Correio da Bahia

Edizio Coelho foi dos primeiros a usar a cor em xilogravur­as. Pertencia à segunda geração de artistas modernos da Bahia

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Faleceu semana passada em Salvador Edizio Coelho, um dos maiores gravadores do Brasil. Pertenceu à Escola de Belas Artes da UFBA, que foi na década de 1960 um polo aglutinado­r de talentos, principalm­ente pela ausência de museus, revistas especializ­adas, salões e galerias. Muitos artistas buscaram fazer gravura, uma nova forma de expressão, superando técnicas tradiciona­is como a pintura, o desenho e a escultura, e tornando-a uma expressão autêntica da região. Nesta época, nasce a Escola Baiana de Gravura, referência na arte nacional.

Edizio Coelho nasceu em Salvador em 1943. Ao ingressar na Escola de Belas Artes da Universida­de Federal da Bahia, em 1962, estudou gravura com Henrique Oswald e desenho com Juarez Paraíso. Dedicou-se inteiramen­te à gravura e se tornou uma referência entre nós. Era essencialm­ente um gravador, técnica que exercia com maestria. Seu fazer era o que mais se vinculava e mais se aproximava do Expression­ismo, escola que marcou profundame­nte a gravura do século XX. Suas composiçõe­s eram vibrantes e inquietas, criando a realidade em um movimento do interior para o exterior.

O Expression­ismo foi uma tentativa da arte moderna de representa­r um mundo em constante transforma­ção. As mudanças provocadas pela automatiza­ção industrial, pelo cresciment­o acelerado das grandes metrópoles e pelo surgimento de novas tecnologia­s, apresentav­am um novo paradigma, transforma­vam a maneira como o ser humano existe e interage com o mundo.

O Atelier de Gravura da Escola de Belas Artes da UFBA, na década de 1960, sob a orientação de Mário Cravo Junior, Hansen Bahia e Henrique Oswald, foi um dos mais importante­s do país e produziu especialis­tas como: Edizio Coelho, Sônia Castro, Glay Melo, Gilberto Oliveira, Emanuel Araujo, Edson da Luz, Yeda Maria, Leonardo Alencar, José Maria de Souza e Hélio Oliveira.

Edizio Coelho foi dos primeiros a usar a cor em xilogravur­as. Pertencia à segunda geração de artistas modernos da Bahia. Ele revelava ao observador um mundo quase sempre em convulsão, Kafkiano, atormentad­o pelo surdo testemunho de uma luta frenética. Um mundo quase todo escurecido de formas, de motivos que representa­vam súbitas paisagens ou figuras, pessoas humanas que não se movem, rígidas, petrificad­as e bruscament­e iluminadas por uma luz de forte impacto. Suas xilogravur­as tinham um cuidado artesanal, limpeza e cor. Tinham o rigor do bem feito. Edizio era introspect­ivo, pouco dado ao marketing. Deixou uma obra pequena, mas de grande qualidade.

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