Correio da Bahia

Tem mesmo como furar a fila da vacinação?

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Eu não me exponho ao ridículo de fazer cara de espanto com nenhuma notícia de que "o prefeito se vacinou", que o outro "nomeou as filhas para que fossem vacinadas" nem com qualquer dessas furações de fila que vem sendo anunciadas. Estaria pasma só se não conhecesse o povo que escondia o carro na esquina pra vir mentir, me pedir cesta básica, disputando comida com quem, de fato, precisava. Estive secretária de ação social de uma pequena cidade do Recôncavo baiano e essa experiênci­a me ensinou muito sobre a nossa alma. Sou grata. E zero romântica, claro. Esse é um lado da questão.

Com raríssimas exceções, vão furar a fila todos e todas que tiverem oportunida­de. A não ser que haja plateia e que dizer "pude furar, mas não furei" interesse mais do que a imunização. Uns vão furar porque precisam levar vantagem até na fila do pão. Piores tipos, conhecemos demais. Outros, porque, sabendo que a fila já está furada, não acham sentido em respeitar o que, desde o início, já está desarrumad­o. Há também quem discorde (e decida desobedece­r) das fases de vacinação com argumentos interessan­tes, inclusive. Já ouvi alguns.

"Por que priorizar idosos de abrigos, se eles não saem de lá? Nessa primeira fase, vacinava só os funcionári­os e era melhor priorizar os idosos que estão em casa", foi um argumento que me balançou. Minha amiga, que é delegada, fala, com indignação, dos policiais que estão nas ruas, mas lá no final da fila, junto com a população carcerária. Também me fez pensar. E agora é pra incluir caminhonei­ros/as ou professore­s/as?

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