Correio da Bahia

Covid no mesmo nível de cinco meses atrás

Pandemia Após fim das eleições, Bahia atinge a maior taxa de transmissã­o de covid-19 desde julho

- Daniel Aloisio* REPORTAGEM daniel.santos@redebahia.com.br

A taxa de transmissã­o da covid-19 na Bahia não para de crescer e já é a maior desde julho. Ontem, dois dias após o 2º turno das eleições, o ritmo de contágio (Rt) da Bahia era de 1,28, mesmo número alcançado no dia 3 de julho de 2020, de acordo com o Observatór­io de Síndromes Respiratór­ias da Universida­de Federal da Paraíba (UFPB), Isso significa que, atualmente, cada grupo de 100 pessoas contaminad­as tem o potencial de transmitir o vírus para outros 128 baianos.

O índice serve para mostrar a quão contagiosa é a covid-19. Se o Rt for menor que 1, é um indício de que os níveis de contágio da doença estão caindo. Igual a 1 indica estabilida­de e maior do que 1 representa cresciment­o da propagação da doença numa população.

“Nós passamos um mês com essa taxa menor do que 1, mas nunca em um nível baixo. Esse aumento agora já era esperado e a tendência é termos um aumento expressivo no número de casos nas próximas semanas. O panorama é crítico e está subvaloriz­ado pelas autoridade­s”, diz o infectolog­ista Matheus Todt.

Já o cientista de dados Angelo Loula, professor da Universida­de Estadual de Feira de Santana (Uefs) e membro do portal Geocovid-19, explicou que seu grupo projetou para dezembro o acréscimo de mais 100 mil casos da doença na Bahia, caso seja mantida essa tendência de alta. “Há uma curva acentuada de subida. E isso vai refletir no aumento da ocupação nos leitos de UTI e no número de mortes. É a dinâmica da doença: as pessoas são infectadas, precisam do hospital, vão para a UTI e podem chegar a óbito”, recordou.

DADOS

A taxa de transmissã­o mais alta de covid-19 obtida na Bahia foi de 2,90, em 20 de março, início da pandemia. Desde então, o Rt começou a cair, com leves picos ocasionais. Em 19 de junho, ele ficou pela primeira vez abaixo de 1 (0,98). A partir daí, a taxa permaneceu em estabilida­de, próximo de 1, até começar a crescer a partir de 12 de novembro, três dias antes do 1º turno das eleições e 46 dias após o início das campanhas. Desde a última sexta-feira, dia 27, o Rt só cresce.

Para Loula, no período eleitoral, alguns próprios agentes políticos focaram mais na eleição do que no combate à pandemia: “Eles pararam defalarsob­readoença,poiséumass­untotóxico. De certo modo, isso passou uma mensagem para as pessoas de que poderiam aliviar nas medidas de segurança. Em parte, a gente também pode relatar o quanto as prefeitura­s diminuíram a fiscalizaç­ão das aglomeraçõ­es. Inclusive os próprios juízes eleitorais tiveram receio de barrar eventos políticos”.

O Rt da covid-19 em 1,28 colocou a Bahia como o terceiro estado com a maior taxa do país, perdendo apenas para outros dois nordestino­s: Sergipe (1,38) e Rio Grande do Norte (1,34). Nacionalme­nte, o ritmo de contágio da covid-19 é de 1,11.

Já se considerad­o os dados da média móvel, que é calculada com os Rts dos últimos 14 dias, o ritmo de contágio na Bahia é de 1,15. Esse resultado tem um índice de confiança de 95%, segundo a UFPB.

INTERIOR

O aumento na taxa de transmissã­o da covid-19 registrado na Bahia acontece ao mesmo tempo em que diversas cidades do interior baiano registram altos índices de casos ativos da doença. De acordo com os dados da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), três cidades do centro-leste baiano são as primeiras na lista de incidência de casos ativos por mil habitantes: Pintadas, Gavião e Pé de Serra.

No boletim epidemioló­gico de Pintadas, entre os dias 18 e 30 de novembro, o número de casos confirmado­s saltou de 265 para 509. Quatro mortes foram registrada­s na cidade. Esse pico chamou a atenção do cientista de dados. “É preciso ver se a prefeitura não estava segurando os dados e reportou tudo de uma vez só, pois o aumento em Pintadas e nas outras cidades é consideráv­el e ocorre de forma imediata. É estranho”, analisa Loula.

O fato de cidades pequenas serem agora mais afetadas pela covid-19 também é algo que preocupa o infectolog­ista. “O cenário mostra que, nesse novo pico, nós podemos ter um momento de mais mortes do que no primeiro”, diz Todt.

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