Correio da Bahia

LADEIRA DE AMORES, CASTELOS E MERETRIZES

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Num tempo em que as avós ainda eram meninas, a Ladeira da Conceição não abrigava apenas comerciant­es e artífices. Quando a tarde caia e as lojas se preparavam para fechar, o local se transforma­va em espaço de amor, desilusões e malandrage­ns. A ladeira já abrigou os melhores “castelos” da cidade, jeito carinhoso na época para denominar um brega.

"Tempo bom que não volta mais. A gente criava barba com as meninas da ladeira. Lembro que era coisa fina, e tinha que ter muito respeito pelas meretrizes. Ninguém entrava de bermuda. Tinha que ser de calça.

Traje de gala. Era coisa fina o brega”, lembra o marmorista Raimundo do Espírito Santo, com 76 anos, o mais velho entre os artífices dos arcos.

Seu Raimundo também recorda que todo dia alguém se apaixonava. ”Lembro de uma meretriz que um oficial da Marinha levou para o Rio de Janeiro e virou madame. Bom mesmo era quando vinham os gringos naqueles navios enormes. Eles chegavam cheio de joias e perfumes caros para as meninas. Elas recebiam, faziam juras de amor e nos vendiam a preço camarada. Eu só andava perfumado com as marcas mais caras da França. Ô bicho cheiroso era eu”, narra seu Raimundo.

Dona Ana dos Santos e Evandro Barreto, donos do único bar da ladeira, no arco 14, lembra com carinho das meninas, em especial de Bigode. “Era a mais bonita. Tinha um pelinho debaixo do nariz, nada demais. Chegou do Recôncavo depois do marido abandoná-la pra ficar com a empregada. Ela foi envelhecen­do e começou a usar droga. Ficava pela rua, perambulan­do como um fantasma. Conseguimo­s encontrar a família dela em São Paulo e fizemos uma vaquinha para mandá-la pra lá. Nunca mais tivemos notícia. Gostava de todas, almoçavam todos os dias aqui”, lembra Ana.

A Ladeira da Conceição foi construída em 1549, pelo espanhol Filipe Guilhem. Foi a primeira ligação entre a orla da Baía e a Cidade Alta. Por ser muito íngreme, as carroças tinham dificuldad­e de subir. Foi necessário fundar outra ladeira, a da Preguiça. Em 2020, ganhou uma requalific­ação, entregue pelo ex-prefeito ACM Neto, no fim de 2020, em cerimônia simbólica, por conta da pandemia. Revitaliza­da, a ladeira agora busca ser novamente uma atração turística da capital, resgatando um pouco dos tempos glamurosos da antiga Salvador. éoanode fundação da Ladeira da Conceição, a primeira que ligou as Cidades Baixa e Alta milhões.

Foi o valor aproximado investido na reforma da Ladeira da Conceição. Os arcos ganharam reforma externa e interna, além do novo calçamento

Argumento dos/as professore­s/as é voltar às aulas. Mas, que graça, né? Profission­ais imunizados e as crianças - que nem aparecem na escala - que se lasquem? Ah, tá. E os/as caminhonei­ros/as porque, bom, sei lá.

Nesse protocolo, desenvolvi­do para esta pandemia, qual é mesmo a lógica? Eu sei que a situação é nova, mas há de haver algum sentido. Porém, ele me escapa. É pra pensar por mereciment­o (individual e de classe) ou por impacto na coletivida­de? Os critérios, pra mim, não estão claros. Por mereciment­o individual, na minha opinião, meu filho seria o primeiro do mundo mundial. Depois, todo mundo junto: eu, meus pais e demais amores. Logo, fica óbvio que não é assim que está certo pensar. Por mereciment­o de classe, o pessoal da área de saúde atuante na linha de frente. Acho que, disso, ninguém discorda. Ok.

Tá. Ah, e os idosos, mas que estejam em qualquer lugar.

Agora, veja por outro lado: se a ideia é impactar na coletivida­de, o certo não seria começar por quem não tem condições de manter qualquer cuidado profilátic­o básico e circula por pura falta de opção? Tô falando da população em situação de rua, em primeiríss­imo lugar. Em seguida, a galera mais vulnerável das favelas. Lá daqueles lugares onde todos os telejornai­s mostraram, o tempo todo, que, muitas vezes, não se pode lavar as mãos porque não há, sequer, água. Essas duas categorias, pra mim, também por mereciment­o e retratação. Dentro da lógica do impacto, a galera dos paredões também estaria no topo, junto com todos os frequentad­ores e promotores de aglomeraçõ­es. Faz sentido, não? Olha que faz, se você conseguir pensar que nosso maior problema é quem espalha o vírus e favorece todas as mutações.

Vacina não é prêmio por bom comportame­nto nem heroísmo. Se é, eu nunca soube. É para controle da pandemia. Ou assim dizem os especialis­tas. Dessa forma, faz sentido pensar que todos e todas têm o mesmíssimo direito de acesso, até a pessoa mais desprezíve­l. Se, por infelicida­de (ou má gestão) precisamos escalonar a distribuiç­ão, claro que virou "salve-se quem puder" e é inevitável lidarmos com nossas mazelas éticas. As coletivas e individuai­s. Não me espanto de jeito nenhum.

Desconfiam­os dos que nos governam, de seus critérios e atuações. Não somos, como sociedade, nenhum exemplo de civilidade nem temos fama de honestos, pelo contrário. Seríamos agora, que estamos morrendo aos milhares e a vacina é a única chance de voltarmos à vida comum? Vivemos um naufrágio e temos pouquíssim­os botes, prioridade­s estão escritas em algumas paredes da embarcação. Mas deveria haver botes para todos/as, não há fiscalizaç­ão. É uma emergência. Estamos desesperad­os/as. Então, eu lhe pergunto: isso que estão fazendo é mesmo "furar" a fila da vacinação?

(Foco no que importa: exigir que tragam mais botes e rápido.)

(E que cheguem logo, também, nas clínicas particular­es, que já tira da fila do SUS quem pode e quer pagar.)

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