Enxame sísmico explica tremores
Recôncavo Fenômeno ocorre quando um terremoto maior desencadeia outros menores
Após o terceiro dia consecutivo de tremores no interior da Bahia, pesquisadores da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) suspeitam que possa se tratar de um enxame sísmico. O fenômeno acontece quando um tremor de magnitude maior - como o que ocorreu no domingo, de 4,6 na escala Richter - desencadeia evento menores, como os que foram sentidos na madrugada de segunda para terça-feira em Amargosa.
É o que explica o sismólogo e geofísico Juraci Carvalho, que integra o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (Obsis/UnB). Carvalho diz que a falha geológica que se encontra no Recôncavo, uma das 42 existentes no Brasil, que está sobre a placa tectônica Sul-Americana, está em período de acomodação, o que gera esses novos terremotos diários.
“Sempre que ocorre um tremor de magnitude pequena para média, geralmente, tem um período de acomodação, em que a falha começa a ser submetida por um esforço e se rompe. Pequenos pedaços continuam se rompendo até uma acomodação total. Pode acontecer esse ciclo por semanas, meses ou até anos. Esses eventos que têm mais ou menos a mesma magnitude podem ser um enxame sísmico, mas estamos ainda nos estudos preliminares”, esclarece o pesquisador.
Nos últimos três dias, desde domingo, 16 sismos foram registrados pelo Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN). Houve um décimo sétimo tremor notado em São Miguel das Matas no sábado, de magnitude 1,8. Três foram detectados na manhã de ontem: em Amargosa, de 1.8 e 1.96, respectivamente, e em Santo Antônio de Jesus, de 2.24.
Para confirmar a teoria do enxame sísmico e tentar explicar o porquê desses tremores terem reaparecido agora, o Labsis, em parceira com a RSBR, vai instalar mais nove novas estações na Bahia. Hoje, só existem três no estado: em Itapé, Baixa Grande e Ponto Novo. A mais próxima fica a 200 km de Amargosa, o que só permite detectar tremores a partir de 1,8.
A probabilidade é que os tremores continuem. “Pode ser que eles continuem diminuindo a magnitude, como também pode ter uma outra reativação da falha e acontecer outro evento maior. Em termos de terremoto, a natureza não avisa muito”, diz o sismólogo Juraci Carvalho.
Se a teoria for confirmada, não será a primeira vez que enxames sísmicos acontecem no Nordeste. Os eventos mais marcantes ocorreram em João Câmara (RN), conhecida como Terra dos Abalos. Segundo o coordenador do LabSis, Anderson Nascimento, os sismos duraram 24 anos. O mais intenso foi de 5.1, em 30/11/1986, que deixou 4 mil desabrigados. Outro município atingido é Cascavel (CE), que teve dezenas de terremotos. O mais grave foi de 5.2, em 20/11/1980, o maior do Nordeste.