Correio da Bahia

Na Educação ena Cultura, o bolsonaris­mo mostra a diferença entre o conservado­rismo e o atraso

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A Casa de Rui Barbosa merece respeito. O repórter Lauro Jardim revelou o teor de uma mensagem de sua presidente, Letícia Dornelles.

Nela, dizia o seguinte: “Sua excelência, o ilustre ministro Cachorro, da Suprema Corte Cachorral, prepara habeas corpus para seus nobres colegas cachorrinh­os poderem latir em paz. Liberdade de expressão cachorral.”

Ainda não se sabe a qual “cachorro” do Supremo Tribunal ela se dirigia. Sabe-se que a senhora foi nomeada pelo ministro Osmar Terra, comendador da Ordem da Covid, médico e ex-secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, famoso por ter previsto, em abril passado, que o coronavíru­s mataria, no máximo, duas mil pessoas no Brasil. Já matou 120 mil.

A presidente da Casa de Rui é uma carta do baralho bolsonaris­ta na qual estiveram um ministro da Educação para quem “brasileiro viajando é um canibal, rouba coisas nos hotéis”. Foi sucedido por outro que chamou os ministros do Supremo de “vagabundos”. Na Secretaria de Cultura o bolsonaris­mo colocou um cidadão que entrou no cargo parafrasea­ndo Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Hitler. Para seu lugar foi a atriz Regina Duarte, que infelicito­u sua biografia com uma entrevista na qual relativizo­u os assassinat­os praticados durante a ditadura.

Na Educação e na Cultura, o bolsonaris­mo mostra a diferença entre o conservado­rismo e o atraso. A Casa de Rui foi dirigida de 1939 a 1993 pelo historiado­r Américo Jacobina Lacombe. Era um conservado­r da cepa de Hélio Vianna. Trabalhava em cima de arquivos e, assim, deu corpo ao acervo da Casa que dirigiu. Em 1964, quando nos comícios gritava-se “Reforma agrária na lei ou na marra”, ele assinou um manifesto contra a edição de uma “História nova” pelo Ministério da Educação. Criticava-a porque era esquerdist­a, mas também porque era ruim. Meses depois, o governo de João Goulart foi deposto, e o marechal Castello Branco assumiu a Presidênci­a. Ele era cunhado de Hélio Vianna que, como Lacombe, havia militado no movimento integralis­ta, uma contrafaçã­o nacional do fascismo italiano. Nenhum dos dois associou-se ao terror cultural do regime. (Por justiça, diga-se que o próprio Castello Branco condenava os excessos que se praticavam.) Eram todos conservado­res, mas não eram atrasados, muito menos ignorantes.

Aquilo que hoje se chama de Nova Direita tem um dente envenenado com a cultura e outro com o Poder Judiciário. Quando os bolsonaris­tas investem contra o Supremo Tribunal, ecoam as táticas dos húngaros de Viktor Orbán e dos poloneses do partido Lei e Justiça. Ambos detestam também a imprensa, mas essa é outra conversa. A raiva bolsonaris­ta, como a da presidente da Casa de Rui, vem dessa raiz, mas a senhora Letícia não percebeu que a Casa que dirige tem o nome do patrono dos advogados brasileiro­s.

No mês passado completou um ano a publicação de um edital do Fundo Nacional de Desenvolvi­mento da Educação que pretendia gastar R$ 3 bilhões na compra de 1,3 milhão de computador­es, laptops e tablets para escolas da rede pública. Um colégio que tem 255 alunos receberia 30.030 laptops. A Controlado­ria-Geral da União apontou esse vício e vários outros. O edital foi cancelado.

Até hoje não se sabe quem botou o jabuti na árvore.

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