Correio da Bahia

A pé pela fé, de barco pelo open bar

- VINÍCIUS NASCIMENTO, COM SUPERVISÃO DA SUBEDITORA FERNANDA VARELA

Formalidad­es, como a matemática exata que define a data da Lavagem do Bonfim, pouco importam para os fiéis e profanos que seguem o Cortejo do Senhor do Bonfim. Seja quando for, todos os caminhos levam para a Colina Sagrada. Mas, e na hora de voltar? Nossa missão foi ir à rua para descobrir como a galera faz para ir embora. Certamente não encontramo­s todas as respostas, mas conseguimo­s algumas bem legais.

A tradição aponta que o mais correto é ir a pé. E tem gente que faz isso das mais variadas maneiras: tomando uma, protestand­o, brigando por um espacinho perto do adro... A lista é gigante. Na hora de voltar, quem tem as pernas em dia volta andando. Também tem a galera do buzu, mas o que chamou atenção mesmo foi a turma da escuna. Sim, isso mesmo. Escuna, barco. E nem é para a Ilha de Itaparica.

O trânsito da Cidade Baixa não vive seus dias mais pacíficos quando tem Lavagem do Bonfim. O jeito foi arranjar uma forma de fugir desse caos e, de quebra, esticar a festa.

Quem volta de escuna pega o barco na região do Estaleiro do Bonfim e paga valores que vão de R$ 50 a R$ 100 para fazer uma viagem que pode terminar no Comércio, Gamboa ou Barra. Boa parte deles conta com Open Bar, garantindo aquela geladinha até na hora de ir embora.

Estudante de Geografia na Ufba, Matheus Figueiredo explica que a Lavagem do Bonfim é uma tradição de família. Quando criança, ia acompanhad­o pelos pais, e agora, aos 22 anos, puxa os amigos para transitar entre o sagrado e o profano. Ele juntou um grupo para, pela primeira vez, voltar pelo mar. Pela tradição, foi a pé. Pela “descaração”, voltou de barco. Cada um pagou R$ 80 pelo trajeto que saiu do Bonfim e foi até o Yacht Clube, na Barra. “É cana antes, cana durante e cana depois”, contou aos risos.

Mergulhado­r e presidente da Associação Ambiental de Pesca e Conservaçã­o, Fernando Suber aproveita a Lavagem para fazer uma grana extra. Junto a alguns colegas, ele deixa seu barco nas proximidad­es do estaleiro e faz o transporte de fiéis e profanos até às escunas.

Deu pra ver que o mais normal é ter escunas já planejadas para as pessoas saírem da Lavagem ‘na lama’. Parece paradoxo, mas é real.

O estudante da Ufba, de 22 anos, vai ao Bonfim desde pequeno por tradição familiar

Aos poucos, tudo vai fazendo sentido. Todos os esforços valem a pena quando, em Dendezeiro­s, a gente dá de cara com a Igreja do Bonfim Bruno Wendel

Repórter

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