Adeus com promessa de retorno
EUA Trump se despede da Casa Branca e diz que voltará ‘de alguma forma’; descanso será na Flórida
Se Donald Trump não cumpriu com a tradição de dar posse a seu sucessor Joe Biden, provavelmente ainda acreditando na fantasia de que a eleição de 2020 foi fraudada contra ele, o agora ex-presidente americano, ao menos, cumpriu com outra. Deixou, no Salão Oval da Casa Branca, um bilhete para seu sucessor.
O gesto surpreendeu especialistas e membros do novo gabinete. Biden confirmou em coletiva de imprensa que a carta foi “muito generosa”. O conteúdo, porém, não foi revelado.
A tradição do bilhete escrito a mão pelo presidente a seu sucessor teve início em 1989 com Ronald Reagan. Quando se preparava para deixar a residência oficial, Reagan queria deixar um recado para o então presidente eleito George H.W. Bush. Para isso, escolheu um bloco de notas com o desenho de um elefante, mascote do Partido Republicano do qual os dois eram membros, e uma frase motivacional.
“Querido George, você terá momentos em que vai querer usar este papel em particular”, escreveu Reagan. Ele disse que rezaria pelo novo presidente e que prezava “as memórias que partilhamos” E concluiu “sentirei falta dos nossos almoços às quintas-feiras Ron”.
Todos os presidentes dos EUA desde então deixaram bilhetes para seus sucessores. Normalmente as mensagens são tratadas de forma confidencial pelo governo americano, mas, com frequência, o conteúdo é publicado posteriormente por pesquisadores, pelos próprios ex-presidentes em suas memórias ou por jornalistas que obtêm acesso.
DESPEDIDA
Foi um dos últimos atos de Trump como presidente. Ao deixar a Casa Branca, ele falou rapidamente com repórteres que o aguardavam do lado de fora do edifício, segundo o G1. Ele agradeceu, disse que foi uma honra ter sido presidente e se despediu, de acordo com jornalistas que estavam lá.
Na Base Aérea Andrews, depois de deixar a Casa Branca, em Washington D.C., ele discursou pela última vez como 45º presidente dos Estados Unidos. “Nós voltaremos de alguma forma”, declarou o republicano a apoiadores. Ao lado da esposa, Melania, ele desejou “sorte” e “sucesso” ao novo governo.
“O que fizemos foi incrível para qualquer padrão. Não fomos um governo comum”, afirmou Trump, quatro anos depois de assumir o cargo.
Entre outras medidas tomadas durante o período em que foi presidente, o republicano destacou o corte de impostos corporativos realizado em 2017. “Espero que não aumentem seus impostos”, disse o republicano.
Trump ressaltou também o começo da vacinação contra a covid-19 no país e se vangloriou de a imunização ter sido desenvolvida em apenas nove meses. O republicano disse que a economia americana deve apresentar “bons números nos próximos meses e pediu: “Lembrem de nós”.
Os apoiadores que estavam na pista fizeram um coro em que diziam “obrigado, Trump”. Ele, então, respondeu: ”Sempre lutarei por vocês, eu estarei vendo, escutando. Nós amamos você”.
Quando o avião decolou, os alto-falantes da base aérea tocaram a canção My Way, na versão de Frank Sinatra, em que ele canta versos que diz “fiz do meu jeito”. Momentos antes, quando Trump e Melania caminhavam em direção à aeronave, a música que tocava no local era YMCA, do Village People.
Segundo o jornal The Wall Street Journal, o ex-presidente tem discutido com aliados a possibilidade de criar um novo partido. O republicano teria falado com diversos aliados na última semana e que gostaria de charioso mar a legenda de Patriot Party (ou Partido Patriota, em tradução literal). Esta seria uma tentativa de manter-se influente no cenário político após deixar a Casa Branca.
ELEIÇÃO E IMPEACHMENT
Joe Biden venceu Donald Trump na eleição presidencial de 3 de novembro de 2020. O democrata conquistou 306 votos no Colégio Eleitoral e o republicano, 232. Em um pleito atípico, em meio à pandemia de covid-19, o recorde de votos por correio atrasou a contagem em Estados decisivos. O resultado só saiu em 7 de novembro, quando o democrata foi declarado vitona Pensilvânia.
Trump, porém, não aceitou a derrota. O republicano recorreu aos tribunais, mas não conseguiu reverter o resultado da eleição. Sem apresentar provas, ele alegava fraude no pleito. No dia 6 de janeiro de 2021, quando o Congresso estava reunido em uma sessão conjunta para certificar a vitória de Biden, apoiadores de Trump invadiram o Capitólio para tentar impedir o processo. Depois do confronto, os extremistas foram retirados do prédio. A sessão, então, foi retomada e terminou na manhã de 7 de janeiro.
A invasão do Capitólio por seus apoiadores levou Trump a se tornar o primeiro presidente americano a sofrer impeachment duas vezes na Câmara dos Representantes. Em 13 de janeiro, o processo aberto contra o republicano por “incitação à insurreição" foi aprovado na Casa com 232 votos a favor, incluindo 10 republicanos, e 197 contra.
O segundo impeachment ainda não foi analisado pelo Senado, que rejeitou o primeiro, no começo de 2020.
FLÓRIDA
Trump retomou sua vida como cidadão comum em Mar-a-Lago, seu luxuoso clube particular na Flórida, longe do centro das atenções que se concentrava na posse de Biden como o novo presidente dos Estados Unidos.
Quando a cerimônia de seu sucessor democrata estava no auge em Washington, o bilionário chegou de carro ao seu clube em West Palm Beach, escoltado por cerca de trinta carros. Um deles, segundo a AFP, transportava o oficial militar que carregava a famosa mala com os códigos nucleares.
Voando para a Flórida pela última vez no Air Force One, o avião presidencial, ele estava acompanhado a bordo por sua esposa Melania e seu filho, Barron, além dos filhos mais velhos do magnata: Donald Jr., Ivanka e Eric.
O já ex-presidente não falou com os jornalistas durante o voo e foi recebido por centenas de apoiadores. Os fãs o acompanharam na estrada para Mar-a-Lago, agitando bandeiras dos EUA e da campanha de Trump.
Quando a procissão desacelerou, o sorriso do ex-presidente pôde ser visto ao observar as mensagens de seus seguidores: “Vitória esmagadora de Trump”, dizia o cartaz de uma mulher chorando. “Bem-vindo ao lar”, disse um dos apoiadores. “Trump 2024”, disse outro. “Nós te amamos”, gritou o grupo.
Havia também alguns cartazes pró-Biden. Um dirigido a Trump dizia: “Você está despedido, perdedor”, lembrando o slogan usado por ele quando comandava o programa O Aprendiz.
Se não tivéssemos tido a pandemia, teríamos chegado a números absolutamente inéditos. Os números eram os melhores até fevereiro do ano passado. Tivemos o impacto da pandemia, o mundo todo teve, mas reconstruímos o nível dos empregos
Ainda há o que ser feito e a primeira coisa é mostrar o respeito e amor às famílias incríveis que sofreram tanto devido ao vírus chinês, algo terrível que eles trouxeram ao mundo. Tomem muito cuidado