Deltan Dallagnol deixa a Lava Jato
Justiça Coordenador da força-tarefa alega necessidade de dedicação à família
O procurador da República Deltan Dallagnol anunciou ontem a saída do comando da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba. Os investigadores sediados na capital paranaense formam o grupo original da operação que levou à prisão e ao banco dos réus alguns dos mais poderosos nomes do Executivo e do Legislativo no país.
Deltan estava à frente da força-tarefa desde o início das investigações, em 2014, e alegou motivos pessoais para deixar a equipe. Em vídeo postado no Twitter, ele justificou sua saída afirmando que precisa agora se dedicar à família, já que sua filha está passando por tratamento médico. Recorreu à mesma frase usada pelo ex-juiz da Lava Jato na capital paranaense Sérgio Moro ao deixar o Ministério da Justiça, em abril.
“Vou estar à disposição do Brasil”, afirmou, destacando que continuará a “lutar contra a corrupção como procurador e como cidadão”. Moro, que já defendeu Deltan em ’ataques’ à Lava Jato também se manifestou sobre a saída do procurador do comando da operação: “Parabenizo o Procurador Deltan Dallagnol pela dedicação à frente da Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba, trabalho que alcançou resultados sem paralelo no combate à corrupção no país. Apesar de sua saída por motivos pessoais, espero que o trabalho da FT possa prosseguir”.
O substituto de Deltan será o procurador Alessandro José Fernandes de Oliveira. Para os críticos, a saída do procurador expôs o enfraquecimento da Lava Jato. A atuação de Deltan ainda hoje é alvo de diversas contestações no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), órgão que fiscaliza o trabalho dos procuradores.
Para integrantes da força-tarefa de Curitiba, a saída de Deltan tem peso mais simbólico do que prático para o futuro do grupo, pois não muda o andamento dos processos. Mas a decisão pode levar outros membros a deixarem o grupo. “Dallagnol é e sempre foi o coração da Lava Jato. Uma espécie de motor do idealismo de combate à corrupção”, afirmou o ex-integrante da força-tarefa, o procurador aposentado Carlos Fernandes dos Santos Lima.
POLÊMICAS
Em 2019, a imagem de Deltan sofreu desgaste após diversas mensagens suas via aplicativo de celular terem sido expostas inicialmente pelo site The Intercept Brasil. As mensagens mostraram que ele mantinha contato frequente com Moro, então juiz da operação, com quem trocava informações sobre o caso.
As mensagens também indicavam que Dallagnol planejava montar uma empresa de eventos e palestras para lucrar com a fama da Lava Jato e que ele pediu que o então juiz Moro que autorizasse o uso de recursos da 13ª Vara Federal de Curitiba para financiar uma campanha publicitária a favor da Lava Jato. Na época, eles não confirmaram a autenticidade das mensagens divulgadas.
O procurador ainda chegou a ser acionado pelo ex-presidente Lula por conta de um arquivo de powerpoint exibido numa apresentação de denúncia contra o petista, em que o colocava como personagem central do esquema de corrupção na Petrobras. No entanto, o CNMP arquivou a representação feita por Lula. O Conselho anda possui outros casos que questionam a atuação de Deltan.