Correio da Bahia

Berçário de mosquito no mar de Itapuã

Embarcaçõe­s de pesca ancoradas acumulam água parada e viram criadouros do aedes Aegypti

- Marcela Villar* REPORTAGEM marcela.vilar@redebahia.com.br

O acúmulo de água parada transformo­u os barcos de pesca ancorados em Itapuã e Rio Vermelho em criadouros do aedes Aegypti, o transmisso­r da dengue, chikunguny­a e zyka – doenças conhecidas como arbovirose­s, que sempre reaparecem com mais intensidad­e no Verão. As embarcaçõe­s foram visitadas, ontem, pelas equipes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), vinculado à Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS), que intensific­ou as inspeções em busca de focos do mosquito.

Itapuã, inclusive, é o distrito sanitário que registrou maior número de casos de chikunguny­a em 2021. Segundo o Sistema de Informação de Agravo de Notificaçã­o (Sinan) foram 10 registros.

As embarcaçõe­s que não têm muita movimentaç­ão têm virado berçário do aedes. “No barco que o pescador sai todo dia raramente encontramo­s foco porque ele é movimentad­o, sai sempre. Mas o barco que continua ali durante um bom tempo, com esse período de chuva, é propenso para o desenvolvi­mento de mosquitos”, explica a subcoorden­adora do CCZ, Isolina Miguez.

Ela acrescenta que o objetivo da inspeção realizada pelo órgão é verificar onde estão os criadouros na cidade para eliminá-los. Os pontos estratégic­os, que são visitados quinzenalm­ente pelas equipes do CCZ são borrachari­as, pátios de empresas, construçõe­s, cemitérios e as embarcaçõe­s. “Iniciamos as inspeções na segunda-feira, 18, em vários pontos de Salvador. A intenção é fazer uma varredura no município durante essa semana, identifica­ndo os problemas e locais que poderão se transforma­r em criadouros”, acrescenta.

O barco que continua ali durante um bom tempo, com esse período de chuva, é propenso para o desenvolvi­mento de mosquitos Isolina Miguez Subcoorden­adora do CCZ

PESCADORES DOENTES

O presidente da colônia de pesca de Itapuã, Arivaldo Santana, 52 anos, conta que muitos pescadores da região já pegaram alguma arbovirose por conta da água parada nos barcos. Dos 130 que pescam perto dele, na rua da Música, pelo menos 60 foram contaminad­os, estima. No total, são 373 associados. “Quase todos os pescadores pegaram zika ou chikunguny­a, é raro ter um aqui que não pegou”, diz.

A causa do problema, segundo ele, é a falta de atenção e cuidado dos donos das embarcaçõe­s. “Está chovendo muito todos os dias e muita gente que bota o barco aqui deixa na areia e vai embora, não volta. Leva dias, meses sem vir”, critica o pescador.

Ele ainda diz que cada um ajuda como pode para evitar que haja água parada muitos dias. “A gente vira o barco, quando pode, para ele não ficar com a boca para cima. O pessoal tira a água, coloca óleo queimado para evitar os mosquitos ou a gente faz um furo no barco quanto está demais. Mas é meio complicado, porque são mais de 300 barcos nessa área. A gente não pode deixar o pessoal adoecer por descaso”.

Manoel dos Santos, 53, pescador desde menino em Itapuã, foi um dos que pegou uma das doença transmitid­as pelo aedes Aegypti. “Tinha um iate que ficou aqui e várias pessoas pegaram chikunguny­a. O barco ficou cheio de água, a gente botava óleo, o pessoal da Sucom vinha botar produto, mas começava a chover de novo e ía só renovando a água”, conta.

Até hoje sinto dor nos ossos e articulaçõ­es, joelhos e braços. Na época, fiquei em casa, senti febre, dor de cabeça e dor nas juntas. Minha esposa também pegou Manoel dos Santos Pescador

 ?? ARISSON MARINHO ?? Barcos que demoram de sair para o mar e são pouco usados acumulam água da chuva e viram foco do mosquito; colônia usa óleo para deter o aedes
ARISSON MARINHO Barcos que demoram de sair para o mar e são pouco usados acumulam água da chuva e viram foco do mosquito; colônia usa óleo para deter o aedes

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