‘Não é fácil’, diz Jean Wyllys
Cultura Da infância pobre ao Congresso, biografia conta a história do jornalista baiano
Por questões de segurança, o número de telefone só foi revelado para a reportagem em cima da hora da entrevista. “É um cuidado que tenho que ter. Saí do Brasil por causa das ameaças de morte. Apesar de estar livre da ameaça física, ainda existe uma campanha sistemática. Não é fácil conviver com isso, não é fácil acordar todo dia com uma difamação nova”, desabafa o jornalista e ex-deputado baiano Jean Wyllys, 45 anos, em conversa com o CORREIO.
Autoexilado na Alemanha desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro, Jean participa hoje, por videoconferência, da Feira Literária de Mucugê (Fligê), onde será lançada sua biografia. Escrita com a jornalista Adriana Abujamra, a obra O Que Será: A história de um defensor dos direitos humanos no Brasil (Objetiva | 224 páginas | R$ 34,90) já estava quase pronta quando o então deputado federal abriu mão do mandato e decidiu deixar o país.
A única pendência da obra era contar como estava sua realidade no exterior. “Estou em Berlim, no apartamento de um amigo, até que possa ajeitar minha vida (...). Emagreci, virei um fiapo. Só conseguia dormir à base de remédios. Ainda preciso de medicamento para pegar no sono, mas cada vez menos”, revela Jean, em um trecho do livro criado a partir da provocação da historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz. Foi ela que, após assistir a uma palestra de Jean, achou que o jeito dele de articular análise política com a própria história era “interessante e devia ser compartilhado”, lembra o baiano.
‘VIADO’
Foi assim que Jean decidiu eternizar a vida em livro. Logo no primeiro capítulo, destaca que apenas 10% da população concentra quase metade da renda do país, enquanto o resto “vive como pode”. “É o que fazíamos em Alagoinhas”, lembra, na biografia, antes de contar como era sua infância na periferia rural e detalhar a casa de taipa onde morava com a família: sem banheiro, luz elétrica e água.
Foi lá que apanhou do pai, disse à mãe que entraria na universidade para tirar a família
A verdade se tornou uma questão de opção e isso é muito grave. (...) No Brasil, 78% das pessoas nunca leram um livro na vida. Essa subjetividade não está preparada para se defender da mentira Jean Wyllys sobre a disseminação de fake news, das quais foi vítima