Correio da Bahia

Presença baiana no festival de Sundance

Cinema A atriz Luciana Souza protagoniz­a curta que será exibido online e fala sobre homofobia

- Roberto Midlej REPORTAGEM roberto.midlej@redebahia.com.br

Em 2019, ela apareceu nas telas de Cannes. Agora, seu rosto estará em outro importantí­ssimo festival internacio­nal, o americano Sundance. A baiana Luciana Souza, 58 anos, é a protagonis­ta de Inabitável, curta-metragem que já rendeu a ela o prêmio de melhor atriz da categoria em Gramado.

A produção pernambuca­na, dirigida por Matheus Farias e Enock Carvalho, estará disponível no site festival. sundance.org a partir de amanhã, até o encerramen­to da mostra, dia 3. Luciana interpreta Marilene, que procura por sua filha trans (Eduarda Lemos), que desaparece­u depois de ter ido a uma festa. Fica a tensão: será que ela está viva?. E começa a peregrinaç­ão, incluindo uma visita ao Instituto Médico Legal, onde ela vai reconhecer um corpo que pode ser o da filha.

“O filme dá voz a essas ‘minorias’ e o filme envolve questão raciais, sociais, de homofobia... tudo dentro nesse pacote. Temos um histórico de invisibili­dade diante dessas minorias, um descaso, uma negação à vida dessas pessoas”, afirma a atriz.

Luciana vê uma certa identifica­ção entre ela mesma e sua personagem: “Minha trajetória me coloca diante de questões sociais e é difícil ignorar isso. Sou professora de escola pública e estou nesse front, nessas comunidade­s, vivencio realidades como aquela do filme. E aquilo não está distante de mim”.

O convívio com arte e cultura começou em casa, onde era incentivad­a a recitar poemas. “A cultura fazia parte de nossa educação. Lembro bem de minha mãe cantando enquanto realizava seus afazeres. E a reza de Santo Antônio também me marcou”.

Os primeiros contatos de Luciana com o teatro acontecera­m na Companhia de Teatro Popular, com Luís Bandeira. Mas foi em 1990, quando participou da fundação do Bando de Teatro Olodum, que ela ensaiou seus primeiros passos profission­ais.

O BANDO

Ela reconhece a importânci­a do grupo para a sua formação artística e destaca que a experiênci­a foi fundamenta­l para se aprofundar na cultura afrobrasil­eira: “O Bando pesquisava diversos elementos afros: a dança, o modo de representa­r, o modo de falar... além disso, tinha as histórias do Pelourinho e as músicas do Grupo Cultural Olodum. Aquele conteúdo nos fortalecia e garantia a identidade”.

O primeiro espetáculo encenado foi Essa é a Nossa Praia, que deu início à Trilogia do Pelô, complement­ada por Ó Paí, Ó (1992) e Bai Bai Pelô (1994). Ó Paí Ó chegou aos cinemas em 2007 e deu projeção nacional a Luciana. Em 2008, quando virou série de TV, o reconhecim­ento foi ainda maior. Ela interpreta­va Joana, uma evangélica que ganhou bastante destaque. “Ó Paí, Ó trazia muitas questões que a comunidade do Pelourinho vivia e também a questão da morte de crianças e jovens”.

Em Bacurau, Luciana viveu Isa. A atriz foi a Cannes acompanhar a estreia do filme e admite que ficou apreensiva na ocasião. “Em muitos momentos, eu perguntava se era mesmo verdade que estava ali”, recorda. O trabalho com Sônia Braga, descreve, foi uma “experiênci­a encantador­a”. Destaca ainda a experiênci­a de trabalhar no filme com Lia de Itamaracá, cantora e compositor­a pernambuca­na que, para Luciana, é uma referência cultural de Recife.

Além de trabalhar como atriz, Luciana dedica-se ao ensino de artes na escola da rede estadual Vila Vicentina, na Lapinha. Já deu aula em diversas escolas da Liberdade. Também se dedica à EnCompanhi­a de Interesse Popular, que pesquisa manifestaç­ões culturais afrobrasil­eiras e indígenas. “Trabalhamo­s com cultura popular, teatro, dança e música em instituiçõ­es onde vivem menores em situação de infração”, resume.

Mimus Mostra O Teatro Gamboa retoma, de hoje a domingo, a Mimus Mostra, com transmissã­o ao vivo no YouTube do teatro. Hoje e amanhã, às 17h, acontece a oficina Mímica Corporal Dramática, com os atores e diretores Deborah Moreira e George Mascarenha­s. Deborah volta à cena, às 19h, com o solo Refazendo Salomé, que apresenta uma nova versão para a história de Salomé. Na sexta (19h), a cantora Guia Moira apresenta o show Natural. E no sábado (19h) e domingo (17h), a atriz

Ana Paula Bouzas encena o texto Inferno, com direção de Fábio Espírito Santo. Ingressos: R$ 20 | R$ 10, à venda em www.teatrogamb­oaonline.com.br.

 ?? GUSTAVO PESSOA/DIVULGAÇÃO ??
GUSTAVO PESSOA/DIVULGAÇÃO
 ?? TARSO FIGUEIRA/GLOBO ??
TARSO FIGUEIRA/GLOBO
 ?? SORA MAIA ?? Deborah Moreira em Salomé
SORA MAIA Deborah Moreira em Salomé

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil