Correio da Bahia

Famílias seguem juntas em viagem por oxigênio

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Com 80% do pulmão comprometi­do e após oito dias internado, Osimar Carvalho, de 54 anos, percorreu de avião mais de 1,7 mil quilômetro­s. A falta de estoque de oxigênio, que levou hospitais de Manaus ao colapso esta semana, fez com que ele fosse levado ao Maranhão em busca de segurança no atendiment­o médico. A estimativa do Amazonas é de que até 700 pacientes sejam transferid­os. Para evitar a distância nessa hora difícil, as famílias se desdobram para acompanhar os doentes.

"Estou vivendo os piores dias da minha vida. Estou há um mês sem ver meu pai direito, ele está bem debilitado", conta Kamilla Caió, filha de Carvalho. "Acho melhor ele ir pra outro estado porque sei que vai acabar de novo (o oxigênio) e não quero mais passar pelo desespero que passei na quinta", diz a nutricioni­sta, de 27 anos.

Além do Maranhão, sete estados e o Distrito Federal receberam pacientes. Nas transferên­cias, a família não pode acompanhar o doente no transporte aéreo e um tio doou a passagem para garantir que Kamilla fique junto do pai no Maranhão. A jovem, que tinha uma reserva guardada, já gastou cerca de R$ 2 mil com máscaras e ventilação não invasiva. Os produtos mantiveram Carvalho vivo quando o oxigênio na unidade acabou.

"Ele foi ao banheiro na hora da falta de oxigênio e, no desespero, alguém roubou a máscara dele que era de balão. Acho que pensando que ia respirar melhor com aquela, mas respirar o quê? Não tinha oxigênio. Por sorte, comprei três e doei duas a pessoas em situação precária", relata Kamilla.

AFLIÇÃO

Yahsmin Morais também vive momentos de aflição à espera de notícias sobre o tio, Cosme Moraes, de 49 anos. Ele foi transferid­o na madrugada do dia 13 para um hospital em Brasília. Moraes fez o teste na anterior e testou positivo para o coronavíru­s. O quadro era estável até o chegar o fim de semana, quando sentiu falta de ar e buscou atendiment­o em um hospital privado. Por falta de leitos, embarcaram ele com urgência para conseguir interná-lo.

"Foram bem claros: Se ele continuass­e no hospital, iria ficar em uma maca no corredor. Não tinha leito. A gente fica nessa aflição né? De esperar todo dia, às 17 horas, pela atualizaçã­o do boletim. É quando dão notícias".

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