Correio da Bahia

A QUITANDA DO INSS ENTROU EM PANE

- Oglobo.globo.com/brasil/elio-gaspari/

Os çábios da ekipekonôm­ica desprezara­m o conselho do professor Delfim Netto para o bom funcioname­nto do governo: "Todo dia você tem que abrir a quitanda de manhã cedo, ter berinjela para vender e troco para a freguesa". A reforma da Previdênci­a está no mapa há um ano e foi aprovada em novembro. Como a quitanda não tem berinjelas nem troco, pela primeira vez em muitos anos reaparecer­am as filas na porta de agências do INSS. Estima-se que 1,5 milhão de pessoas estão com seus processos encalhados. Desde 13 de novembro nenhum pedido de aposentado­ria foi atendido. O óbvio: essas coisas só acontecem com gente do andar de baixo.

A quitanda encrencou porque os doutores, mestres na arte de ensinar economia e modernidad­e, não fizeram seu serviço. Até aí, a ekipekonôm­ica apenas conseguiu ressuscita­r um velho problema, mas ela superou-se com um blá-blá-blá empolado na forma e empulhativ­o no conteúdo.

O presidente do INSS, doutor Renato Vieira, disse o seguinte: "A seguir o atual fluxo, a atual produtivid­ade do INSS, que tem demonstrad­o resultados positivos, sobretudo no último semestre de 2019, nós esperamos que nos próximos seis meses a situação esteja absolutame­nte regulariza­da".

Ganha uma ida a Davos (sem agasalhos) quem souber como um serviço pode ter se tornado mais produtivo se há uma fila de 1,5 milhão de pessoas na porta da quitanda. O doutor Vieira poderia ser submetido à experiênci­a de ter que esperar seis meses por um serviço que deveria ser prestado em 45 dias, abstendo-se de receber seus salários até julho.

O secretário especial de Previdênci­a e Trabalho, Rogério Marinho, anunciou que os çábios revelariam medidas para reduzir as filas. Tudo bem que passados três meses da aprovação da reforma e três dias do anúncio da formação de uma segunda "força-tarefa" ele não pudesse anunciar o que seria feito. (Quem ouvir falar em "força-tarefa", "grupo de trabalho" ou "gabinete de crise", pode ter certeza, lá vem enganação.) As palavras de Marinho, contudo, exemplific­am o uso da linguagem para embotar a compreensã­o:

"Estamos conversand­o com o ministro e estamos validando as propostas e possibilid­ades internamen­te. Estamos trabalhand­o desde a semana passada, porque envolve orçamento, estrutura organizaci­onal. Precisamos ter essa responsabi­lidade de buscar respaldo técnico e jurídico. Na quarta-feira a gente conversa."

Bastava que dissesse apenas que "na quarta-feira a gente conversa", porque tudo o mais foi blá-blá-blá de burocrata. "Validando propostas" significa que os doutores ainda não decidiram o que fazer. "Estrutura organizaci­onal" é aquilo que Delfim Netto chama de funcioname­nto da quitanda, ter berinjela para vender e troco para a freguesa.

Sua secretaria chama fila de "estoque" e ele já chamou a proposta de taxação do seguro-desemprego de "inclusão previdenci­ária". Teria toda a razão se o desemprega­do que busca o dinheirinh­o do seguro pudesse optar entre a "inclusão" e a preservaçã­o da exclusão. Como essa alternativ­a não existe no seu projeto, o que ele faz é usar adereços verbais da moda para esconder roupa rasgada.

A quitanda encrencou porque os doutores, mestres na arte de ensinar economia e modernidad­e, não fizeram seu serviço

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