Correio da Bahia

BONFIM, DULCE E O MILAGRE DA VACINA

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Eram 15h30 de ontem quando a imagem de Santa Dulce dos Pobres deixou seu santuário, no Largo de Roma, para se encontrar com Senhor do Bonfim. Se, além de fazer fotos e vídeos, os fiéis presentes pudessem dar uma olhadinha no celular em tempo real, iriam ter a notícia de que aquele instante era ainda mais histórico e digno de emoção e agradecime­nto. No exato momento em que Senhor do Bonfim e Irmã Dulce eram colocados lado a lado e recebiam incenso, orações e pedidos, a primeira brasileira era vacinada em São Paulo. Coincidênc­ia? Diante da pergunta, o diácono Jorge Alberto Alves Silva sorriu por detrás da máscara e respondeu com convicção. "Não! Não é coincidênc­ia! É providênci­a!".

Pouco antes, às 14h58 , a imagem do Senhor do Bonfim deixava a Colina Sagrada para, em vez da tradiciona­l Procissão dos Três Pedidos, peregrinar em carreata pela Cidade Baixa. Diferente do que muita gente pensa, o dia do Bonfim, o auge da festa religiosa, não é a quinta-feira, mas o domingo seguinte.

Na Colina Sagrada, antes da saída da carreata, o assunto vacina e a "providênci­a" bem no dia da principal festa católica na Bahia já era motivo de burburinho. Quis o destino que nesta data a Anvisa aprovasse o uso emergencia­l e conduziste à vitória os imunizante­s de Oxford e do Butantan.

A aposentada Edna Maria dos Santos, 59 anos, comentou que a verdadeira permissão para vacinar o povo veio de Deus e de Senhor do Bonfim. A Anvisa e o Butantan foram apenas os instrument­os dos cientistas. "Muita oração, meu filho. Você acha que sem oração nós íamos chegar a essa vacina? É a fé! A fé e a oração. A permissão dele vale mais que qualquer uma. Nada acontece sem que Senhor do Bonfim permita", acredita dona Edna. "Agora é orar mais ainda para que todos nós sejamos vacinados o mais rápido possível".

Como nas outras carreatas realizadas pela irmandade, o reitor da Basílica do Senhor do Bonfim, padre Edson Menezes, pediu que todos respeitass­em as regras de distanciam­ento e sequer tocassem na imagem. Padre Edson também lamentou as mais de 200 mil mortes e pediu misericórd­ia a Senhor do Bonfim por todos que se encontram doentes e em recuperaçã­o pelo coronavíru­s. Para evitar aglomeraçõ­es, o padre suspendeu a Procissão dos Três Pedidos, que costuma levar uma multidão da Igreja dos Mares até a Colina Sagrada, onde todos dão três voltas ao redor da igreja, uma para cada pedido.

PERCURSO

Dessa vez, a carreata percorreu as igrejas católicas que compõem a chamada Forania 4, na região de Itapagipe, formada pelas igrejas de Nossa Senhora da Boa Viagem, Nossa Senhora da Penha, Nossa Senhora da Piedade, Nossa Senhora dos Mares e Igreja de São Jorge. Incluso no percurso, o Santuário de Santa Dulce dos Pobres, onde Bonfim de encontrou com Irmã Dulce, foi uma das primeiras paradas. "Viva Senhor do Bonfi! Viva Santa Dulce dos Pobres", gritaram em coro os poucos fiés que acompanhar­am aquele momento de perto, sem saber que aquela hora o Brasil inteiro comemorava a vacina.

Por onde passou, Senhor do Bonfim era saudado com acenos, lenços e flores. Apesar das mudanças, como todos os anos, a festa começou cedo, com missas o dia inteiro. A Missa Solene, às 10h, foi presidida pelo arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Sérgio da Rocha. A Lavagem do Bonfim, que acontece na quinta-feira que antecede o segundo domingo depois do dia de Reis, sempre supera (e muito) o domingo do Bonfim em termos de apelo popular. Cerca de 1 milhão de pessoas vai às ruas para cumprir o percurso entre a Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia e a Colina Sagrada, onde fica a Basílica do Senhor do Bonfim. Mas, pela tradição católica, o verdadeiro "dia de glória" é no domingo. Dessa vez, o dia do Bonfim foi o Dia "D" e a Hora "H"! Gloria a ti!

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TIAGO CALDAS Fiéis atribuem mais um milagre do Senhor do Bonfim: vacina começa a ser aplicada no Brasil

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