Berçário de mosquito no mar de Itapuã
Embarcações de pesca ancoradas acumulam água parada e viram criadouros do aedes Aegypti
O acúmulo de água parada transformou os barcos de pesca ancorados em Itapuã e Rio Vermelho em criadouros do aedes Aegypti, o transmissor da dengue, chikungunya e zyka – doenças conhecidas como arboviroses, que sempre reaparecem com mais intensidade no Verão. As embarcações foram visitadas, ontem, pelas equipes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), vinculado à Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS), que intensificou as inspeções em busca de focos do mosquito.
Itapuã, inclusive, é o distrito sanitário que registrou maior número de casos de chikungunya em 2021. Segundo o Sistema de Informação de Agravo de Notificação (Sinan) foram 10 registros.
As embarcações que não têm muita movimentação têm virado berçário do aedes. “No barco que o pescador sai todo dia raramente encontramos foco porque ele é movimentado, sai sempre. Mas o barco que continua ali durante um bom tempo, com esse período de chuva, é propenso para o desenvolvimento de mosquitos”, explica a subcoordenadora do CCZ, Isolina Miguez.
Ela acrescenta que o objetivo da inspeção realizada pelo órgão é verificar onde estão os criadouros na cidade para eliminá-los. Os pontos estratégicos, que são visitados quinzenalmente pelas equipes do CCZ são borracharias, pátios de empresas, construções, cemitérios e as embarcações. “Iniciamos as inspeções na segunda-feira, 18, em vários pontos de Salvador. A intenção é fazer uma varredura no município durante essa semana, identificando os problemas e locais que poderão se transformar em criadouros”, acrescenta.
O barco que continua ali durante um bom tempo, com esse período de chuva, é propenso para o desenvolvimento de mosquitos Isolina Miguez Subcoordenadora do CCZ
PESCADORES DOENTES
O presidente da colônia de pesca de Itapuã, Arivaldo Santana, 52 anos, conta que muitos pescadores da região já pegaram alguma arbovirose por conta da água parada nos barcos. Dos 130 que pescam perto dele, na rua da Música, pelo menos 60 foram contaminados, estima. No total, são 373 associados. “Quase todos os pescadores pegaram zika ou chikungunya, é raro ter um aqui que não pegou”, diz.
A causa do problema, segundo ele, é a falta de atenção e cuidado dos donos das embarcações. “Está chovendo muito todos os dias e muita gente que bota o barco aqui deixa na areia e vai embora, não volta. Leva dias, meses sem vir”, critica o pescador.
Ele ainda diz que cada um ajuda como pode para evitar que haja água parada muitos dias. “A gente vira o barco, quando pode, para ele não ficar com a boca para cima. O pessoal tira a água, coloca óleo queimado para evitar os mosquitos ou a gente faz um furo no barco quanto está demais. Mas é meio complicado, porque são mais de 300 barcos nessa área. A gente não pode deixar o pessoal adoecer por descaso”.
Manoel dos Santos, 53, pescador desde menino em Itapuã, foi um dos que pegou uma das doença transmitidas pelo aedes Aegypti. “Tinha um iate que ficou aqui e várias pessoas pegaram chikungunya. O barco ficou cheio de água, a gente botava óleo, o pessoal da Sucom vinha botar produto, mas começava a chover de novo e ía só renovando a água”, conta.
Até hoje sinto dor nos ossos e articulações, joelhos e braços. Na época, fiquei em casa, senti febre, dor de cabeça e dor nas juntas. Minha esposa também pegou Manoel dos Santos Pescador