Tensão pela prova e pelo risco da covid
Enem Preocupação, crítica a protocolos e alta abstenção marcaram 1º dia do exame
O primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ontem, foi marcado pela alta abstenção e pela crítica aos protocolos sanitários. Além do nervosismo usual de uma prova, claro.
Mesmo com a pandemia em alta no país, o Ministério da Educação (MEC) manteve a realização da prova, que terá seu segundo dia no próximo domingo. Mesmo com diversas ações judiciais, inclusive da Defensoria Pública, o governo federal conseguiu manter a prova em todo país, à exceção de Manaus, que vive uma crise maior ainda da covid, com falta de oxigênio em unidades de saúde.
Resultado: 51,5% de abstenção, recorde do Enem. Ou seja, mais da metade dos candidatos não foi. Para se ter uma ideia, em 2019 foram 23,06% de ausência.
Apesar do alto índice de ausentes, segundo Alexandre Lopes, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que realiza a prova, o saldo foi positivo. “2,6 milhões de pessoas fizeram a prova. Eu considero positivo. O Brasil conseguiu realizar seu exame nacional, tirando o estado do Amazonas, que tem mais 160 mil estudantes que poderão fazer em outro momento”, analisa Lopes.
Ainda assim, em todo país, houve registro de aglomerações e de falta de respeito ao protocolo sanitário para a prova. Em Salvador, o presidente do Conselho Municipal de Juventude de Salvador (Comjuv), Gustavo Mercês, esteve pela manhã no Colégio Central e apontou falhas. Segundo ele, não havia posto de álcool em gel em todas as salas, somente um no corredor. Além disso, não foi observada medição da temperatura dos alunos.
“Nos preocupou primeiro que não há disponível a informação de quantidade máxima de aluno por cada sala, não há fixada as listas. Segundo, nós verificamos que a disposição das cadeiras parece que permaneceu do mesmo jeito, ou seja, enfileiradas umas atrás das outras. Questionei junto à coordenação do colégio porque que não foi feito o isolamento alternado das fileiras e eles me informaram que vão fazer isso na hora da prova”, explicou.
MENTAL
Stephanie Oliveira fez o Enem pela primeira vez e confessou que o psicológico estava abalado. “Estou muito nervosa, não consegui nem dormir direito”, diz. Já com Naiane Costa, a situação não foi muito diferente. Mesmo já tendo feito o Enem em outra edição, o nervosismo é inevitável. “O sono esta noite foi agitado, estou com o coração na mão porque não me sinto preparada. Foi difícil estudar esse ano, principalmente por ser ensino público, praticamente não tive aula nem suporte”, desabafa a candidata.
Para a psicóloga Priscila Pardo, membro da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas
(FBTC), a sensação de incerteza generalizada por conta da pandemia interfere diretamente no desempenho do aluno no Enem. “Este ano a preocupação é: eu estou sendo exposto, eu posso contrair o vírus, mas eu não posso deixar de fazer a prova”, analisa.
Com a alta abstenção, não houve nem o meme dos abrasados. No Colégio Central, em Nazaré, o movimento foi tranquilo e ninguém para levar a fama de atrasado. Um cenário atípico assim só poderia acontecer em plena pandemia, que mudou completamente o que se entende por normalidade.
Quem estava trabalhando com panfletagem na porta do colégio se espantou com a pouca quantidade de estudantes. Assim como Seu Antônio, de 40 anos, que já trabalha como ambulante em dia de prova do Enem há anos. Na barraquinha, água e máscaras de proteção facial, mas as vendas não foram muito boas. “Não está tendo saída não, não vendi nenhuma máscara”, lamentou.
O porteiro do colégio, que preferiu não se identificar nem gravar entrevista, confirmou que era a primeira vez que via um movimento tão fraco e sem candidatos chegando atrasados.
No pátio do colégio, estudantes que chegaram mais cedo aguardavam o horário da prova sentados e, muitos deles, conversando entre si. Alguns ficaram com a máscara abaixada até o queixo e nenhum funcionário do Inep se aproximou para intervir.