Correio da Bahia

SANTA DULCE OCUPA ALTAR DE NOVOS DEVOTOS

- *COM SUPERVISÃO DA CHEFE DE REPORTAGEM PERLA RIBEIRO.

Até poucos minutos antes de encontrar a reportagem, Adelinda Fernandes, 48 anos, não tinha mais esperanças de conseguir um ingresso. “Consegui agorinha. Só pode ser mais uma graça dela”, afirmou a serviços gerais. A católica acredita que Santa Dulce sempre operou milagres em sua vida. O maior deles, no ano passado, quando o irmão Edson, diagnostic­ado com câncer no sangue, tipo raro da neoplasia, foi curado sem explicação médica.

“Ele ficou internado na Osid e eu já rezava para Irmã Dulce, que me atendeu. Agora, ela voltou a interceder por minha irmã, que parece que também foi curada de um câncer”, disparou Adelinda.

MILAGRES

De braços dados, os irmãos Marieta e Juvenal Morais caminharam na direção do estádio. Os cantores Saulo Fernandes, Margareth Menezes e Waldonys haviam acabado de apresentar a música “Doce Luz”, composição de Chico Gomes e Léo Passos que foi escolhida como a canção oficial da canonizaçã­o.

Na última semana, os dois irmãos, moradores de Urandi, no sudoeste da Bahia, enviaram um ofício à Osid em que solicitava­m ingressos. Na última sexta, veio a confirmaçã­o. “Ela fez muitos milagres, milagres com as ações, milagres de vida com as crianças que atendeu”, opinou Juvenal, 43 anos.

Os irmãos são cegos e têm mais quatro pessoas da família com deficiênci­as visuais. “O que mais me admira é que ela é a santa que superou tudo, fez tudo sempre com dificuldad­e”, falou Marieta, 46 anos, que conheceu o trabalho da Freira por meio de um amigo de Vitória da Conquista. O Vaticano reconheceu como um dos dois milagres da santa, no dia 14 de maio, a cura de José Maurício Moreira, baiano que foi cego por 14 anos e voltou a enxergar permanente­mente em 2014, depois de apelar para Irmã Dulce.

Em uma cadeira de rodas, diagnostic­ada com uma patologia congênita que impede os movimentos, Amanda Brito agradeceu à Santa Dulce dos Pobres pelo milagre da vida. Depois do nascimento, os médicos assegurava­m que a menina de Catu não viveria mais de 20 dias. A avó Teresinha recorreu à fé para pedir que a neta saísse ilesa de todas as oito cirurgias.

“A fé é valiosa. Irmã Dulce nos mostra que somos capazes de superar todas as dificuldad­es, essa sempre foi a essência de tudo”, avaliou Amanda, hoje moradora do Rio de Janeiro.

No início da noite, as lanternas ligadas pelos fiéis começaram a iluminar a Arena Fonte Nova. Por pelo menos oito horas, e em nome de Dulce, todos transforma­ram Salvador em sua terra santa. Ao lado de São Francisco de Assis, Santo Antônio e Nossa Senhora, está Santa Dulce dos Pobres. A imagem da santa chegou à casa de Neilton na última semana, embora a devoção tenha surgido lentamente, ao longo dos anos e dos exemplos. Uma das quatro filhas do contador já acompanhav­a o avô à Osid nos últimos momentos de vida e a obra da freira era observada de longe por Neilton Galvão, 51 anos, ilheense que descobriu a história de Dulce apenas em 1985.

“Era uma mulher muito forte, que transformo­u a vida de muita gente”, afirmou, vestido de blusa preta com a imagem do rosto da santa.

A devoção na nova santa ganha cada vez mais espaço na casa e na vida dos católicos que já reconhecia­m Dulce como o “anjo bom da Bahia”. A imagem da santa sumiu das prataleira­s, tamanha demanda, como mostrou reportagem do CORREIO na última sexta.

No pescoço, a aposentada Vera Velame, 85 anos, carregava as imagens de São Francisco de Assis, Santo Antônio e Nossa Senhora. A admiração por Dulce, que agora se converteu em fé, surgiu quando Vera era jovem e visitava conhecidas que eram pacientes na Osid. Um dia, depois de entrar no Hospital Santo Antônio, avistou a figura da freira.

“Frágil e dócil ao mesmo tempo. Temos que agradecer muito a Deus por ela. Era doce, mas também austera, como toda santa deve ser”, recordou a aposentada.

Desde os primeiros anos no antigo trabalho, um escritório de contabilid­ade na Avenida Djalma Dultra, Alzenete acompanhou a saga de Irmã Dulce. Da sala, avistava a freira pedindo dinheiro e doações para seus meninos e meninas.

“Falavam dela como ‘uma velha’ pidona. Eu ficava admirada. Agora sou devota também. Nas minhas rezas, ela já está”, contou Alzenete Guedes, 70 anos, que conseguiu ingresso com a filha que é enfermeira das Obras Sociais Irmã Dulce.

No mês passado, a aposentada comprou a primeira imagem da Santa Dulce dos Pobres. Espalhados pela Arena Fonte Nova, fiéis seguravam pequenas e grandes esculturas, pôsteres e folhetos da nova santa. A santa que, agora, os baianos podem chamar de sua.

Minha relação com Irmã Dulce é forte. Digo que minha filha é presente de Irmã Dulce, a criei sozinha, com ajuda dos familiares...Irmã Dulce é um próprio milagre, seu nascimento é o milagre. Tem muitos milagres que a gente ainda não conhece Ivana Leme Artista plástica

Ele ficou internado na Osid e eu já rezava para Irmã Dulce, que me atendeu. Agora, ela voltou a interceder por minha irmã, que parece que também foi curada de um câncer Adelinda Fernandes Profission­al de serviços gerais

Ela fez muitos milagres, milagres com as ações, milagres de vida com as crianças que atendeu Juvenal Morais Devoto

Aféé valiosa. Irmã Dulce nos mostra que somos capazes de superar todas as dificuldad­es, essa sempre foi a essência de tudo Amanda Brito Devota

Falavam dela como ‘uma velha’ pidona. Eu ficava admirada. Agora sou devota também. Nas minhas rezas, ela já está Alzenete Guedes Contadora

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