CONFUSÃO NOS NÚMEROS
Matemática no Enem Nota média dos alunos baianos é menor do que a média brasileira; professores orientam sobre estratégias
Os números estão deixando os baianos de cabelo em pé. Na comparação com a média nacional, é na matemática que o desempenho dos alunos do estado fica mais baixo. Enquanto a nota média brasileira na disciplina é de 523 pontos, os baianos alcançam 500 pontos do máximo de mil permitidos pelo sistema de avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Apesar de não ser a matéria com a média mais baixa da Bahia, posto ocupado pela prova de ciências da natureza com média de 464 pontos, a prova de matemática deixa os alunos na dianteira em relação ao resto do país. Colocando lado a lado as notas, a diferença entre Bahia e Brasil é de 23 pontos, uma diferença maior inclusive do que a encontrada nas provas de ciências da natureza, onde as médias do estado e do país ficam em 464 e 477, respectivamente.
Para entender o porquê dessa diferença e da dificuldade dos baianos com a matemática, o CORREIO conversou com professores da área que apontam o que pode levar a uma dificuldade maior com os números e também dão dicas para enfrentá-los.
Com mais de 20 anos de sala de aula e experiência nos ensinos público e privado, a professora Elvira Cavalcanti explica que um dos principais motivos por trás das dificuldades está nos anos anteriores aos preparatórios para o Enem. Segundo a profissional, é preciso investir na base. “Muitas vezes, o aluno já chega achando que matemática é aquele bicho de sete cabeças e que ele não vai conseguir. E trava. Na verdade, falta base para que o aluno comece desde cedo a desenvolver o raciocínio, a forma de pensar”, diz a professora dos colégios estaduais Manoel Devoto e Evaristo da Veiga.
A base da matemática é justamente um dos pontos-chave da prova, que desta vez será aplicada no dia 21 de janeiro. “Apesar de ser exame para o ensino médio, o Enem cobra muito a matemática do ensino fundamental, que a gente costuma chamar de matemática básica. É ela que mais cai na prova. Então, o aluno precisa se debruçar nessa base, que inclui regra de três, razão, proporção e porcentagem. Um outro assunto muito cobrado é a geometria. Os outros assuntos acabam sendo abordados em menor proporção”, diz o professor Adriano Caribé, que ensina no Colégio Anchieta e no curso preparatório PontoMed.
Para os mestres, um bom preparo nos anos que antecedem o ensino médio e a preparação de fato voltada para os vestibulares faz toda a diferença. “Sempre digo para os alunos que muita coisa do Enem é resolvida com assuntos de ensino fundamental. Só que é muito difícil pegar um aluno mais novo que já tenha maturidade ou que tenha enfrentado os anos anteriores de forma a criar uma base”, comenta Bruno Gustavo Reis, especialista em Matemática e Novas Tecnologias e professor do Instituto Dom de Educar (Rede UniFTC).
O estudante Guilherme Queiroz, 16 anos, está no segundo ano e já pensa nas provas de vestibular. “No caso específico da matemática, pra mim depende um pouco do assunto. Tem assuntos que eu acho incríveis e adoro estudar, resolver as questões. Tem outros que já não me dou tão bem”, conta o jovem, que quer estudar Medicina e já vai
fazer as principais provas de vestibular para treinar.
“Todo assunto que não é muito direto e depende muito de interpretação da questão, que tem muitas possibilidades de caminhos para resolver eu fico confuso”, conta ele, que reserva pelo menos três vezes por semana para resolver as questões da matéria.
ESTRATÉGIAS
A estratégia de Guilherme é a principal arma para aqueles alunos que têm dificuldade. Segundo os professores, não adianta fugir. É preciso treinar. “Matemática te exige encarar a prática. Muitas vezes, o aluno quer parar, desistir na primeira barreira, no primeiro obstáculo e não pode. É preciso treinar”, ensina a professora Elvira.
O treino, segundo os educadores, não coloca os alunos em contato apenas com os assuntos, mas com a maneira que cada tema é abordado nas provas. Outra habilidade que acaba sendo desenvolvida é de leitura e interpretação.
“Uma boa leitura da questão é mais da metade do caminho andado para uma boa resolução. Mas os alunos querem se livrar da questão, fazer uma leitura super dinâmica, rápida, e acaba sendo uma leitura muito superficial, que deixa passar detalhes que prejudicam o aluno depois”, destaca Bruno, da UniFTC.
Ele lembra ainda que as questões mais imperativas, com comandos diretos como resolva, desenhe, encontre o valor, não é o estilo da prova. “Então, a habilidade de interpretação é fundamental. Uma leitura rápida não significa uma leitura eficaz. Não posso de fato perder muito tempo na leitura, mas preciso ser cirúrgico para identificar o que a questão quer”, diz.
Foi essa a habilidade que a estudante Mariana Lima, 17 anos, precisou desenvolver no último ano de escola. “Eu sempre tive muita dificuldade em matemática porque eu ficava procurando um caminho decorado pra fazer as coisas e aí não conseguia entender. Queria decorar e, na hora da prova, era difícil saber o que fazer, o que a questão queria. Este ano acabei fazendo uma matéria isolada de matemática além da escola, para poder me dedicar mais’, conta ela. “Agora já consigo entender mais, ter calma para identificar os pontos da questão, me sinto mais segura”, diz a futura estudante de Letras.
Outra estratégia que pode ajudar quem tem dificuldades é usar a matemática em outros contextos. “É muito bom incentivar o olhar do aluno para a matemática nas coisas do dia a dia, em situações cotidianas como ir à feira, ou um jogo de cartas. Assim, ele vai se familiarizando, criando intimidade. Incentivar o raciocínio lógico é sempre muito positivo”, destaca Elvira, dando o exemplo do quebra-cabeça numérico Sudoku como um bom exercício. “Na hora da prova é focar, não levar tanta coisa para sala, tanta comida, doce, coisas que possam te distrair, e saber também a hora de dar aquela respirada, alongar, ir ao banheiro”, completa Bruno sobre a maratona.