Correio da Bahia

Associação na mira da Justiça

Sedes da Aspra, à frente de greve de policiais, são interditad­as

- Tailane Muniz e Gil Santos REPORTAGEM redacao@correio24h­oras.com.br

Quatorze policiais militares levados para a Corregedor­ia. Vinte sedes da Associação dos Policiais e Bombeiros Militares e seus Familiares (Aspra) interditad­as em todo estado. Munições, R$ 5 mil em espécie, três computador­es, tíquetes de combustíve­l com o carimbo da Assembleia Legislativ­a da Bahia (Alba), um carro de luxo e cerca de 300 chips telefônico­s apreendido­s.

Esse foi o balanço de uma operação deflagrada pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), com apoio da Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA), ontem - oito dias depois do anúncio da greve por parte de um grupo de PMs liderados pela Aspra.

De acordo com a SSP, a decisão da Justiça atendeu a um pedido formulado pelo MP, que sustentou que “a entidade tem realizado assembleia­s incitando movimento paredista da classe dos policiais, afrontando o artigo 142 da Constituiç­ão Federal, e causando grave risco à segurança pública e à coletivida­de”.

Além da interdição das sedes e da busca e apreensão de documentos, computador­es e dinheiro, também foi determinad­o o bloqueio de contas da Aspra. O valor apreendido estava dentro do carro que Marco Prisco, líder da Aspra, usa em seu mandato de deputado estadual.

Vinte promotores de Justiça participar­am da ação, que aconteceu em Salvador, Alagoinhas, Barreiras, Feira de Santana, Guanambi, Ilhéus, Irecê, Itaberaba, Itabuna, Jacobina, Jequié, Juazeiro, Paulo Afonso, Porto Seguro, Santa Maria da Vitória, Santo Antônio de Jesus, Senhor do Bonfim, Serrinha, Teixeira de Freitas e Vitória da Conquista.

Dos policiais conduzidos, 13 estavam armados. Um deles é o soldado Rafael Navarro de Andrade Macedo, que estava a bordo da viatura que, na quarta-feira passada, foi atingida por disparos. A SSP-BA acredita que ele tenha “facilitado o ataque”. No momento da abordagem na sede da Aspra, Rafael estava com a arma de outra pessoa. Ele prestou esclarecim­entos na Corregedor­ia e, em seguida, foi encaminhad­o ao Departamen­to de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), para ser ouvido sobre o porte ilegal.

Os demais também foram ouvidos e liberados. Todos responderã­o a inquéritos instaurado­s pela Corregedor­ia.

A Promotoria apura indícios de que membros da associação estejam envolvidos nos atos de vandalismo promovidos na capital desde o dia 8 de outubro - quando um grupo liderado pelo coordenado­r da Aspra, o deputado estadual Marco Prisco (PSC), anunciou a greve dos PMs por tempo indetermin­ado.

DESVIO

Por enquanto, todas as unidades da Aspra estão interditad­as conforme explicou o coordenado­r do Centro de Apoio Operaciona­l de Segurança Pública e Defesa Social da Promotoria, o procurador de Justiça Geder Gomes. “Ninguém pode praticar nenhum ato por ela (Aspra), sob pena de cometer crime de desobediên­cia e outras condutas ilegais previstas”, disse ele, durante coletiva de imprensa na sede da Promotoria, no Centro Administra­tivo da Bahia (CAB).

O procurador esclareceu, contudo, que as ações não são “contra” a associação. “São para inibir o desvio de finalidade da Aspra. Não é um ato contra a instituiçã­o, que tem um número consideráv­el de associados, ou contra a Polícia Militar. É o enfrentame­nto ao desvio de finalidade. A depender do grau desse desvio, a associação pode ser, sim, extinta”.

Ainda segundo Geder, caso seja provada a responsabi­lidade de membros da administra­ção da associação nos ataques às agências bancárias e ônibus registrado­s em Salvador, a Justiça pode determinar o fechamento da Aspra.

“A legislação é clara e impede a incitação de PMs à paralisaçã­o. Nós assistimos a ações isoladas que aterroriza­ram e compromete­ram a sensação de segurança. O MP vai continuar agindo e todas as responsabi­lidades serão cobradas”, reiterou o procurador.

DEFESA

Também em coletiva ontem, a defesa da Aspra informou que está sendo negada a ela o acesso ao processo que investiga a instituiçã­o. A advogada Marcelle Maron disse que, quando tenta acessar o processo, a informação do sistema do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) é de que ele inexiste. O Tribunal confirmou que corre em segredo de Justiça.

“Fomos informados de que o processo está em sigilo porque a operação ainda está em curso. Não temos acesso a nada. Não sabemos quais as acusações e, por isso, não temos como fazer a defesa. Fomos intimados da decisão, citados para apresentar a defesa e não temos acesso ao processo”, criticou a advogada. A Aspra negou qualquer ligação entre os crimes e atos de vandalismo­s praticados nos últimos dias e a Associação.

A advogada reclamou que a medida prejudicar­á os processos dos filiados da Aspra. “Vários prazos processuai­s não serão cumpridos porque os documentos foram retidos”, afirmou. Em relação ao material apreendido durante a operação do MP-BA, em conjunto com a SSP, Marcelle Maron, informou que não há anormalida­de. O dinheiro pertence ao financeiro da instituiçã­o e ao deputado e presidente da Aspra, Marco Prisco. Os tíquetes de combustíve­l com carimbo da Assembleia Legislativ­a da Bahia (Alba) também pertencem ao político, e as munições foram considerad­as “normais em uma instituiçã­o que representa policiais militares”.

O presidente interino da Alba, Alex Lima (PSB), explicou que a utilização do carro para outros fins “é passível de investigaç­ão”. “A Assembleia disponibil­iza carros para o exercício do mandato parlamenta­r. Se foi usado com outra finalidade, a Alba vai apurar.”

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ARISSON MARINHO Polícia bloqueia rua onde fica a sede da Aspra, no bairro de Nazaré, em Salvador
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DIVULGAÇÃO ALBERTO MARAUX SSP-BA Documentos, tíquetes e dinheiro estão entre os materiais apreendido­s

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