Bares e restaurantes são os que mais demitem
Aos 44 anos, Anderson Gonzalez está desempregado pela primeira vez. No começo de maio, foi demitido do restaurante de São Paulo onde trabalhava como chef e gerente de cozinha há oito anos. Saiu numa segunda onda de demissões. "Estávamos operando com sistema de delivery, o que manteve o estabelecimento aberto, mas com faturamento muito baixo. O dono disse que iria me mandar embora enquanto tinha dinheiro para pagar o que me devia", diz ele, que está em casa e acredita que procurar emprego, por agora, vai ser uma perda de tempo. "Enquanto essa crise não passar, eu não acho que vai adiantar tentar uma recolocação."
Os dados de desemprego divulgados ontem pelo governo mostram que a maior perda de vagas com carteira assinada após a chegada da covid-19 está nos setores de comércio e serviços. E, dentro destes, certamente o de bares e restaurantes é um dos mais atingidos. Embora os dados oficiais, pelo menos por enquanto, não mostrem isso, uma pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurante (Abrasel) indica que 1 milhão de trabalhadores formais do setor ficaram sem emprego de março até a primeira quinzena de maio.
Segundo Paulo Solmucci, que preside a instituição, esse número corresponde a 30% dos 3 milhões de empregados diretos nos estabelecimentos pelo país: "A MP que reduziu jornadas e salários ajudou a segurar a quebradeira. Mas os empresários não conseguiram dinheiro nos bancos, não conseguiram crédito. Nossos levantamentos indicam que 80% dos empresários buscaram crédito nos bancos. Mas, destes, 81% tiveram o empréstimo negado."
Os impactos, evidentemente, não param aí. Viviane Seda, coordenadora de Sondagens do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), avalia que o aumento das demissões vai ser inevitável, apesar das medidas de redução de jornadas e salários.