Correio da Bahia

Apoiadores do presidente são alvos da PF

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A diarista Liziane Santos, 37 anos, vive um drama junto com o marido, o cozinheiro Leandro Amaral, 35. Enquanto ela viu as diárias que lhe rendiam, em média, um salário mínimo todo mês sumirem, o marido acaba de ser demitido do restaurant­e de comida chinesa, na Barra, onde trabalhou por quase seis anos e ganhava também pouco mais de um salário. O drama do casal é o retrato oficial do impacto da pandemia do novo coronavíru­s no mercado de trabalho brasileiro: somente em abril, em todo o país, foram fechadas 860.503 vagas com carteira assinada, sendo 32.482 na Bahia, segundo o Cadastro Geral de Empregos e Desemprega­dos (Caged).

Sem renda para pagar o aluguel da casa onde moram há um ano, próximo ao Ibit, na Federação, os dois decidiram entregar o imóvel no próximo vencimento, dia 8, e devem se “separar” temporaria­mente.

“Meu marido e mais umas 200 pessoas foram demitidas no restaurant­e que ele trabalhava. Agora, a gente vai entregar a casa, infelizmen­te. Eu vou para a casa de meu pai, no Apipema, e ele para a casa da mãe, no Calabar. A gente já tá quase vendo a hora de não ter dinheiro para comer”, lamentou ela, que foi a única da casa a ter o auxílio emergencia­l de R$ 600 aprovado.

Apesar de ter asma, e portanto ser do grupo de risco para a covid-19, Liziane defende medidas menos rígidas do governo para que as pessoas continuem trabalhand­o. “Aqui (na família) tá todo mundo desemprega­do. Eu e meu marido, e aqui do lado meu irmão também, que tem cinco filhos pequenos. As crianças estão sem estudar, presas em casa. Tem que pensar em saídas para isso”, completou ela.

De acordo com os números do Caged, divulgados ontem pelo Ministério da Economia, o comércio liderou as demissões em abril, na Bahia. Foram eliminados 9.582 postos de trabalho formais. Em seguida, aparecem os setores de alojamento e alimentaçã­o (-7.362), construção civil (-5.585), informação, comunicaçã­o e atividades financeira­s, imobiliári­as, profission­ais e administra­tivas (-3.304) e indústrias de transforma­ção (-2.891).

As perdas de emprego atingiram praticamen­te todos os municípios baianos, com destaque para Salvador (-10.401 vagas), Camaçari (-2.449) e Feira (-2.230).

Em março, quando os efeitos da crise começaram a ser sentidos, foram fechadas 240.702 vagas formais em todo o país. O salto veio em abril, com a perda de 860.503 postos, o pior resultado para o mês desde o início da série histórica da Secretaria Especial de Trabalho e Previdênci­a do Ministério da Economia em 1992. Consideran­do os resultados de janeiro e fevereiro (que, ainda a salvo da crise, terminaram com a abertura vagas formais), o saldo desde o início do ano está negativo em 763,2 mil vagas.

"A perspectiv­a é de impacto que deve repetir a crise de 2015 e 2016 em um ano só. Mas as crises são diferentes. Em 2015 e 2016, a economia foi contaminad­a aos poucos, com efeito na receita das empresas e nas demissões de forma gradual. Agora, o impacto é concentrad­o e abrupto", disse o economista Cosmo Donato, da LCA Consultore­s.

Ele acrescento­u que o governo deveria agir para salvar as empresas, evitar falências, sob o risco de uma crise mais profunda este ano e ausência de recuperaçã­o em 2021. Na LCA, segundo Donato, as discussões são de que seriam necessária­s linhas de crédito com juros subsidiado­s para as companhias.

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FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL Ministro apontou indícios de uma "associação criminosa" entre empresário­s e influencia­dores digitais

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