Correio da Bahia

Biden e o Brasil

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Hoje, o Democrata Joe Biden toma posse como presidente dos Estados Unidos. Nos últimos dois anos, o presidente Jair Bolsonaro trocou os históricos laços diplomátic­os entre os Estados brasileiro e americano por uma relação de amizade pessoal com Donald Trump. A lógica do presidente brasileiro foi política: a presença de um líder populista de tendência autoritári­a na maior potência democrátic­a do globo serviria de cheque em branco para o bolsonaris­mo tensionar as instituiçõ­es também por aqui. Juntos, Trump e Bolsonaro denunciara­m conspiraçõ­es inexistent­es do globalismo, da esquerda, do comunismo, da OMS e dos cientistas. No entanto, o intervalo de predomínio da anti-razão terminou nos Estados Unidos.

No período eleitoral, Biden prometeu restaurar o papel dos Estados Unidos como líder do mundo ocidental democrátic­o, com valorizaçã­o do multilater­alismo, da ciência, da democracia, dos direitos humanos e do meio ambiente. Basicament­e, todas as pautas políticas de Biden irão se chocar com a agenda ideológica de extrema direita da atual política externa brasileira. Na questão da destruição da Amazônia, Biden chegou a ameaçar medidas concretas de sanções econômicas contra o Brasil.

O namoro terminou. Bolsonaro se mostrou fiel até o último momento da relação. Defendeu as alegações infundadas de Trump sobre supostas fraudes nas eleições. Deslegitim­ou o próximo presidente com o qual terá de se relacionar a partir de agora. Resta ao governo brasileiro decidir se permanecer­á no caminho ideológico, o que o deixará isolado mundialmen­te, ou se retornará ao caminho da diplomacia pragmática e profission­al que sempre marcou o Itamaraty. Para isso ocorrer, o chanceler precisará ser trocado e o filho Eduardo afastado dos assuntos internacio­nais. Biden tem agenda e poder. Bolsonaro, por enquanto, tem apenas discurso em contradiçã­o com os interesses do país que governa.

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