tomar lado em relação a projeto que pune juízes

- Flávio Oliveira e agências REPORTAGEM flavio.oliveira@redebahia.com.br

“Vetando ou sancionand­o, ou vetando parcialmen­te, eu vou levar pancada, não tem como, vou apanhar de qualquer maneira”. Foi assim que o presidente Jair Bolsonaro se posicionou ontem sobre o projeto de Lei de Abuso de Autoridade aprovada na quarta-feira pela Câmara dos Deputados.

O assunto é polêmico. De um lado, juízes, procurador­es e policiais dizem que o projeto vai inibir uma atuação mais firme contra o crime organizado e a corrupção. De outro, os parlamenta­res que aprovaram o projeto. O governo, sem uma base orgânica formada, depende da maioria do Congresso para reformas com a tributária e a administra­tiva. Ao mesmo tempo, a base eleitoral do presidente tem perfil punitivist­a e cobra a promessa de campanha eleitoral maior rigor contra criminosos e enxergam na medida um ataque dos políticos à Operação Lava Jato.

“Não analisei ainda, não. Não deu tempo de ver. Estou ouvindo falar muita coisa, até pode perguntar no Facebook ontem. Veta, veta, veta… Pergunto: você já leu o projeto? Ninguém leu. Tem coisa boa, tem coisa ruim? Não sei”, disse o presidente na mesma entrevista. Bolsonaro tem 15 dias para sancionar ou vetar o projeto, seja parcial ou totalmente.

TEMOR

Ministro mais popular do governo, o ex-juiz Sérgio Moro, defende veto a dispositiv­os da lei. “São os assassinos, ladrões e os bandidos que precisam temer a lei”, escreveu ele no Twitter como legenda de uma foto na qual aparece com um grupo de juízes em seu gabinete. A aprovação da lei, inclusive, ocorre em meio à publicação de uma série de reportagen­s com grampos telefônico­s que levantam suspeitas de que teria atuado de maneira parcial quando julgou casos de corrupção descoberto­s pela Operação Lava Jato. O hoje ministro ganhou projeção política condenando políticos e empresário­s envolvidos em esquemas de corrupção na Petrobras.

Já o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o projeto de lei aprovado só vai causar dificuldad­es para servidores públicos que extrapolam os limites de suas funções. “Não tem problema para quem não passa do limite das leis”,

ALGEMAS

Mesmo sem se posicionar claramente sobre o que fará com o projeto já encaminhad­o ao Planalto, criticou a possibilid­ade aberta pelo texto de punir um policial que algemar alguém que não demonstre resistênci­a no ato da prisão. “O que eu não quero, em um primeiro momento, o policial militar... Se é que isso está lá. Não sei se isso está lá. Se o cara vier a algemar alguém de forma irregular, tem uma cadeia para isso. Isso não pode existir O resto a gente vai ver”, disse.

Ainda na entrevista, o presidente também afirmou que espera o “timing político” para enviar ao Congresso o projeto do Executivo para a reforma tributária. O Congresso já iniciou a tramitação de projetos do próprio Parlamento sobre o tema.

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EVARISTO SA / AFP Bolsonaro afirma que será criticado porqualque­r que seja sua decisão

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