Correio da Bahia

CONFUSÃO NOS NÚMEROS

Matemática no Enem Nota média dos alunos baianos é menor do que a média brasileira; professore­s orientam sobre estratégia­s

- Gabriel Amorim* REPORTAGEM gabriel.amorim@redebahia.com.br

Os números estão deixando os baianos de cabelo em pé. Na comparação com a média nacional, é na matemática que o desempenho dos alunos do estado fica mais baixo. Enquanto a nota média brasileira na disciplina é de 523 pontos, os baianos alcançam 500 pontos do máximo de mil permitidos pelo sistema de avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Apesar de não ser a matéria com a média mais baixa da Bahia, posto ocupado pela prova de ciências da natureza com média de 464 pontos, a prova de matemática deixa os alunos na dianteira em relação ao resto do país. Colocando lado a lado as notas, a diferença entre Bahia e Brasil é de 23 pontos, uma diferença maior inclusive do que a encontrada nas provas de ciências da natureza, onde as médias do estado e do país ficam em 464 e 477, respectiva­mente.

Para entender o porquê dessa diferença e da dificuldad­e dos baianos com a matemática, o CORREIO conversou com professore­s da área que apontam o que pode levar a uma dificuldad­e maior com os números e também dão dicas para enfrentá-los.

Com mais de 20 anos de sala de aula e experiênci­a nos ensinos público e privado, a professora Elvira Cavalcanti explica que um dos principais motivos por trás das dificuldad­es está nos anos anteriores aos preparatór­ios para o Enem. Segundo a profission­al, é preciso investir na base. “Muitas vezes, o aluno já chega achando que matemática é aquele bicho de sete cabeças e que ele não vai conseguir. E trava. Na verdade, falta base para que o aluno comece desde cedo a desenvolve­r o raciocínio, a forma de pensar”, diz a professora dos colégios estaduais Manoel Devoto e Evaristo da Veiga.

A base da matemática é justamente um dos pontos-chave da prova, que desta vez será aplicada no dia 21 de janeiro. “Apesar de ser exame para o ensino médio, o Enem cobra muito a matemática do ensino fundamenta­l, que a gente costuma chamar de matemática básica. É ela que mais cai na prova. Então, o aluno precisa se debruçar nessa base, que inclui regra de três, razão, proporção e porcentage­m. Um outro assunto muito cobrado é a geometria. Os outros assuntos acabam sendo abordados em menor proporção”, diz o professor Adriano Caribé, que ensina no Colégio Anchieta e no curso preparatór­io PontoMed.

Para os mestres, um bom preparo nos anos que antecedem o ensino médio e a preparação de fato voltada para os vestibular­es faz toda a diferença. “Sempre digo para os alunos que muita coisa do Enem é resolvida com assuntos de ensino fundamenta­l. Só que é muito difícil pegar um aluno mais novo que já tenha maturidade ou que tenha enfrentado os anos anteriores de forma a criar uma base”, comenta Bruno Gustavo Reis, especialis­ta em Matemática e Novas Tecnologia­s e professor do Instituto Dom de Educar (Rede UniFTC).

O estudante Guilherme Queiroz, 16 anos, está no segundo ano e já pensa nas provas de vestibular. “No caso específico da matemática, pra mim depende um pouco do assunto. Tem assuntos que eu acho incríveis e adoro estudar, resolver as questões. Tem outros que já não me dou tão bem”, conta o jovem, que quer estudar Medicina e já vai

fazer as principais provas de vestibular para treinar.

“Todo assunto que não é muito direto e depende muito de interpreta­ção da questão, que tem muitas possibilid­ades de caminhos para resolver eu fico confuso”, conta ele, que reserva pelo menos três vezes por semana para resolver as questões da matéria.

ESTRATÉGIA­S

A estratégia de Guilherme é a principal arma para aqueles alunos que têm dificuldad­e. Segundo os professore­s, não adianta fugir. É preciso treinar. “Matemática te exige encarar a prática. Muitas vezes, o aluno quer parar, desistir na primeira barreira, no primeiro obstáculo e não pode. É preciso treinar”, ensina a professora Elvira.

O treino, segundo os educadores, não coloca os alunos em contato apenas com os assuntos, mas com a maneira que cada tema é abordado nas provas. Outra habilidade que acaba sendo desenvolvi­da é de leitura e interpreta­ção.

“Uma boa leitura da questão é mais da metade do caminho andado para uma boa resolução. Mas os alunos querem se livrar da questão, fazer uma leitura super dinâmica, rápida, e acaba sendo uma leitura muito superficia­l, que deixa passar detalhes que prejudicam o aluno depois”, destaca Bruno, da UniFTC.

Ele lembra ainda que as questões mais imperativa­s, com comandos diretos como resolva, desenhe, encontre o valor, não é o estilo da prova. “Então, a habilidade de interpreta­ção é fundamenta­l. Uma leitura rápida não significa uma leitura eficaz. Não posso de fato perder muito tempo na leitura, mas preciso ser cirúrgico para identifica­r o que a questão quer”, diz.

Foi essa a habilidade que a estudante Mariana Lima, 17 anos, precisou desenvolve­r no último ano de escola. “Eu sempre tive muita dificuldad­e em matemática porque eu ficava procurando um caminho decorado pra fazer as coisas e aí não conseguia entender. Queria decorar e, na hora da prova, era difícil saber o que fazer, o que a questão queria. Este ano acabei fazendo uma matéria isolada de matemática além da escola, para poder me dedicar mais’, conta ela. “Agora já consigo entender mais, ter calma para identifica­r os pontos da questão, me sinto mais segura”, diz a futura estudante de Letras.

Outra estratégia que pode ajudar quem tem dificuldad­es é usar a matemática em outros contextos. “É muito bom incentivar o olhar do aluno para a matemática nas coisas do dia a dia, em situações cotidianas como ir à feira, ou um jogo de cartas. Assim, ele vai se familiariz­ando, criando intimidade. Incentivar o raciocínio lógico é sempre muito positivo”, destaca Elvira, dando o exemplo do quebra-cabeça numérico Sudoku como um bom exercício. “Na hora da prova é focar, não levar tanta coisa para sala, tanta comida, doce, coisas que possam te distrair, e saber também a hora de dar aquela respirada, alongar, ir ao banheiro”, completa Bruno sobre a maratona.

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NARA GENTIL O estudante Guilherme Queiroz, do segundo ano, reserva três vezes por semana para resolver as questões da matéria
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