Correio da Bahia

Cinema baiano em território mineiro

Festival Longas Rosa Tirana, Açucena e Eu, Empresa estão na mostra principal do evento online

- Roberto Midlej REPORTAGEM roberto.midlej@redebahia.com.br

Mais um festival de cinema ganha versão digital, em razão da pandemia: começa amanhã, às 20h, a Mostra de Cinema Tiradentes, que chega à 24ª edição. E os baianos têm muito a celebrar: na Mostra Aurora, que integra o evento mineiro, há duas produções locais concorrend­o entre as sete indicadas: Açucena, de Isaac Donato, e Rosa Tirana, de Rogério Sagui. Além disso, há um longa-metragem com produção dividida entre Minas Gerais e Bahia: Eu, Empresa, de Leon Sampaio e Marcus Curvelo. Toda a programaçã­o estará disponível gratuitame­nte no site mostratira­dentes.com.br.

A Mostra Aurora é uma das mais esperadas do festival, já que reúne cineastas ainda em início de carreira, que estejam realizando no máximo seu terceiro longa-metragem. Além disso, as produções desta seção devem ser inéditas no circuito de festivais.

O cineasta Isaac Donato, 43 anos, celebra seu retorno ao evento: “Participei em 2007 com um curta-metragem, Visita Íntima: Revista Corporal. Para participar da Tiradentes, é preciso ter uma certa relevância e fico feliz com esta volta depois de 13 anos”, conta.

Açucena, o longa do diretor, está oficialmen­te classifica­do como documentár­io, mas Isaac acredita que se trata de um híbrido entre documentár­io e suspense. O filme mostra uma mulher de 67 anos que todos os anos comemora seu sétimo aniversári­o.

A personagem real é uma moradora da Região Metropolit­ana de Salvador e Isaac conheceu a história dela através de Marília Cunha, que divide o roteiro com ele. Marília, que também é coprodutor­a de Açucena, estava desenvolve­ndo um projeto audiovisua­l voltado para questões da mulher e de patrimônio imaterial quando conheceu a história da protagonis­ta.

“É uma história muito marcada pela invenção do tempo e isso nos chamou a atenção porque esse é um tempo de volta ao passado, um tempo de se rememorar a infância e de se resgatar a boa convivênci­a”, diz Isaac. A festa segue os desejos de uma menina de sete anos, com direito à presença das amigas - também sexagenári­as - que levam bonecas de presente para a aniversari­an

O paraibano José Dumont tem 70 anos de idade e estreou no cinema em 1977, nos filmes Morte e Vida Severina e Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia. Já realizou mais de 90 filmes, novelas ou séries. Atuou na primeira temporada da série Segunda Chamada e está no elenco da próxima novela das seis, Nos Tempos do Imperador, que teve as gravações interrromp­idas por causa da pandemia. Nesta conversa com o CORREIO, Dumont fala sobre Rosa Tirana, em que ele interpreta o avô da protagonis­ta, uma menina que sai pelo sertão em busca de Nossa Senhora.

Você é um ator já consagrado, mas aceitou ir ao sertão para trabalhar num filme de baixíssimo orçamento, de um cineasta estreante. O que o atraiu no papel? Rogério [Sagui, o diretor], através de uma amiga, mandou o roteiro para uma sobrinha minha e ela mandou pra mim. Ela me disse 'gostei tanto desse rapaz'. Aí, eu liguei pra ele e conversamo­s. Vi poesia naquela história, que tem a beleza do cordel. Mas não é aquela coisa do folclore pelo folclore. Rogério dá tratamento poético que reflete a maneira dele ser e de existir. Acabamos ficando amigos e conversamo­s sobre muitas coisas.

Como foi contracena­r com Kiara Rocha, que interpreta sua neta?

Rogério não escolheu Kiara à toa. É uma belíssima atriz, linda de morrer, um talento enorme. Ele olhou para ela e viu: “é a Rosa!”. Kiara personific­a a dor da personagem, é tudo sob o olhar dela. Se você observar, Rosa não dá uma passo atrás, né? Ela vai sempre em frente. Então você recupera toda a mitologia que nós tínhamos desde Maria Bonita. Além disso, o caminho da fé está dentro dela.

Muita gente trabalhou como voluntária no filme. O que achou disso?

Todos que foram trabalhar lá, foram pela amizade, foram por Rogério e aí devemos ao povo de Poções, que foi de uma gratidão enorme ao fazer esse filme. As pessoas sabiam que não havia dinheiro, que havia poucas condiçoes. Mas mesmo assim, quando havia uma emergência, as pessoas davam um jeito.

Você se envolveu no filme e acabou convidando Elba Ramalho para cantar a trilha, não foi?

Cheguei a Elba através de

Prefiro fazer papéis fortes - mesmo que sejam parecidos um com o outro a fazer outros que as pessoas vão logo esquecer

José Dumont minha advogada, que a conhece. E já havia trabalhado com Elba em Morte e Vida Severina. Elba também carrega o sertão dentro dela, como todos no filme.

Você é um ator muito experiente, com mais de 90 trabalhos entre TV e cinema. Mas não acha que oferecem a você papéis meio parecidos um com o outro, meio “estereotip­ados”? Gostaria de diversific­ar mais os tipos que interpreta?

Mas eu sempre quis fazer esses personagen­s, também por causa da minha origem. Fiz A Hora da Estrela, Narradores de Javé. Mas são bem diferentes. Agora, estou fazendo a novela das seis, Nos Tempos do Imperador, sobre o período mais rico da história do país. Eu faço um coronel do Recôncavo baiano e acho que faço bem. Mas a representa­ção pela representa­ção não me interessa. Mas pela minha figura a sociedade me vê assim. O cinema me vê assim. Eu sou o tipo de pessoa do sertão. E os personagen­s que eu faço têm uma história muito rica. Os personagen­s do povo têm uma história rica. Vim para dizer coisas que considero necessária­s. Pra mim, é importante que as pessoas gostem. Esse é o maior presente que posso ter. Prefiro fazer papéis fortes - mesmo que sejam parecidos um com o outro - a fazer outros que as pessoas vão logo esquecer . Eu podia falar bonito como outros atores falam, mas isso não me interessa. Em Curral, eu faço um prefeito poderoso.

ator

Iluminação O projeto IluMina!, realizado pela Dimenti Produções, oferece 60 vagas gratuitas para oficina de luz para cena, coordenada pelas iluminador­as Milena Pitombo,

Maria Carla e Larissa Lacerda. As vagas são apenas para mulheres. Inscrições em tinyurl. com/oficinailu­mina, até o dia 29. As aulas acontecem, online, de 2 a 20 de fevereiro.

Rap O projeto Misture-se abre inscrições para oficinas gratuitas e online de literatura, rap e audiovisua­l, que acontecem em fevereiro e março. As inscrições estão abertas até o dia 26 de janeiro e têm como objetivo a produção de músicas e videoclipe­s de rap com influência­s nordestina­s do cordel e do repente. Inscrição em linktr.ee/misturese.

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DIVULGAÇÃO José Dumont passou uma semana em Poções para gravar Rosa Tirana, que teve orçamento de apenas R$ 50 mil
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JOÃO MIGUEL JÚNIOR/GLOBO

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