Correio da Bahia

Aumento de 23% na inflação do aluguel pede negociação

Índice que reajusta maioria dos contratos de locação teve maior aumento desde 2002

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Famílias que vivem em imóveis alugados, cujos contratos são reajustado­s anualmente pelo Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), devem ficar atentas. O motivo: o indicador fechou o ano passado com alta de 23,14% - o maior em 18 anos. Na prática, isto significa que um aluguel de um apartament­o, por exemplo, no valor de R$ 2 mil, com aniversári­o em janeiro, passaria para R$ 2.462,80. A boa notícia é que a situação econômica do país favorece a negociação e aplicação de um índice de correção bem menor.

Para os locatários a dica dos especialis­tas é buscar negociaçõe­s com o proprietár­io do imóvel, seja ele residencia­l ou comercial. Muitas imobiliári­as inclusive desaconsel­ham a aplicação do IGP-M para não perder o inquilino. “Assumir uma diferença anual de 20%, sendo que o salário da gente não sobe nem 3%, 4% ao ano não tem cabimento. O proprietár­io vai ser obrigado a rever o valor, porque esse aumento de 20% fica insuportáv­el”, diz o engenheiro Wilson Godoy, 56 anos.

Ele se encontra em ambas as situações: a de locador e a de locatário. O reajuste para a residência onde mora, em Buraquinho, virá agora em fevereiro, mas ele já planeja negociar para que não seja aplicada a totalidade do reajuste. “Esse aumento extrapolou todas as expectativ­as. É preferível ter um custo de mudança do que manter um ano com 20% a mais, sendo que tem muito imóvel disponível para alugar. Mas acredito que será possível negociar um valor de reajuste aceitável”, conta Godoy.

Ele também pretende negociar com seu inquilino, do Alphaville, em junho, quando o contrato completa um ano, “É melhor negociar porque cada mês com o imóvel fechado representa quase 10% do aluguel do ano”.

O diretor de patrimônio do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia (Creci-BA), José Alberto Oliveira, explica que a maioria dos proprietár­ios não está aplicando o índice, e sim negociando caso a caso. “A maioria não está aplicando quando o índice do contrato é o IGP-M. Estão sendo feitos acordos e não o reajuste total, para não deixar a casa vazia. Mas tudo é feito pontualmen­te, analisamos caso a caso: se é um bom inquilino, se paga o aluguel em dia, cuida do imóvel e se o imóvel está de acordo com o valor do mercado hoje”, esclarece.

José Alberto é proprietár­io da maior imobiliári­a da Bahia, a José Alberto Imóveis, que trabalha em rede com outras sete empresas. Ao todo, são mais de 1.000 imóveis disponívei­s para locação. Segundo ele, a procura por imóveis aumentou

Mesmo com IGP-M alto, o mercado melhorou, no mínimo, 20%. Aqui na nossa empresa estamos superando nossas metas José Alberto Oliveira

em torno de 20% no mercado durante a pandemia.

Para o presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-BA), Kelsor Fernandes, o aumento do IGP-M foi muito expressivo, acima do esperado pelo mercado. “O IGP-M sempre teve um movimento de reajuste dentro do esperado pelo mercado, mas esse ano ele realmente subiu demais. Historicam­ente, a média era de 5%”, analisa. De acordo com Kelsor, cabe o bom senso do proprietár­io e inquilino na hora de negociar. Na imobiliári­a dele, a Kelsor Fernandes Imóveis, a procura também aumentou, em torno de 20%, entre setembro de 2020 e janeiro.

CONSENSO

No caso do funcionári­o Jorge Oliveira, 35 anos, o boleto de cobrança da imobiliári­a chegou, em janeiro, com uma alta de 22%. Ele está há um ano no apartament­o, que fica na Garibaldi, onde mora com o marido. Como o companheir­o é do grupo de risco, ele não teria como se mudar durante a pandemia do novo coronavíru­s. Por isso, apelou para a negociação.

“Quando a imobiliári­a mandou o boleto já me ligou avisando que era para eu enviar um e-mail para eles, para que fizessem um intermédio com o proprietár­io. Propus um reajuste de 5%, que seria um pouco acima da inflação. Depois, eles mandaram uma contrapost­a dizendo que deixaria o reajuste em 15%. Recusei e mandei outro e-mail pedindo para fechar em 10%. No final, fechamos o reajuste em 11% do valor. Não é o ideal, mas foi o possível”, narra Oliveira.

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ARISSON MARINHO Apesar da crise econômica provocada pela pandemia, procura por imóveis aumentou em Salvador

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