O automóvel saindo de cena
Diante do novo cenário global, o que importa é identificar as oportunidades que se oferecem
A Bahia foi surpreendida com o anúncio do fechamento da fábrica da Ford em Camaçari, duas décadas depois de inaugurada, após uma árdua batalha política para trazê-la, em um movimento que envolve o encerramento das atividade fabris da empresa no Brasil. Desabou um dos pilares da industrialização baiana!
Não precisávamos ter estado dentre os primeiros contemplados, em escala global, por esse movimento de saída do automóvel de cena, sobretudo porque, alheios às transformações tecnológicas e econômicas, não estávamos preparados, sequer psicologicamente, para o pior. Analisando o desenvolvimento das cidades, vê-se que logo o carro será elétrico, autônomo, compartilhado e demandado por aplicativo, provocando grandes mudanças no ambiente urbano. De todas essas transformações, na prática, localmente só começamos a experimentar a chamada por aplicativo.Masacabamosdeser atingidos pelo conjunto.
A fusão da Peugeot com a Fiat Chrysler, recém-aprovada, não é para formar um novo gigante, mas apenas uma atitude defensiva no setor, diante dos novos desafios que a manufatura de automóveis vem enfrentando. Sinal dos tempos: a Arábia Saudita, grande produtora de petróleo, acaba de anunciar a criação de uma cidade para um milhão de habitantes, sem carros, só com transporte público.
Fica-nos uma lição, que espero seja aprendida o quanto antes: quer queiram ou não os governantes, de hoje e de amanhã, a economia agora é globalizada e os seus reflexos se fazem sentir, para o bem e para o mal, em todos os lugares. É indispensável estar atento a esses movimentos, que não se compadecem de ideologias, nem de preconceitos.
O que não adianta agora é chorar o leite derramado ante a crise do desemprego, a perda de receita pública, o agravamento dos problemas sociais. Os governantes não podem agir de forma provinciana, pensando que a casa não vai cair na sua cabeça. Nem imaginar alternativas fantasiosas. Factoide é a modalidade oficial das fake news.
A economia baiana levou um duro golpe, o que piora ainda mais o cenário de inércia e animismo em que estamos vivendo. O fechamento da Ford agrava, em muito, o fato de que a Bahia está em declínio econômico (Lá vem a Bahia, descendo a ladeira, Correio, 12/1), tendência contra a qual é preciso reagir o quanto antes. Mas não contamos sequer com um monitoramento adequado da economia local. A outrora relevante Seplantec foi reduzida à mínima expressão e envolvida no jogo político. Faltam estudos, planos, programas e projetos, no governo e na academia, capazes de fundamentar os novos rumos que a Bahia deva seguir.
O contexto é preocupante: a Região Metropolitana deixou de ter qualquer diretriz; a petroquímica vem sendo desativada por obsolescência tecnológica e não há qualquer movimento organizado por sua reestruturação; o agronegócio está a demandar atenção por todos os quadrantes do Estado; o Recôncavo diluiu-se; o Litoral Sul, desde a vassoura-de-bruxa, perdeu a identidade e a pujança, que precisa ser reconstruída; a agricultura familiar continua tímida; a rede urbana é capenga.
Diante do novo cenário global, o que importa é identificar as oportunidades que se oferecem, e correr atrás delas, de preferência antecipando tendências. É preciso abrir novas frentes, prospectar novas possibilidades, otimizar as existentes, prestar atenção ao que acontece no mundo.
A tecnologia se apresenta como um dos novos caminhos. Nessa linha, o Cimatec está se transformando na universidade moderna que a Ufba optou por deixar de ser. Mas a Bahia precisa das duas; e também das estaduais e federais plantadas no interior, que ainda não se voltaram para a pesquisa e o desenvolvimento regional.
O momento é crítico e requer uma grande mobilização de todos para resgatar a Bahia, antes que a ladeira vire despenhadeiro.