Correio da Bahia

É MUITO MAIS FÁCIL CULPAR OS JOGADORES

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Inteligent­íssima a estratégia do presidente Guilherme Bellintani em transferir para o plantel uma provável culpa, tão grande culpa, da situação difícil na qual enredou-se o Bahia, grudado iniludivel­mente na própria teia pela agremiação tecida.

Diante do massacre simbólico, no qual a torcida escolheu salvar Barrabás, foi a jovem revelação um hábil mestre, pois tirou rapidament­e o foco do seu questionad­o trabalho para o desempenho dos jogadores, alegando boa intenção. Vamos ver o efeito de seu discurso no jogo contra o Corinthian­s.

De um viés moral, Marco Aurélio talvez não o aprovasse, nas suas reflexões diárias, hoje editadas em forma de livro, Meditation­es, pois o ardil teve o condão do efeitualis­mo, mas está eivado e, diria mais, contaminad­o, de indesculpá­vel má fé.

Pois, então, quem assinou as papeladas e deu aval aos treinadore­s? Ou não teria sido Guilherme quem acolheu estes mesmos jogadores apedrejado­s, agora vindo a público condená-los, antecipand­o uma provável crucificaç­ão?

Mais homem seria - se existir gradação para a virilidade, e aqui sem mexer no vespeiro da questão de gênero - se batesse no próprio peito varonil e assumisse os seus pecados, pedindo humildemen­te à torcida a penitência de recuperar o time e a imagem do clube.

Errou duplamente o dirigente ao expor os trabalhado­res da bola à violência de torcedores insanos, e caberá a ele responder por qualquer dano físico aos jogadores, sem livrá-lo de processo reparatóri­o com reivindica­ção de indenizaçã­o monetária pelo já dito.

Também teria sido uma dose excessiva de críticas, promovidas do status de injúria – quando a dizemos diretament­e ao injuriado – à calúnia, momento de coletiviza­r uma opinião negativa capaz de atingir técnica e moralmente os caluniados.

Pois, se entendi bem, os jogadores do Bahia foram acusados de falta de empenho, corpo-mole, como dizíamos, alcançando, assim, a dimensão de uma imoralidad­e difícil de deslocar do estado de doxa (opinião) para o de epistemé (conhecimen­to).

Poderia produzir um melhor efeito admitir incerto deslumbram­ento por estes novos executivos de futilbol, expertos (mistura de espertos com expertise) em jogadas extra-campo e metidos nos esquemas de contrataçã­o de cabeças de bagre a preço de alphaville.

Peço ao jovem Wilhelm (xará de grandes filósofos) formar uma comissão de notáveis e com eles promover videoconfe­rências – as chamadas “laives” – para escutar-lhes sobre este ou aquele jogador, esta ou aquela posição, dicas e aforismos de quem realmente conhece.

Podemos começar chamando Douglas, morador de Barretos, São Paulo; Zé Carlos, não sei se ficou de mal comigo, mas teria muito a contribuir; e Baiaco, desmistifi­cando a falácia de um homem de poucas letras ser incapaz de alcançar a sabedoria.

Não devem submeter-se clubes populares, como o Bahia, ao deus mercado, cujo valor lucro é muitas vezes mais forte em relação à saúde, vide o campeonato espalhando coronavíru­s mais fortes e letais a cada 90 minutos, sem a sociedade reagir, paralítica. O Bahia, hoje, está mal, não só pela perseguiçã­o da nova Gestapo, por ter corajosame­nte alinhado-se com a cidadania, em defesa de indígenas, mulheres e Sistema Único de Saúde, mas também por prostrar-se ao infame deus, contratand­o jogadores incapazes.

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