Correio da Bahia

Enxame sísmico explica tremores

Recôncavo Fenômeno ocorre quando um terremoto maior desencadei­a outros menores

- Marcela Villar * REPORTAGEM redacao@correio24h­oras.com.br

Após o terceiro dia consecutiv­o de tremores no interior da Bahia, pesquisado­res da Rede Sismográfi­ca Brasileira (RSBR) suspeitam que possa se tratar de um enxame sísmico. O fenômeno acontece quando um tremor de magnitude maior - como o que ocorreu no domingo, de 4,6 na escala Richter - desencadei­a evento menores, como os que foram sentidos na madrugada de segunda para terça-feira em Amargosa.

É o que explica o sismólogo e geofísico Juraci Carvalho, que integra o Observatór­io Sismológic­o da Universida­de de Brasília (Obsis/UnB). Carvalho diz que a falha geológica que se encontra no Recôncavo, uma das 42 existentes no Brasil, que está sobre a placa tectônica Sul-Americana, está em período de acomodação, o que gera esses novos terremotos diários.

“Sempre que ocorre um tremor de magnitude pequena para média, geralmente, tem um período de acomodação, em que a falha começa a ser submetida por um esforço e se rompe. Pequenos pedaços continuam se rompendo até uma acomodação total. Pode acontecer esse ciclo por semanas, meses ou até anos. Esses eventos que têm mais ou menos a mesma magnitude podem ser um enxame sísmico, mas estamos ainda nos estudos preliminar­es”, esclarece o pesquisado­r.

Nos últimos três dias, desde domingo, 16 sismos foram registrado­s pelo Laboratóri­o Sismológic­o da Universida­de Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN). Houve um décimo sétimo tremor notado em São Miguel das Matas no sábado, de magnitude 1,8. Três foram detectados na manhã de ontem: em Amargosa, de 1.8 e 1.96, respectiva­mente, e em Santo Antônio de Jesus, de 2.24.

Para confirmar a teoria do enxame sísmico e tentar explicar o porquê desses tremores terem reaparecid­o agora, o Labsis, em parceira com a RSBR, vai instalar mais nove novas estações na Bahia. Hoje, só existem três no estado: em Itapé, Baixa Grande e Ponto Novo. A mais próxima fica a 200 km de Amargosa, o que só permite detectar tremores a partir de 1,8.

A probabilid­ade é que os tremores continuem. “Pode ser que eles continuem diminuindo a magnitude, como também pode ter uma outra reativação da falha e acontecer outro evento maior. Em termos de terremoto, a natureza não avisa muito”, diz o sismólogo Juraci Carvalho.

Se a teoria for confirmada, não será a primeira vez que enxames sísmicos acontecem no Nordeste. Os eventos mais marcantes ocorreram em João Câmara (RN), conhecida como Terra dos Abalos. Segundo o coordenado­r do LabSis, Anderson Nascimento, os sismos duraram 24 anos. O mais intenso foi de 5.1, em 30/11/1986, que deixou 4 mil desabrigad­os. Outro município atingido é Cascavel (CE), que teve dezenas de terremotos. O mais grave foi de 5.2, em 20/11/1980, o maior do Nordeste.

 ??  ?? Os abalos registrado­s em Amargosa, de sábado para cá, causaram rachaduras em algumas casas; o Brasil se localiza sobre a placa tectônica Sul-Americana
Os abalos registrado­s em Amargosa, de sábado para cá, causaram rachaduras em algumas casas; o Brasil se localiza sobre a placa tectônica Sul-Americana

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil