Correio da Bahia

A dor daqueles que não puderam se despedir

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Pai de cinco filhos, dois homens e três mulheres – uma adotada. Sulivaldo foi descrito pela família e moradores da Rua da Jaqueira como um rapaz que não negava trabalho. Não foi difícil encontrar pessoas que disseram já ter feito alguma intervençã­o na sua residência com o auxílio do pedreiro. “Ele rebocou a minha casa e nunca teve nenhum problema. Foi nascido e criado nessa rua”, lembra a vizinha Vanilda Conceição, 49.

No bar que Sulivaldo estava também funcionava uma mercearia, sendo um local bastante frequentad­o da rua. “Ali era o nosso point. Muita gente que frequenta o espaço escapou, pois tem o costume de ficar no local. Eu mesmo ia para lá beber”, disse Vanilda. Um dos mais assíduos frequentad­ores era Sulivaldo, que passou a beber mais nos últimos anos de vida. “A gente sempre pedia para ele sair da bebida, mas ele gostava”, disse a filha Larissa Santos, 22.

Outra pessoa que também estava no bar, mas tinha acabado de sair quando o acidente aconteceu, foi o filho de Sulivaldo, Robert Menezes, 17. “Eu estava ali com um amigo conversand­o. Tinha acabado de sair quando, do nada, ouvi o estalo. Eu estava de costas. Quando virei, só vi a fumaça. Eu vim correndo para tentar ajudar. Fiquei segurando na mão dele esperando o Samu. Como é duro perder um pai”, disse Robert. Larissa também conta que a família vem passando por dificuldad­es, acentuadas nesse período de pandemia e pede ajuda, que pode ser dada por meio do telefone dela (71-98603-0369).

Segundo o diretor da Defesa Civil de Salvador (Codesal), Sosthenes Macêdo, a causa do acidente foi uma construção irregular sem a técnica devida somado à falta de manutenção predial. A Secretaria de Desenvolvi­mento e Urbanismo (Sedur) foi acionada para retirar os escombros e as partes soltas da marquise, o que foi finalizado ontem. Não houve problema na parte interna do imóvel. O enterro de Sulivaldo será na manhã de hoje, às 10h, no cemitério municipal de Periperi.

as buscas por imóveis na Bahia cresceram, em média, 23% durante a pandemia. A procura por casas e apartament­os com três ou mais quartos também aumentou em 31%, com salto de 36% para compra e de 21% para aluguel. Os dados são de abril e maio, em comparação com o mesmo período de 2019.

Uma outra pesquisa, feita pela Ademi-BA, com apoio da Abap-BA e ABMP-BA, através da Hibou, mostrou uma certa insatisfaç­ão de muitos baianos com suas residência­s. O estudo entrevisto­u cerca de 500 pessoas, das quais 39,2% afirmaram que pensam em comprar imóveis nos próximos 12 meses. E 47.7% disseram que já começaram a buscar uma nova moradia.

Um ambiente apropriado para o home office é o sonho da grande maioria dos participan­tes: 72,9% comentaram que acham importante um local, dentro de casa, dedicado ao trabalho - não somente para o momento atual, como para o pós-pandemia. E 64.5% falaram que precisa ser um cômodo exclusivo da residência.

Essa é a meta de Luiza Rocha, 29. A advogada, atualmente, vive com a mãe, mas está a procura de uma morada só sua. Como trabalha bastante em casa, planeja um espaço para o home office. "Na casa onde moro hoje, uso o notebook na mesa de jantar, o que acaba sendo ruim porque tem movimento na casa - além de ter uma cadeira desconfort­ável para passar várias horas. Tenho buscado imóvel de dois quartos justamente para poder transforma­r um deles em um escritório e ter esse conforto”.

Na pesquisa da Ademi-BA, 73.9% dos participan­tes assumiram que pensam em um espaço exclusivo de estudo para as crianças, mesmo após as aulas voltarem. "Nós passamos a exercer algumas atividades que, antes, não desempenhá­vamos em casa. A casa começou a ser multitaref­as - a gente precisa trabalhar, os filhos têm que estudar. Os móveis atendem à ergonomia, para que a pessoa consiga, de fato, ficar muito tempo trabalhand­o e/ou estudando? Como é a manutenção, a limpeza? Tudo isso fez com que os baianos reavaliass­em os imóveis e a forma de morar", explica o presidente da Ademi-BA, Cláudio Cunha.

Ao abrir as portas do Boeing 737 que o trouxe de Curitiba e ser saudado pelo calor do inverno soteropoli­tano, o papa João Paulo II deparou-se com um corredor de autoridade­s que, ansiosos, esperavam por ele na Base Aérea de Salvador. Dentre políticos e cardeais, uma freira de 1,48m chamada Irmã Dulce se destacava.

Eufórica por ver o sumo pontífice de perto, Dulce quebrou o protocolo e foi ao encontro de sua santidade. Em frente ao papa, o abraçou, se ajoelhou e beijou seus pés. Ninguém ali poderia imaginar, mas o encontro da freira baixinha com o polonês de cabelos brancos era um encontro de futuros santos para a Igreja Católica.

Há 40 anos acontecia este encontro divino, às 15h daquele 6 de julho de 1980. Era a primeira vez que um papa colocava os pés na Bahia.

Após deixar o aeroporto, o papa começou um desfile de 36km pela orla de Salvador até a Catedral Basílica, no Terreiro de Jesus. Cerca de 1,5 milhão de pessoas, o mesmo número de habitantes da capital na época, se aglomerava­m por toda a orla e não desanimava­m nem com a forte chuva. “Foi um momento lindo. Só pude ver ele rapidinho enquanto passava em seu carro mas já valeu a pena”, lembra a aposentada Maria Motta, 83, que ficou na frente do antigo Clube Espanhol para olhar o papa de pertinho.

Após o tour pela orla, João Paulo II chegou a Catedral Basílica, onde fez um pronunciam­ento apenas para convidados e se dirigiu até o palácio residencia­l de Dom Avelar Brandão Vilela, arcebispo de Salvador à época, no Campo Grande, onde iria dormir. Da janela, leu 13 laudas de um pronunciam­ento para as mais de 50 mil pessoas que o esperavam.

A voz rouca e desgastada era um sinal do cansaço devido à jornada que estava enfrentand­o. Com 60 anos, João Paulo II estava apenas na metade de uma maratona tropical que envolvia visitar 13 cidades brasileira­s em 12 dias.

Ao ver toda essa correria, a ialorixá Mãe Stella de Oxóssi decretou: João Paulo II era filho de Ogum. Em entrevista ao antigo Jornal do Brasil ela ainda brincou dizendo que se fosse levar em consideraç­ão as cores do Vaticano, amarelo e branco, ele seria filho de Oxum. “Mas com toda essa peregrinaç­ão, com certeza ele é filho de Ogum, dono das estradas e da vida”, apontou Mãe Stella.

No dia seguinte, o papa acordou cedo para receber pacientes do antigo leprosário de Águas Claras e descendent­es de poloneses no palácio residencia­l. Depois, subiu no helicópter­o para ir até o bairro dos Alagados, onde 110 mil pessoas o esperavam.

Esse bairro foi escolhido para receber o papa por ser um símbolo dos locais socialment­e críticos de Salvador na época. Segundo Dom Avelar, os Alagados representa­vam a luta do povo que saía do interior para as grandes cidades em busca de melhores condições de vida e que, muitas vezes, eram obrigados a construir palafitas para sobreviver.

Naquele bairro, em 1980, cerca de 25% dos moradores viviam em palafitas construída­s sobre a lama da enseada dos Tainheiros, que anos antes recebeu sete toneladas de mercúrio despejadas pela Companhia Química do Recôncavo em suas águas,

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Santos, uma das cinco filhas de Sulivaldo, observa escombros da tragédia que vitimou seu pai
MARINA SILVA Larissa Santos, uma das cinco filhas de Sulivaldo, observa escombros da tragédia que vitimou seu pai
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HIPÓLITO/ARQUIVO CORREIO Papa com Antônio Carlos Magalhães, governador da Bahia na época
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HIPÓLITO/ARQUIVO CORREIO No papa-móvel, João Paulo II acena para multidão que o esperava na orla
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OSID/DIVULGAÇÃO Irmã Dulce furou bloqueio para conseguir se aproximar do papa

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