Uma placa da Ford que virou praia
História A fábrica fechou, mas a multinacional tem uma história bem mais antiga com a Bahia do que parece
Rio. Estava namorando um baiano, ficamos noivos e vim a Salvador conhecer a família dele. Neste dia da foto, pedi para conhecer Itapuã, por causa das canções de Caymmi. Depois da Pituba, nada mais era asfaltado. Na época era uma estradinha de terra batida, difícil chegar lá. Era um caminho bem deserto, só com a natureza imponente. Quando chegamos em Piatã, Toninho me disse que a praia já era conhecida como Placa Ford. Pedi para tirar uma foto ali, apenas como recordação mesmo. Na época achei muito engraçado uma simples placa comercial nomear o lugar. Não imaginaria que viraria uma foto histórica", lembra a carioca, que nunca mais saiu de Salvador. "Casei e sou mais baiana que carioca".
A placa virou nome de praia e de bairro também. "Há 35 anos moro em Jardim Placafor, um bairro que fica entre Piatã e Itapuã. Mas frequento a praia daqui há 50 anos, desde quando vinha acampar com a turma, aos 18 anos de idade. Era só coqueiro, areia e a placa. Um paraíso", lembra o aposentado Atilano Muinhos.
Para a escritora Aninha Franco, a placa fazia parte da paisagem, numa época em que a praia era frequentada por jovens, hippies e intelectuais. "Quando o Porto da Barra enchia, corríamos para a praia de Piatã, na placa da
Ford. A placa fazia parte da natureza. Era quase um coqueiro. Estava lá sempre. Ela levou anos morando lá e nos sinalizando que ali tinha um mar muito especial. Morro de saudade daquele tempo", diz.
A placa já não existe mais, assim como a fábrica da Ford em Camaçari, que ficará apenas nos anais históricos do estado. Contudo, se serve de alento, dê mais uma olhadinha na foto de Ayeska. Curiosamente, na frente da placa da Ford está um fusquinha, da Volks, se destacando. Aqui tudo tem sua importância, sim. Mas nada é insubstituível.