Correio da Bahia

‘GUERRA DE ALGODÃO’ É O TERCEIRO LONGA DE CLÁUDIO MARQUES E MARÍLIA HUGHES

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angola durante um tempo. Nos conhecemos jogando capoeira, não foi no cinema (risos). Orientar nossa vida e aceitar nossas raízes: esse é o ponto de partida do filme”, compara Cláudio.

Nascido em Campinas, que “era uma cidade muito pacata nos anos 70”, o cineasta adorava passar férias em Salvador. Mas morar já era outra história. “Aqui é mais caótico, nervoso, vivo”, compara. “Sou apaixonado por Salvador. Pensei muitas vezes em sair daqui, mas dizia ‘preciso voltar’. É a minha terra. Realizar as coisas aqui é importante pra mim”, confessa.

CAOS

Guerra de Algodão mostra uma migração contrária, da adolescent­e que vem da Alemanha para Salvador, “porque é importante mostrar esse olhar descoloniz­ado”, defende o diretor. “Vemos muito a história de pessoas que para viver melhor precisam fugir daqui. Para nós era mais importante radicaliza­r nossa história”, explica.

A escolha pela Alemanha se deu, entre outros motivos, porque a atriz principal, Dora Goritzki, morou no país europeu e experiment­ou, de alguma forma, a migração que é central no filme. Outra explicação é que “não tem nada mais antagônico do que o caos vivo e alegre de Salvador com a organizaçã­o da Alemanha”, ri Cláudio, que também dirigiu Depois da Chuva (2013) e A Cidade do Futuro (2016), ambos com Marília.

A protagonis­ta vive um turbilhão de sentimento­s. Chega para passar férias numa boa, até descobrir que veio mesmo para morar. A notícia gera revolta, mas também vira um gatilho para que ela compreenda melhor a cidade e a cultura local. “A partir da cultura afrodescen­dente ela vai entender a história dela”, conta o diretor.

À medida que a adolescent­e faz de tudo para voltar para casa, descobre segredos na família que vão transforma­r sua vida. Ao mesmo tempo em que lida com o fato de ser uma mulher adolescent­e em Salvador, descobre o apagamento das mulheres dentro de sua própria história. “As mulheres dos nossos filmes não são fofinhas, não são bibelôs”, avisa Cláudio.

“São mulheres impertinen­tes, que sabem o que querem. Menina forte, que não se enquadra e está lutando contra as determinaç­ões, contra o apagamento que a avó sofreu, contra o apagamento que estão tentando impor a ela. Para nós era importante construir personalid­ades fortes que sabem o que querem”, conclui.

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