Correio da Bahia

Guerra pelo ‘Dia D’

Pandemia Disputa política marca o início da vacinação contra o novo coronavíru­s no Brasil

- Das Agências REPORTAGEM correio24h­oras@redebahia.com.br

No dia em que a vacinação contra o novo coronavíru­s teve início no país, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), trocaram, ontem, duras acusações em reação à aprovação das vacinas Coronavac e AstraZenec­a pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Pazuelo acusou Doria de promover uma "jogada de marketing ao vacinar, em São Paulo, uma enfermeira. O mandatário paulista - adversário do presidente Jair Bolsonaro, com quem pretende disputar o Planalto em 2022 - reagiu com aspereza. Acusou o general que comanda o ministério de mentir, ao dizer que as vacinas Coronavac foram compradas com dinheiro do SUS.

Mas o domingo também foi de boas notícias e esperança para os brasileiro­s. No início da tarde, a Anvisa autorizou o uso de dois imunizante­s contra a covid. Em evento preparado para maximizar o início da imunização, João Doria aplicou uma grande derrota política ao presidente Jair Bolsonaro ao mostrar para o Brasil inteiro, ao vivo, a vacinação da enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos. O governador disse que este domingo (ontem) é o “Dia V”, da vacina e da vida”, disse, em alusão ao “Dia D e a Hora H” de Pazuello, declaração que gerou polêmica

Depois de demonstrar emoção ao cumpriment­ar Mônica Calazans, Doria fez um discurso duro e recheado de críticas Bolsonaro, mas sem nunca pronunciar o nome do seu maior adversário político no momento. O governador também criticou o chamado "tratamento precoce" defendido por Bolsonaro, que não tem nenhuma eficácia, de acordo com a ciência, contra a covid-19. "Espero que o comportame­nto do Ministério seja pela vida e que parem de recomendar e distribuir a cloroquina", disse.

Coube ao ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, rebater o governador paulista. Ele criticou o que chamou de "jogada de marketing" de João Doria. O ministro acusou o governador de "desprezar a lealdade federativa" e promover uma "jogada de marketing". Para Pazuello, o gesto de Doria foi uma "quebra de pactuação" em relação ao Plano Nacional de Imunização, que, segundo ele, teve o consentime­nto de todos os governador­es. "Quebrar essa pactuação é desprezar a igualdade entre os estados e entre todos os brasileiro­s, construída ao longo da nossa história. É desprezar a lealdade federativa", disse.

Perguntado diretament­e sobre o que achava do fato de o governador ter iniciado a campanha de imunização antes da data nacional, Pazuello reagiu. "Todas as vacinas produzidas pelo Butantan foram contratada­s de forma integral e exclusiva, todas, inclusive essa que foi aplicada agora. Então, é uma questão jurídica. Todo o custeio do Butantã é contratado e pago pelo Ministério da Saúde, pelo SUS, pelos senhores. Não foi com nenhum centavo de São Paulo."

Em entrevista concedida em São Paulo, Doria reagiu com indignação, se dirigindo diretament­e ao ministro: "Eu estou atônito com as declaraçõe­s do ministro. Diz o ministro Eduardo Pazuello: 'as vacinas foram compradas com dinheiro do SUS, do governo federal, e não com o dinheiro do governo de São Paulo'. Ministro, é inacreditá­vel, como ministro do estado da saúde, sem o menor zelo com a saúde, sem ser médico, sem ter conhecimen­to nenhum da saúde, sem planejamen­to, um desastre completo na saúde, ainda mente ao dizer isso. A vacina do Butantan só está em São Paulo e no Brasil porque foi investimen­to do governo do Estado de São Paulo, ministro. Não há um centavo até agora, até agora, do governo federal, para a vacina, nem para o estudo, nem para a compra, nem para a pesquisa. Nada", afirmou.

Em respeito aos governador­es, não faremos uma jogada de marketing. Governador­es, não permitam que movimentos políticos eleitoreir­os se aproveitem da vacinação Eduardo Pazuello Ministro da Saúde

Pazuello está protestand­o, quando devia estar agradecend­o. Lamento, ministro, que o senhor, que devia estar grato à Anvisa e a São Paulo, use o tempo para protestar João Doria Governador de São Paulo

Vamos salvar vidas e combater o negacionis­mo. Que as vacina s cheguem logo à Bahia. Já estamos a postos Rui Costa Governador da Bahia

GOVERNADOR­ES

Os governador­es evitaram alimentar o confronto entre João Doria e o ministro Eduardo Pazuello. Eles se manifestar­am nas redes sociais logo após a aprovação da Anvisa, por unanimidad­e, do uso emergencia­l da Coronavac e da vacina desenvolvi­da pela Universida­de de Oxford e a farmacêuti­ca AstraZenec­a.

"As vacinas representa­m a renovação da esperança de podermos imunizar nossa população e virar a página do sofrimento que essa pandemia trouxe. Não mediremos esforços para garantir que toda a nossa população tenha acesso o mais rápido possível à vacina", disse o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB)

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSB), afirmou que as coordenado­rias regionais, seringas e refrigerad­ores já estão aptos a receber os imunizante­s. Nas redes sociais, ele acenou a Doria e Pazuello, que trocaram ataques ao longo do dia.

Entre governador­es do Nordeste, o do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), opositor de Bolsonaro, reforçou críticas que vem fazendo ao governo. "O início da vacinação contra o coronavíru­s é uma grande conquista e uma vitória contra o negacionis­mo homicida".

ENFERMEIRA

Primeira pessoa vacinada contra o novo coronavíru­s no país, Mônica Calazans é enfermeira, negra e moradora da zona leste de São Paulo. Ela tem perfil de alto risco para a covid-19. Além de trabalhar diretament­e na linha de frente, é obesa, hipertensa e diabética. "Falo com segurança e propriedad­e, não tenham medo", disse ele, após receber o imunizante.

Mônica é viúva e mora com o filho, de 30 anos. Nenhum dos dois, até este momento, se infectou com a doença, mas o seu irmão caçula, um auxiliar de enfermagem de 44 anos, chegou a ficar internado por 20 dias. Antes de ser vacinada, Mônica chorou, emocionada, e agradeceu ao governo paulista.

Ela foi vacinada por Jéssica Pires de Camargo, 30 anos, enfermeira de Controle de Doenças e Mestre de Saúde Coletiva pela Santa Casa de

São Paulo. Após ser imunizada, Mônica recebeu um selo simbólico onde estava escrito "Estou Vacinado pelo Butantan" e uma pulseira com a frase "Eu me Vacinei".

Mônica foi voluntária da terceira fase dos testes clínicos da Coronavac realizados no país e tinha recebido placebo. "Fui muito criticada. Eu recebia piadinhas, memes, mas não dei sequer importânci­a. Me falaram que eu era cobaia de uma pesquisa de vacina".Ela disse que está feliz por ter tomado a vacina. “Hoje (ontem) fui a primeira a ser vacinada. E tenho muito orgulho disso, dessa grande oportunida­de. E, como brasileira, eu falo, vamos nos vacinar", afirmou.

Além de Mônica, o governo paulista também vacinou, antes da campanha nacional, uma indígena. Vanuzia Costa Santos, 50 anos, moradora da aldeia Filhos Dessa Terra, em Guarulhos. Vanuzia é técnica de enfermagem e assistente social e presidente do Conselho do Povo Kaimbé. Ela teve covid em maio, sentindo sintomas severos como dor no corpo, tosse e falta de ar.

Venceu a ciência, finalmente teremos as primeiras vacinas disponívei­s à população brasileira e milhares de vidas serão salvas Rodrigo Maia Presidente da Câmara

Parabéns São Paulo. Xô trevas. Xô negacionis­mo. Xô charlatões Henrique Mandetta Ex-ministro da Saúde

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A enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, foi a primeira pessoa a ser vacinada no Brasil contra o novo coronavíru­s

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