Praias cobertas de óleo
Limpeza Só da Pituba e do Jardim dos Namorados foram removidas 15 toneladas de resíduos
O óleo que se espalhou no litoral nordestino atingiu mais uma praia de Salvador. Desta vez, o alvo foi a Praia da Pituba. As manchas de petróleo foram constatadas na orla do bairro, na manhã de ontem, em um trecho de cerca de 800 metros, na altura das ruas Piauí e Pará. As manchas também voltaram a aparecer nas praias de Jardim de Alah e Jardim dos Namorados. De acordo com a assessoria da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb), até às 20h de ontem, 22.660 toneladas de óleo tinham sido retiradas de seis praias: Flamengo, Stella Maris, Boca do Rio, Jardim de Alah, Jardim dos Namorados e Pituba. A maior parte foi encontrada nas praias da Pituba e Jardim dos Namorados, de onde foram retiradas 15 toneladas de resíduos de petróleo cru.
Os resíduos recolhidos foram colocados em sacos e levados para a sede da Limpurb, em Pirajá. Lá, eles foram alojados em contêineres para serem estudados e, só depois levados pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Até ontem, oito cidades baianas foram afetadas pelo petróleo cru. Com a extensão da mancha, o governo baiano decretou situação de emergência no estado na última segunda-feira. Com o decreto, seis cidades atingidas podem receber recursos e contratar serviços sem licitação: Camaçari, Conde, Entre Rios, Esplanada, Jandaíra e Lauro de Freitas. Salvador e Mata de São João não pediram recursos ao governo estadual. Segundo informações do Tamar, o óleo já matou, pelo menos, dez filhotes de tartarugas no estado.
A Petrobras informou ontem que, desde 12 setembro, foram retiradas 200 toneladas de resíduos de óleo em todo o Nordeste.
Montamos uma equipe de 80 homens para monitorar as praias durante 24h Marcus Vinícius
Os impactos são visíveis por ser um material extremamente tóxico André Fraga
Estamos apenas apagando o fogo com os procedimentos de limpeza Clemente Coelho
MONITORAMENTO
O presidente da Limpurb, Marcus Vinícius Passos, informou que as praias de Salvador são monitoradas desde a última quinta. “Montamos uma equipe de 80 homens para monitorar as praias durante 24h. Temos feito reuniões constantes com o Ibama e com a Marinha para a integração de todos os órgãos”, falou. Equipes da Marinha do Brasil também atuaram na limpeza das praias de Salvador.
Apesar do avanço dos resíduos, o presidente da Limpurb disse que a população deve ficar tranquila. “A prefeitura está preparada para agir corretamente, esse é o nosso papel. Estamos atuando rapidamente para não deixar o material exposto na praia e, consequentemente, contaminar as pessoas e mais faixas de terra. Quando esse material chega em nossas praias, agimos com rapidez para que não retorne ao mar”,explicou.
No entanto, o titular da Secretaria da Cidade Sustentável de Salvador (Secis), André Fraga, reforçou o alerta à população. “Os impactos (do petróleo) são visíveis, seja pela fauna ou flora, para biota ou vegetação, por ser um material extremamente tóxico. É importante que as pessoas saibam que não podem tocar sem uma proteção, uma luva, por exemplo. Os cidadãos devem ficar atentos a qualquer situação do tipo, ou seja, se surgir uma mancha é necessário comunicar aos órgãos competentes”, pontuou.
VOLUNTÁRIOS
Devidamente protegido por luvas e calçados, para evitar o contato direto com o óleo, um dos líderes do grupo de voluntários Guardiões do Litoral, André Phileto, 38 anos, foi oferecer ajuda na intenção de conseguir retirar as manchas antes que a maré voltasse a encher e o mar levasse para as próximas praias.
“A gente viu que a coisa saiu do controle. A gente estava notando manchas menores. Não esperávamos chegar a esse nível aqui na Pituba, mesmo sabendo que no litoral norte o problema era maior. Vamos nos reunir com o resto do grupo para ver qual vai ser a nossa atitude até o final da semana. Estamos convocando um multidão para auxiliar as equipes da Limpurb na limpeza”, contou.
Segundo ele, o grupo está fiscalizando as praias por conta própria. “Ainda não tínhamos notado nenhum resíduo por aqui. Mas, agora chegou nessa proporção. Estamos dispostos a dar todo o suporte as equipes de limpeza, que chegaram ao local rapidamente quando ligamos”, explicou.
CORRENTES MARÍTIMAS
Apesar de parecer estranha a mudança na intensidade da mancha de óleo que chega à costa, o professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE), Clemente Coelho, explicou que é normal.
A mancha de petróleo cru é empurrada pela correntes marinhas e sofre influência dos ventos. Coelho explicou que, agora, os ventos apontam para a Bahia e Alagoas, o que fez com que mais resíduos fossem depositados nas praias dos estados. “Existem manchas órfãs que derivam no oceano e chegam em pacotes conforme os ventos. Com a corrente Sul Equatorial, elas são derivadas para norte ou para sul e levadas com a maior ou menor intensidade”, esclareceu.
O professor ressaltou, ainda, que as manchas são extremamente difíceis de identificar pois circulam abaixo da superfície da água. Mesmo assim, ele disse que os municípios podem tentar prever a chegada do óleo com a previsão dos ventos, das ondas e o conhecimento empírico de pescadores e marinheiros. “Ainda não conseguimos modelar a dispersão e estamos apenas apagando o fogo