Correio da Bahia

Praias cobertas de óleo

Limpeza Só da Pituba e do Jardim dos Namorados foram removidas 15 toneladas de resíduos

- Eduardo Dias*, Hilza Cordeiro e Marina Hortélio* REPORTAGEM redacao@correio24h­oras.com.br

O óleo que se espalhou no litoral nordestino atingiu mais uma praia de Salvador. Desta vez, o alvo foi a Praia da Pituba. As manchas de petróleo foram constatada­s na orla do bairro, na manhã de ontem, em um trecho de cerca de 800 metros, na altura das ruas Piauí e Pará. As manchas também voltaram a aparecer nas praias de Jardim de Alah e Jardim dos Namorados. De acordo com a assessoria da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb), até às 20h de ontem, 22.660 toneladas de óleo tinham sido retiradas de seis praias: Flamengo, Stella Maris, Boca do Rio, Jardim de Alah, Jardim dos Namorados e Pituba. A maior parte foi encontrada nas praias da Pituba e Jardim dos Namorados, de onde foram retiradas 15 toneladas de resíduos de petróleo cru.

Os resíduos recolhidos foram colocados em sacos e levados para a sede da Limpurb, em Pirajá. Lá, eles foram alojados em contêinere­s para serem estudados e, só depois levados pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Até ontem, oito cidades baianas foram afetadas pelo petróleo cru. Com a extensão da mancha, o governo baiano decretou situação de emergência no estado na última segunda-feira. Com o decreto, seis cidades atingidas podem receber recursos e contratar serviços sem licitação: Camaçari, Conde, Entre Rios, Esplanada, Jandaíra e Lauro de Freitas. Salvador e Mata de São João não pediram recursos ao governo estadual. Segundo informaçõe­s do Tamar, o óleo já matou, pelo menos, dez filhotes de tartarugas no estado.

A Petrobras informou ontem que, desde 12 setembro, foram retiradas 200 toneladas de resíduos de óleo em todo o Nordeste.

Montamos uma equipe de 80 homens para monitorar as praias durante 24h Marcus Vinícius

Os impactos são visíveis por ser um material extremamen­te tóxico André Fraga

Estamos apenas apagando o fogo com os procedimen­tos de limpeza Clemente Coelho

MONITORAME­NTO

O presidente da Limpurb, Marcus Vinícius Passos, informou que as praias de Salvador são monitorada­s desde a última quinta. “Montamos uma equipe de 80 homens para monitorar as praias durante 24h. Temos feito reuniões constantes com o Ibama e com a Marinha para a integração de todos os órgãos”, falou. Equipes da Marinha do Brasil também atuaram na limpeza das praias de Salvador.

Apesar do avanço dos resíduos, o presidente da Limpurb disse que a população deve ficar tranquila. “A prefeitura está preparada para agir corretamen­te, esse é o nosso papel. Estamos atuando rapidament­e para não deixar o material exposto na praia e, consequent­emente, contaminar as pessoas e mais faixas de terra. Quando esse material chega em nossas praias, agimos com rapidez para que não retorne ao mar”,explicou.

No entanto, o titular da Secretaria da Cidade Sustentáve­l de Salvador (Secis), André Fraga, reforçou o alerta à população. “Os impactos (do petróleo) são visíveis, seja pela fauna ou flora, para biota ou vegetação, por ser um material extremamen­te tóxico. É importante que as pessoas saibam que não podem tocar sem uma proteção, uma luva, por exemplo. Os cidadãos devem ficar atentos a qualquer situação do tipo, ou seja, se surgir uma mancha é necessário comunicar aos órgãos competente­s”, pontuou.

VOLUNTÁRIO­S

Devidament­e protegido por luvas e calçados, para evitar o contato direto com o óleo, um dos líderes do grupo de voluntário­s Guardiões do Litoral, André Phileto, 38 anos, foi oferecer ajuda na intenção de conseguir retirar as manchas antes que a maré voltasse a encher e o mar levasse para as próximas praias.

“A gente viu que a coisa saiu do controle. A gente estava notando manchas menores. Não esperávamo­s chegar a esse nível aqui na Pituba, mesmo sabendo que no litoral norte o problema era maior. Vamos nos reunir com o resto do grupo para ver qual vai ser a nossa atitude até o final da semana. Estamos convocando um multidão para auxiliar as equipes da Limpurb na limpeza”, contou.

Segundo ele, o grupo está fiscalizan­do as praias por conta própria. “Ainda não tínhamos notado nenhum resíduo por aqui. Mas, agora chegou nessa proporção. Estamos dispostos a dar todo o suporte as equipes de limpeza, que chegaram ao local rapidament­e quando ligamos”, explicou.

CORRENTES MARÍTIMAS

Apesar de parecer estranha a mudança na intensidad­e da mancha de óleo que chega à costa, o professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universida­de de Pernambuco (UPE), Clemente Coelho, explicou que é normal.

A mancha de petróleo cru é empurrada pela correntes marinhas e sofre influência dos ventos. Coelho explicou que, agora, os ventos apontam para a Bahia e Alagoas, o que fez com que mais resíduos fossem depositado­s nas praias dos estados. “Existem manchas órfãs que derivam no oceano e chegam em pacotes conforme os ventos. Com a corrente Sul Equatorial, elas são derivadas para norte ou para sul e levadas com a maior ou menor intensidad­e”, esclareceu.

O professor ressaltou, ainda, que as manchas são extremamen­te difíceis de identifica­r pois circulam abaixo da superfície da água. Mesmo assim, ele disse que os municípios podem tentar prever a chegada do óleo com a previsão dos ventos, das ondas e o conhecimen­to empírico de pescadores e marinheiro­s. “Ainda não conseguimo­s modelar a dispersão e estamos apenas apagando o fogo

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