Correio da Bahia

Tensão pela prova e pelo risco da covid

Enem Preocupaçã­o, crítica a protocolos e alta abstenção marcaram 1º dia do exame

- Carolina Cerqueira* REPORTAGEM carolina.cerqueira@redebahia.com.br

O primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ontem, foi marcado pela alta abstenção e pela crítica aos protocolos sanitários. Além do nervosismo usual de uma prova, claro.

Mesmo com a pandemia em alta no país, o Ministério da Educação (MEC) manteve a realização da prova, que terá seu segundo dia no próximo domingo. Mesmo com diversas ações judiciais, inclusive da Defensoria Pública, o governo federal conseguiu manter a prova em todo país, à exceção de Manaus, que vive uma crise maior ainda da covid, com falta de oxigênio em unidades de saúde.

Resultado: 51,5% de abstenção, recorde do Enem. Ou seja, mais da metade dos candidatos não foi. Para se ter uma ideia, em 2019 foram 23,06% de ausência.

Apesar do alto índice de ausentes, segundo Alexandre Lopes, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is Anísio Teixeira (Inep), que realiza a prova, o saldo foi positivo. “2,6 milhões de pessoas fizeram a prova. Eu considero positivo. O Brasil conseguiu realizar seu exame nacional, tirando o estado do Amazonas, que tem mais 160 mil estudantes que poderão fazer em outro momento”, analisa Lopes.

Ainda assim, em todo país, houve registro de aglomeraçõ­es e de falta de respeito ao protocolo sanitário para a prova. Em Salvador, o presidente do Conselho Municipal de Juventude de Salvador (Comjuv), Gustavo Mercês, esteve pela manhã no Colégio Central e apontou falhas. Segundo ele, não havia posto de álcool em gel em todas as salas, somente um no corredor. Além disso, não foi observada medição da temperatur­a dos alunos.

“Nos preocupou primeiro que não há disponível a informação de quantidade máxima de aluno por cada sala, não há fixada as listas. Segundo, nós verificamo­s que a disposição das cadeiras parece que permaneceu do mesmo jeito, ou seja, enfileirad­as umas atrás das outras. Questionei junto à coordenaçã­o do colégio porque que não foi feito o isolamento alternado das fileiras e eles me informaram que vão fazer isso na hora da prova”, explicou.

MENTAL

Stephanie Oliveira fez o Enem pela primeira vez e confessou que o psicológic­o estava abalado. “Estou muito nervosa, não consegui nem dormir direito”, diz. Já com Naiane Costa, a situação não foi muito diferente. Mesmo já tendo feito o Enem em outra edição, o nervosismo é inevitável. “O sono esta noite foi agitado, estou com o coração na mão porque não me sinto preparada. Foi difícil estudar esse ano, principalm­ente por ser ensino público, praticamen­te não tive aula nem suporte”, desabafa a candidata.

Para a psicóloga Priscila Pardo, membro da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas

(FBTC), a sensação de incerteza generaliza­da por conta da pandemia interfere diretament­e no desempenho do aluno no Enem. “Este ano a preocupaçã­o é: eu estou sendo exposto, eu posso contrair o vírus, mas eu não posso deixar de fazer a prova”, analisa.

Com a alta abstenção, não houve nem o meme dos abrasados. No Colégio Central, em Nazaré, o movimento foi tranquilo e ninguém para levar a fama de atrasado. Um cenário atípico assim só poderia acontecer em plena pandemia, que mudou completame­nte o que se entende por normalidad­e.

Quem estava trabalhand­o com panfletage­m na porta do colégio se espantou com a pouca quantidade de estudantes. Assim como Seu Antônio, de 40 anos, que já trabalha como ambulante em dia de prova do Enem há anos. Na barraquinh­a, água e máscaras de proteção facial, mas as vendas não foram muito boas. “Não está tendo saída não, não vendi nenhuma máscara”, lamentou.

O porteiro do colégio, que preferiu não se identifica­r nem gravar entrevista, confirmou que era a primeira vez que via um movimento tão fraco e sem candidatos chegando atrasados.

No pátio do colégio, estudantes que chegaram mais cedo aguardavam o horário da prova sentados e, muitos deles, conversand­o entre si. Alguns ficaram com a máscara abaixada até o queixo e nenhum funcionári­o do Inep se aproximou para intervir.

 ?? TIAGO CALDAS ?? Candidato chega ao Colégio Central, em Nazaré, para o primeiro dia de aplicação de provas do Enem, ontem: lá, o espanto foi com a abstenção
TIAGO CALDAS Candidato chega ao Colégio Central, em Nazaré, para o primeiro dia de aplicação de provas do Enem, ontem: lá, o espanto foi com a abstenção

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