Com rasteira da covid, PIB tem queda histórica
Brasil entra em recessão; resultado não foi pior graças ao agro e ao auxílio
A pandemia do novo coronavírus provocou um tombo histórico na economia brasileira no 2º trimestre deste ano (1º de abril a 30 de junho). Segundo o IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país) caiu 9,7% em relação aos três primeiros meses do ano, e 11,4% na comparação com o 2º trimestre de 2019. Ambas as taxas são as quedas mais intensas da série histórica, iniciada em 1996. No acumulado dos quatro trimestres terminados em junho, houve queda de 2,2% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores.
Foi também o segundo trimestre de retração - a queda do primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2019 foi revisada para 2,5%, ante o 1,5% inicialmente informado -, primeira vez que isso ocorre desde 2016. Duas retrações seguidas caracterizam uma "recessão técnica".
O IBGE afirmou que adotou tratamentos específicos no Sistema das Contas Nacionais para retratar os impactos da covid, em conformidade com o que foi realizado em outros países, mas que não houve mudança metodológica. O pressuposto básico foi equiparar uma hora de teletrabalho a uma hora de trabalho presencial.
As maioria dos países também sofreram retração no período. Mas no caso brasileiro, a queda foi tão pior do que em outras crises enfrentadas pelo país porque "nunca antes se propôs uma política que fosse desligar a economia", analisou Eduardo Zilbermann, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, numa referência às regras de restrição adotadas para conter a doença. Em outras crises - causadas por inflação, desequilíbrios nas contas externas ou bolhas financeiras, etc. -, as empresas entram em dificuldade, suspendem investimentos e demitem funcionários, ou a renda das famílias é corroída. Mas as lojas seguiam vendendo, girando a roda da economia. Só que o "desligamento" fechou lojas, levando vendas e produção para quase zero.
Como explica Zilbermann, o PIB é uma medida de fluxo, de quanto se produz ao longo do tempo. Assim, mesmo que a parada para valer tenha sido em abril, a reabertura gradual a partir de maio foi insuficiente para salvar o PIB do segundo trimestre.
CONSUMO
O quadro só não foi pior por causa das medidas adotadas pelo governo para mitigar a crise, com destaque para o auxílio emergencial de R$ 600 ao mês pago aos mais pobres e aos trabalhadores informais. Ainda assim, esse impulso não impediu o tombo de 12,5% no consumo das famílias ante o primeiro trimestre do ano.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, disse que além do impulso do auxílio emergencial no consumo, contribuiu para a melhora do quadro o crescimento do