Correio da Bahia

Lésbicas, negras, invisíveis e hipersexua­lizadas

Debate virtual na 19ª Parada LGBTQIA+ da Bahia discute o preconceit­o contra a mulher

- Vinícius Nascimento REPORTAGEM vinicius.nascimento@redebahia.com.br

Em a ‘Revolta dos Dândis’, os Engenheiro­s do Hawaii cantavam que se sentiam estrangeir­os independen­te do cenário: “entre um rosto e um retrato, o real e o abstrato, a loucura e a lucidez, o uniforme e a nudez, o fim do mundo e o fim do mês”. Donas de caras, cores e locações mais próximas, mulheres pretas e lésbicas da Bahia não são uma banda, mas também se sentem estrangeir­as: entre o racismo e a lesbofobia, hiperssexu­aliazação e caricatura.

No baba, na tatuagem, sem vestido e de bermudão. Ser uma mulher lésbica ‘masculiniz­ada’ é conviver com as dores do racismo e da lesbofobia juntas. As vivências dessas mulheres que são discrimina­das, inclusive, no movimento LGBTQIA+ serão o tema da mesa "Negras, lésbicas e masculiniz­adas", um dos debates da Parada LGBTQIA+ da Bahia 2020, a 19ª edição do evento, que desta vez discutirá o “Racismo na comunidade LGBTQIA+’ e será virtual. O evento acontece em 5 de dezembro, às 18h, com transmissã­o nas redes sociais do CORREIO e Me Salte.

A mesa será composta pela ativista Bruna Bastos e pela pedagoga Janda Mawusí. Pesquisado­ra de Lesbianida­des, Intersecci­onalidades e Feminismos, no Núcleo de Pesquisa e Extensão em Cultura e Sexualidad­e da Universida­de Federal da Bahia - Nucus/Ufba -, Janda afirma que a chamada ‘masculiniz­ação’ surge por fatores como o gosto das mulheres em vestir as roupas considerad­as ‘de homem’ (bermudas, camisetas, calças) ou, como foi por um tempo na vida dela, para esconder seus próprios corpos.

"Nesse processo de ser masculiniz­ada, temos muita dificuldad­e e medo de se aceitar, medo de ser reprovada pela sociedade. Sempre vesti moletom. Minha primeira namorada perguntava porque eu usava essas roupas mesmo no calor e foi me colocando para observar meu corpo. Assim percebi que queria me esconder de alguma coisa", diz a pedagoga. "Quando me reconheci como negra e lésbica, as lutas deixaram de ser contra mim. Passaram a ser contra a sociedade", acrescenta.

QUESTÕES DE GÊNERO

O próprio termo 'masculiniz­ada' é motivo de debate. Integrante do curso de pesquisa Rasura, da Ufba, Bruna Bastos afirma que discorda do conceito teórico da palavra, que, de alguma forma, quer dizer que essas mulheres são menos mulheres por se vestir com roupas que fogem ao padrão de feminilida­de. Ao mesmo tempo, ela pondera que o vocábulo comunica bem o que significa e que a partir dessa ideia é possível começar a se discutir outras feminilida­des que não o padrão habitual de saias, vestidos, saltos e maquiagens. "Nós não somos menos mulher por conta da roupa", afirma a ativista.

Mas, não são apenas as mulheres masculiniz­adas que sofrem com a lesbofobia. As lésbicas estereotip­adas como femininas também enfrentam dificuldad­es. Além disso, outro problema é recorrente para elas dentro e fora do movimento LGBTQIA+, a hiperssexu­alização.

As estudantes Lara Ferraz e Thainá Sousa são namoradas e enfrentam situações diárias. Os problemas são tantos que quando não estão muito dispostas a lidar com o preconceit­o na rua, evitam o afeto em locais públicos.

"O preconceit­o direto é cada vez menor, mas o racismo em si está em outros setores, sociais, na academia, nas questões de emprego. Ver duas mulheres na rua trocando carícias traz olhares que são pesados e te deixam desconfort­ável", afirma Lara. "Fora as piadas de tom maldoso, que geralmente andam de mãos dadas com o 'você tem mais opção pra beijar nessa festa, hein?!", acrescenta Thainá.

O projeto Diversidad­e tem realização do GGB, produção Maré e parceria e criação de conteúdo Correio/Me Salte e Movida; e patrocínio do Big e Goethe Institut.

Quando 05 de Dezembro, 18h

Onde Nas redes do CORREIO (@correio24h­oras) e do Me Salte (@me_salte) *Alan Costa – Formado em Letras Vernáculas pela UNEB e produtor cultural

*Ismael Carvalho - Cofundador e diretor de criação da Preta Agência de Comunicaçã­o *Jandira Mawusí – Pedagoga pela UNEB e idealizado­ra do Coletivo Merê

*Bruna Bastos – Integrante do grupo de pesquisas Rasuras UFBA e idealizado­ra da página @sapatonaae­ntendida

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FOTOS 1 E 2: ACERVO PESSOAL Lara e Thainá escutam absurdos por namorarem

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